Pesquisadores da Ufal contribuem para implantação da fitoterapia na rede pública de saúde de Maceió

27/04/2012 20:02 - Saúde
Por Redação

A partir de 2006, a utilização de plantas medicinais no tratamento de algumas doenças foi oficialmente incluída no programa de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a fitoterapia fazendo parte da política nacional de práticas integrativas e complementares, novas demandas de pesquisa foram colocadas para os farmacêuticos e demais profissionais da área. Tornou-se necessário levantar quais as plantas mais utilizadas pela população e comprovar a eficiência das mesmas, partindo da prática popular para o conhecimento científico.

Na Ufal, o grupo de Estudos em Plantas Medicinais (Geplam) realiza pesquisas importantes nesta área. O núcleo multidisciplinar é formado por pesquisadores que trabalham com espécies vegetais medicinais, utilizadas em Alagoas. “O objetivo é identificar necessidades de intervenção com população usuária de plantas medicinais e fitoterapia. Percebemos que, apesar de ser um conhecimento que faz parte da sabedoria popular, algumas plantas medicinais são utilizadas de forma incorreta ou sem comprovação científica. O erro está no preparo ou na parte da planta utilizada”, informa a professora Sâmia Silva, uma das coordenadoras do Geplam.

O grupo se dedica a três linhas de pesquisa: Avaliação Farmacológica e Toxicológica de Plantas Medicinais do Estado de Alagoas, Conhecimentos Tradicionais, Populares e Biodiversidade em Alagoas e Fitoterapia. Os estudos são coordenados pelas professoras Sâmia Silva e Êurica Adélia Nogueira Ribeiro, pesquisadoras doutoras da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar). Além de desenvolver os estudos farmacológicos e contribuir com a implantação da fitoterapia no SUS em Alagoas, o grupo tem interesse em orientar a população a utilizar de forma correta as plantas medicinais.

Os alunos ligados ao grupo de pesquisa desenvolveram estudos relacionados ao projeto “Fitoterapia: quais as ações necessárias junto aos profissionais de saúde e usuários do sistema para sua consolidação no SUS?”, que foram financiados com recursos do Ministério da Saúde e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). Além da coordenação da professora Sâmia, o projeto contou com a colaboração da pesquisadora Sabrina Joany Felizardo Neves, também doutora do curso de Farmácia da Ufal.

As pesquisas foram desenvolvidas em quatro unidades básicas de saúde do 6º Distrito Sanitário de Maceió, que fica no Benedito Bentes. As atividades foram realizadas no Posto de Saúde do Conjunto Frei Damião, no CAIC Benedito Bentes, na Unidade Básica de Saúde do Conjunto Freitas Neto e na Unidade de Saúde do Conjunto Selma Bandeira. “Nosso principal objetivo foi identificar as necessidades de intervenção junto aos atores envolvidos na utilização de plantas medicinais e fitoterapia para a promoção do uso correto e racional de plantas medicinais e fitoterápicos”, explica a professora Sâmia.

Fitoterapia nos postos de saúde

O trabalho “Conhecimentos e práticas em fitoterapia: um estudo realizado com prescritores da Estratégia de Saúde da Família do VI Distrito Sanitário, Maceió, AL” foi apresentado no 21º Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil, em João Pessoa-PB, em 2010. “Neste trabalho apontamos a necessidade de capacitação dos atores relacionados à prescrição e indicação de fitoterápicos e plantas medicinais, que é compreensível, uma vez que os cursos de medicina e odontologia ainda não estão oferecendo conteúdos sobre plantas medicinais e fitoterapia, no estado de Alagoas. Entretanto, o resultado mais animador desta pesquisa é o fato de termos identificado uma boa aceitação, por parte destes atores, à fitoterapia”, destaca Sâmia.

Nesta pesquisa, os alunos orientados pelas professoras Sabrina Joany e SâmiaAndrícia S. da Silva, avaliaram a importância de um estudo adequado para a inclusão da fitoterapia no SUS. “É preciso alertar a população para o fato de que as plantas medicinais e os remédios caseiros preparados com elas não são isentos de efeitos colaterais. Os fitoterápicos contêm substâncias químicas que não estão isentas de provocar reações adversas e interações entre constituintes químicos presentes em outras plantas, alimentos ou medicamentos sintéticos, por isso é preciso o acompanhamento médico, iniciado pela prescrição, para não acarretar problemas graves à saúde do usuário”, alerta a pesquisadora.

Diante dessa preocupação, os alunos se propuseram a identificar os conhecimentos e atitudes dos profissionais que prescrevem fitoterápicos na Estratégia Saúde da Família de Maceió do VI Distrito Sanitário. O levantamento foi feito com médicos e odontólogos das unidades e a amostra resultante foi composta por 11 prescritores. Os alunos observaram que, apesar de formação média de 16 anos e de atuação de pelo menos seis anos no PSF, os prescritores ainda desconheciam a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Mesmo assim, esses profissionais demonstraram abertura em oferecer a fitoterapia como tratamento complementar. A maioria (81,8%) dos médicos e dentistas que atua neste distrito demonstra acreditar na eficácia dos fitoterápicos.

Os pesquisadores constataram ainda que os médicos e odontólogos gostariam de contar com pesquisas mais aprofundadas sobre o potencial das plantas medicinais efitoterápicos, para se sentirem mais seguros em substituir os medicamentos sintéticos pelas plantas medicinais em alguns tratamentos. Ainda sem este embasamento, metade dos profissionais entrevistados revelou que já indica o uso de plantas medicinaisaos pacientes

Eles também revelaram a preocupação em manter um acompanhamento médico dessas prescrições, para não causar problemas de saúde aos pacientes. Os estudantes concluíram, então, que não haverá resistência por parte dos profissionais de saúde na implantação da fitoterapia no VI Distrito Sanitário de Maceió e que eles estão abertos à uma proposta de capacitação para prescrever plantas medicinais.

Levantamento das plantas medicinais

Um outro grupo de estudantes fez um levantamento, nos mesmos postos de saúde da região do Benedito Bentes, para saber quais são as plantas medicinais já conhecidas e utilizadas no SUS. A intenção foi colaborar com a criação de uma lista com espécies vegetais que devem ser melhor estudadas para que sejam recomendadas e distribuídas no Sistema Único de Saúde. “Pretendemos criar um horto matriz na Ufal e mapear os pacientes dessa região que também tem hortas medicinais em casa”, explica Sâmia.

Os estudantes conversaram com 356 pacientes dos postos de saúde. Além de um questionário, foi apresentado ao entrevistado um álbum com fotos de 69 plantas medicinais listadas pelo Ministério da Saúde, para saber se eram espécies conhecidas e já utilizadas. A abordagem foi feita nos postos de saúde do complexo Benedito Bentes, de janeiro de 2010 a outubro de 2011. A amostra foi composta por 296 mulheres e 60 homens, a maioria de baixa renda, sendo que 81,8% dos entrevistados recebem até um salário mínimo, 27% são analfabetos ou semianalfabetos e 55,9% cursaram até o ensino fundamental.

Segundo os resultados da pesquisa, a maioria dos entrevistados (316) reconheceu pelo menos uma das espécies presentes no álbum. Um total de 44 espécies diferentes, o que equivale a 63,8% da relação nacional de plantas medicinais do SUS, foram reconhecidas pelos usuários entrevistados. Os estudantes também avaliaram qual a parte da planta utilizada, o modo de preparo e a indicação terapêutica. Os dados consolidaram a necessidade de estudar a utilização mais eficaz e adequada destas plantas.

Confiança no tratamento

A pesquisa se propôs então a ser uma contribuição para implantar a Fitoterapia no município de Maceió. “Buscamos identificar crenças e práticas gerais na utilização de plantas medicinais de usuários cadastrados na Estratégia Saúde da Família. Entrevistando o mesmo universo de 296 mulheres e 60 homens, os estudantes constataram que a confiança no uso de plantas medicinais como alternativa terapêutica foi relatada por 97% dos entrevistados, não havendo diferença significativa quando foi analisada a influência de gênero, idade, renda e escolaridade da amostra".

Os estudantes perceberam ainda que as pessoas que declaram confiar nas plantas medicinais, realmente fazem uso delas. Mais de 90% dos entrevistados disseram saber preparar o remédio caseiro e também aceitariam se os médicos incorporassem a indicação de plantas nos tratamentos. Apesar desta confiança no tratamento, os pacientes relatam que ainda é baixo o percentual de médicos que receitam plantas medicinais, apenas 33,1% disseram que receberam estaindicaçãonas unidades básicas de saúde.

Os pesquisadores concluíram que o uso de plantas medicinais nesta área do complexo Benedito Bentes é comum, por causa da credibilidade no tratamento. Mas essa utilização de plantas medicinais ainda é feita sem orientação médica. Por isso, os estudantes consideram a importância de sensibilizar os profissionais de saúde para melhorar o acompanhamento desta prática.

Este ano, os trabalhos do grupo de Estudos em Plantas Medicinais serão apresentados no 3º Congresso Iberoamericano de Fitoterapia e 1º Congresso Brasileiro de Fitoterapia, que acontecerá no período de 2 a 5 de maio, em Foz do Iguaçu, Paraná. “Vamos mostrar os resultados sobre as crenças e práticas de uso de plantas medicinais no VI Distrito Sanitário de Maceió e a relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS [Renisus] no cotidiano de usuários da Estratégia de Saúde da Família [ESF] nesta região”, informa Sâmia Silva.

“Estamos participando do Grupo de Trabalho de Plantas Medicinais e Fitoterapia do Colegiado de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), no intuito de construir projetos de implantaçãoda distribuição de plantas medicinais na rede pública, nos municípios de Maceió, Coruripe, Palmeira dos Índios, Marechal Deodoro e Arapiraca, priorizando o uso correto e racional das mesmas”, destaca a coordenadora do Geplam.
 

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