07/04/2013 14h57 - Atualizado em 07/04/2013 14h57

Sistema de busca por desaparecidos não funciona como deveria em AL

Portal deveria ajudar a localizar pessoas que sumiram, mas não funciona.
Falta interesse no assunto, diz Chefe do Departamento de DNA Forense.

Carolina SanchesDo G1 AL

Professor Luiz Antônio mostra site do banco de dados. (Foto: Carolina Sanches/ G1)Professor Luiz Antônio mostra site do banco de
dados. (Foto: Carolina Sanches/ G1)

Há mais de 10 anos, uma iniciativa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), através do Laboratório de DNA Forense, criou o Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas (BDPD) no estado. O portal deveria ajudar a localizar pessoas que sumiram, mas não funciona. A falha acontece por causa da falta de comunicação entre órgãos públicos e a polícia.

Desde o dia 28 do mês passado, a família do eletricista José Marcos Lima da Silva, 23, divulga imagens e faz apelos nas redes sociais para tentar localizá-lo. O jovem saiu de casa após receber uma ligação e nunca mais foi visto.

A mãe do eletricista, Maria Rosilene, contou que, dois dias depois que o jovem sumiu, a família procurou a delegacia e fez um Boletim de Ocorrência. “Na delegacia só fizeram o registro do caso, mais nada. Até hoje (sexta-feira, 5) não tivemos nenhuma informação. Estamos percorrendo hospitais públicos e IMLs em busca de alguma notícia”, falou a mãe.

José Marcos Lima da Silva está desaparecido (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)José Marcos Lima da Silva está desaparecido
(Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

Questionada se tem algum conhecimento do Banco de Dados, ela disse que nunca foi informada sobre o sistema. “Se a própria família não se mobiliza, não há solução. Acho que o Estado deveria dar mais apoio porque a situação de ter um parente desaparecido é muito difícil”, reclamou.

Esta não é a única reclamação sobre a falta de apoio à família de pessoas que desaparecem em Alagoas. Muitas famílias que procuram parentes que sumiram falam que sequer sabiam da ferramenta de busca. As que conhecem, reclamam que o cadastro está desatualizado e não tem divulgação.

É o que confirma o professor e chefe do Departamento de DNA forense da UFal, Luiz Antônio Ferreira da Silva. Ele contou que, quando a proposta surgiu, foi elaborado um projeto piloto que permitiria que o sistema fosse atualizado nacionalmente, mas isso acabou não saindo do papel.

O professor explicou que as informações do banco de dados ficam acessíveis para todas as pessoas, inclusive quem está fora de Alagoas, facilitando, assim, a identificação do desaparecido pela fotografia e informações cadastradas no banco de dados. “O sistema é fácil e pode ser visto através da internet. O projeto não tem fins lucrativos e não teria dificuldade para ser implantado de forma eficiente”, observou.

O sistema, criado com base nos padrões internacionais, permite que se faça a busca de pessoas já cadastradas por seus familiares, utilizando características físicas como cor dos olhos, tamanho, peso, cor da pele e outras.

Banco de dados está desatualizado em Alagoas (Foto: Reprodução)Banco de dados está desatualizado em Alagoas (Foto: Reprodução)

O problema é que, atualmente, o site do Banco de Dados possui o cadastro de 13 pessoas desaparecidas, sendo 10 de Alagoas. Mas o último cadastro registrado é de 2010. “O ideal era que fosse criada uma rede e que entidades públicas ou privadas pudessem cadastrar o desaparecimento. O sistema servidor-cliente permite que informações genéticas e não genéticas sejam centralizadas e compartilhadas. O problema acontece porque isso fica restrito ao trabalho no laboratório, que não tem condições de ser responsável por toda a divulgação e pelo cadastro”, informou.

Para o chefe do departamento de DNA, se houvesse uma atuação unificada, o banco seria uma ferramenta muito eficiente para ajudar na busca e serviria de exemplo para outros estados. “O problema é como fazer para isso funcionar. Uma das ações seria divulgar, outra explicar os caminhos que as famílias têm que fazer. E isso precisa de um sistema integrado que pudesse facilitar o cadastro”, expôs.

Desde o começo deste ano, um convênio entre a universidade e a Secretaria de Estado de Defesa Social possibilitou o DNA de 40 cadáveres que estavam sem identificação. “Se tivéssemos o cadastro de todas as famílias que tem pessoas desaparecidas poderíamos comparar com esse material genético”, disse Luiz Antônio.

'Falta interesse'
Para o professor, diversos órgãos e entidades deveriam estar envolvidos com o projeto, entre eles, as polícias Civil e Militar, Ministério Público, Justiça Estadual e Federal, Conselho Tutelares, IMLs, Institutos de Criminalística e de Identificação e prefeituras.

“Em alguns estados existe um sistema mais eficiente, mas nada que pegue a totalidade. Não há um banco nacional, com uma política abrangente, mas isso não é complicado ou tem custo elevado”, ressaltou.

Quando o projeto foi anunciado, foram feitas várias reuniões. Em 2010, a Polícia Civil chegou a anunciar que haveria um treinamento para agentes e delegados. Foi ministrada uma palestra, mas nada aconteceu depois.

“Tive reunião com o secretário da Defesa Social e conselheiros tutelares para que existisse uma atualização das informações das pessoas desaparecidas, mas isso não aconteceu. A proposta era que o treinamento nas delegacias possibilitasse aos agentes e delegados fazer o cadastro de desaparecidos assim que as famílias os procurassem para fazer o Boletim de Ocorrência”, falou.

Roberta Dias desapareceu em abril de 2012 (Foto: Reprodução/Facebook)Roberta Dias desapareceu em abril de 2012
(Foto: Reprodução/Facebook)

No Brasil, o cadastro nacional de crianças e adolescentes, que já existia, passou por uma reformulação para se tornar um banco de dados mais eficiente. O site do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos vai contar com a ajuda da população. O sistema foi reformulado e qualquer pessoa poderá inserir novos dados. Alagoas ainda não consta no site.

A Secretaria de Defesa Social (SDS), que informou que a manuntenção do sistema é responsabilidade da Polícia Civil. Na noite da sexta-feira (5) a reportagem do G1 entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil, que expôs que o caso será averiguado, já que a instituição desconhece problemas no sistema de identificação.

Famílias apelam para redes sociais
Sem conseguir apoio para divulgar o desaparecimento, as famílias fazem o que podem para encontrar os parentes. Este foi o caso da estudante Roberta Dias, de 18 anos, desaparecida desde o último dia 11 de abril em Penedo. Os parentes de Roberta não desistiram de procurá-la e dizem ainda ter esperança de encontrá-la com vida.

Família de Barbara Regina faz apelo nas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)Família de Barbara Regina faz apelo nas redes
sociais (Foto: Reprodução/Facebook)

Desde que a jovem sumiu, eles fazem apelos nas redes sociais e chegaram até a oferecer uma recompensa para alguma informação concreta sobre o caso. “Nossa busca sempre foi através das redes sociais, mas acho que deveria haver um sistema mais abrangente com informações sobre todos os desaparecidos”, falou a irmã de Roberta, Amanda Dias.

A família da jovem Bárbara Regina, de 21 anos, que desapareceu depois de ser vista saindo de uma boate localizada no bairro da Ponta Verde em setembro do ano passado, chegou a procurar o laboratório Forense da Ufal para que a mãe fizesse a coleta da amostra de sangue.

A avó da jovem, Tereza de Jesus da Silva, disse que só procurou o laboratório porque um amigo da família indicou. “Pedimos que colocassem os dados da Barbara no site do Banco de Dados, mas até hoje (quinta-feira, 4) isso não foi feito”, falou a avó.

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