dados. (Foto: Carolina Sanches/ G1)
Há mais de 10 anos, uma iniciativa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), através do Laboratório de DNA Forense, criou o Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas (BDPD) no estado. O portal deveria ajudar a localizar pessoas que sumiram, mas não funciona. A falha acontece por causa da falta de comunicação entre órgãos públicos e a polícia.
Desde o dia 28 do mês passado, a família do eletricista José Marcos Lima da Silva, 23, divulga imagens e faz apelos nas redes sociais para tentar localizá-lo. O jovem saiu de casa após receber uma ligação e nunca mais foi visto.
A mãe do eletricista, Maria Rosilene, contou que, dois dias depois que o jovem sumiu, a família procurou a delegacia e fez um Boletim de Ocorrência. “Na delegacia só fizeram o registro do caso, mais nada. Até hoje (sexta-feira, 5) não tivemos nenhuma informação. Estamos percorrendo hospitais públicos e IMLs em busca de alguma notícia”, falou a mãe.
(Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
Questionada se tem algum conhecimento do Banco de Dados, ela disse que nunca foi informada sobre o sistema. “Se a própria família não se mobiliza, não há solução. Acho que o Estado deveria dar mais apoio porque a situação de ter um parente desaparecido é muito difícil”, reclamou.
Esta não é a única reclamação sobre a falta de apoio à família de pessoas que desaparecem em Alagoas. Muitas famílias que procuram parentes que sumiram falam que sequer sabiam da ferramenta de busca. As que conhecem, reclamam que o cadastro está desatualizado e não tem divulgação.
É o que confirma o professor e chefe do Departamento de DNA forense da UFal, Luiz Antônio Ferreira da Silva. Ele contou que, quando a proposta surgiu, foi elaborado um projeto piloto que permitiria que o sistema fosse atualizado nacionalmente, mas isso acabou não saindo do papel.
O professor explicou que as informações do banco de dados ficam acessíveis para todas as pessoas, inclusive quem está fora de Alagoas, facilitando, assim, a identificação do desaparecido pela fotografia e informações cadastradas no banco de dados. “O sistema é fácil e pode ser visto através da internet. O projeto não tem fins lucrativos e não teria dificuldade para ser implantado de forma eficiente”, observou.
O sistema, criado com base nos padrões internacionais, permite que se faça a busca de pessoas já cadastradas por seus familiares, utilizando características físicas como cor dos olhos, tamanho, peso, cor da pele e outras.
O problema é que, atualmente, o site do Banco de Dados possui o cadastro de 13 pessoas desaparecidas, sendo 10 de Alagoas. Mas o último cadastro registrado é de 2010. “O ideal era que fosse criada uma rede e que entidades públicas ou privadas pudessem cadastrar o desaparecimento. O sistema servidor-cliente permite que informações genéticas e não genéticas sejam centralizadas e compartilhadas. O problema acontece porque isso fica restrito ao trabalho no laboratório, que não tem condições de ser responsável por toda a divulgação e pelo cadastro”, informou.
Para o chefe do departamento de DNA, se houvesse uma atuação unificada, o banco seria uma ferramenta muito eficiente para ajudar na busca e serviria de exemplo para outros estados. “O problema é como fazer para isso funcionar. Uma das ações seria divulgar, outra explicar os caminhos que as famílias têm que fazer. E isso precisa de um sistema integrado que pudesse facilitar o cadastro”, expôs.
Desde o começo deste ano, um convênio entre a universidade e a Secretaria de Estado de Defesa Social possibilitou o DNA de 40 cadáveres que estavam sem identificação. “Se tivéssemos o cadastro de todas as famílias que tem pessoas desaparecidas poderíamos comparar com esse material genético”, disse Luiz Antônio.
'Falta interesse'
Para o professor, diversos órgãos e entidades deveriam estar envolvidos com o projeto, entre eles, as polícias Civil e Militar, Ministério Público, Justiça Estadual e Federal, Conselho Tutelares, IMLs, Institutos de Criminalística e de Identificação e prefeituras.
“Em alguns estados existe um sistema mais eficiente, mas nada que pegue a totalidade. Não há um banco nacional, com uma política abrangente, mas isso não é complicado ou tem custo elevado”, ressaltou.
Quando o projeto foi anunciado, foram feitas várias reuniões. Em 2010, a Polícia Civil chegou a anunciar que haveria um treinamento para agentes e delegados. Foi ministrada uma palestra, mas nada aconteceu depois.
“Tive reunião com o secretário da Defesa Social e conselheiros tutelares para que existisse uma atualização das informações das pessoas desaparecidas, mas isso não aconteceu. A proposta era que o treinamento nas delegacias possibilitasse aos agentes e delegados fazer o cadastro de desaparecidos assim que as famílias os procurassem para fazer o Boletim de Ocorrência”, falou.
(Foto: Reprodução/Facebook)
No Brasil, o cadastro nacional de crianças e adolescentes, que já existia, passou por uma reformulação para se tornar um banco de dados mais eficiente. O site do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos vai contar com a ajuda da população. O sistema foi reformulado e qualquer pessoa poderá inserir novos dados. Alagoas ainda não consta no site.
A Secretaria de Defesa Social (SDS), que informou que a manuntenção do sistema é responsabilidade da Polícia Civil. Na noite da sexta-feira (5) a reportagem do G1 entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil, que expôs que o caso será averiguado, já que a instituição desconhece problemas no sistema de identificação.
Famílias apelam para redes sociais
Sem conseguir apoio para divulgar o desaparecimento, as famílias fazem o que podem para encontrar os parentes. Este foi o caso da estudante Roberta Dias, de 18 anos, desaparecida desde o último dia 11 de abril em Penedo. Os parentes de Roberta não desistiram de procurá-la e dizem ainda ter esperança de encontrá-la com vida.
sociais (Foto: Reprodução/Facebook)
Desde que a jovem sumiu, eles fazem apelos nas redes sociais e chegaram até a oferecer uma recompensa para alguma informação concreta sobre o caso. “Nossa busca sempre foi através das redes sociais, mas acho que deveria haver um sistema mais abrangente com informações sobre todos os desaparecidos”, falou a irmã de Roberta, Amanda Dias.
A família da jovem Bárbara Regina, de 21 anos, que desapareceu depois de ser vista saindo de uma boate localizada no bairro da Ponta Verde em setembro do ano passado, chegou a procurar o laboratório Forense da Ufal para que a mãe fizesse a coleta da amostra de sangue.
A avó da jovem, Tereza de Jesus da Silva, disse que só procurou o laboratório porque um amigo da família indicou. “Pedimos que colocassem os dados da Barbara no site do Banco de Dados, mas até hoje (quinta-feira, 4) isso não foi feito”, falou a avó.