01/12/2013 09h48 - Atualizado em 01/12/2013 10h27

"Preconceito é o maior problema de quem vivem com HIV", diz alagoana

Grupos em Alagoas ajudam pessoas com Aids a conviverem com a doença.
Enfermeira pontua questões para o conforto de quem vive com o vírus.

Carolina Sanches e Waldson Costa Do G1 AL

Há 11 anos, quando descobriu que vivia com o vírus da Aids, M.D. achou que tinha apenas alguns meses de vida. Ela se isolou de amigos e se afastou do trabalho. “Não queria sair, achava que as pessoas iriam me julgar na rua e que eu já não tinha muito tempo de vida. Soube da doença por acaso, ao fazer um teste em um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), mas nem desconfiava. Foi um choque muito grande”, contou.

Confira o vídeo do G1 com o depoimento de M.D. A identidade dos personagens que convivem com a doença foi preservada, sendo identificado apenas as iniciais, a pedido deles, devido ao preconceito que ainda está atrelado ao HIV/Aids.

M.D. disse que a falta de informação e o preconceito foi o maior problema que enfrentou. “Os médicos explicam, mas ainda fica muito vago. Quando muitos recebem a notícia ela vem com preconceito e um atestado de óbito antecipado. Somente com a continuidade do tratamento e através dos grupos de apoio eu consegui superar a depressão e voltar a ter uma vida normal”, fala.

Hoje, M.D., está com a carga viral indetectável há três anos. Ela faz planos e diz que vive melhor do que antes de saber da doença. Ela faz parte do Movimento Cidadãs Positivas, um espaço para debates e discussões sobre temas voltados para a mulher. “É um espaço onde as mulheres resgatam a auto-estima e podem ter mais conhecimento sobre temas que envolvem a sexualidade e a beleza feminina. Para mim, participar do grupo fez muita diferença na forma de ver e conviver com a doença”, afirma.

O Movimento Cidadãs Positivas atua em Alagoas junto com a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (RNP). De acordo com o coordenador de comunicação da Rede, Otávio Rocha, ela é uma entidade sem fins lucrativos, formada por pessoas que vivem e convivem com o HIV/AIDS/Hepatites virais, e que tem como missão contribuir para a melhoria do atendimento, assistência, ensino e atenção a estas pessoas, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida. “A rede existe há 20 anos, mas foi implementada em Alagoas há 15. Ela foi criada pela necessidade de atender as pessoas que vivem com a doença na região”, conta.

Apesar de todos os avanços, ainda não conseguimos nos livrar do pior da doença que é o preconceito. A sociedade ainda tem pouco conhecimento da doença."
E.R, vivente com Aids

A ex-moradora de rua, que se identificou apenas como R., contou que foi resgatada pela Rede. Ela disse que era dependente de drogas e não tinha mais expectativa de uma mudança na vida. Hoje, com o apoio do grupo, Rita faz artesanato para vender no centro de Maceió. “Vivia na rua, abandonada. Quando soube da doença fiquei muito pior. Foi com o apoio das pessoas da Rede que consegui retomar minha vida”, contou.

Diferente de M.D., E. R., um paciente do sexo masculino, que pediu para não ser identificado, não ficou desanimado quando soube da doença. Ele disse que a descoberta fez com que repensasse a forma com que vive. “Desde que soube da doença, há três anos, nunca desanimei. Contei para meus familiares e amigos e vivo tranquilamente com o tratamento, sempre acompanhando a carga viral”, disse.

"Apesar de todos os avanços, ainda não conseguimos nos livrar do pior da doença que é o preconceito. A sociedade ainda tem pouco conhecimento da doença e muitos nos enxergam como um mal. É preciso entender que ninguém está livre de ter a doença e que ela atinge a diversas camadas da sociedade. O preconceito comigo não me afetou psicologicamente, mas quando atingiu a minha família foi mais cruel”, completa.

Estudo aponta necessidade de conforto a pacientes
Uma pesquisa desenvolvida pela enfermeira Kely Regina da Silva Lima, mestre pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) destacou a necessidade de ações que possam trazer conforto para a pessoa que vive com Aids. O trabalho revela as necessidades de alívio, de tranquilidade e de transcendência dos pacientes.

enfremeira (Foto: Arquivo Pessoal)Enfermeira Kely Regina defende em pesquisa
ações para o conforto dos viventes com Aids
(Foto: Arquivo Pessoal)

A pesquisa foi realizada através de estudos com pacientes em tratamento no Hospital Universitário. Segundo a enfermeira, foi feito um levantamento das necessidades nos contextos físico, psicoespiritual, sociocultural e ambiental.

Kely Lima disse que, depois das análises através das informações que foram coletadas nas entrevistas com pacientes, foi montada uma oficina que possibilitou o trabalho com as necessidades de conforto comuns a todos os participantes da pesquisa. “Descobrimos que as infecções oportunistas foram os principais desconfortos apresentados pelos pacientes. Percebemos a necessidade dos pacientes terem mais informações sobre essas doenças” falou.

A pesquisadora destaca que, além da medicação, os pacientes devem ter cuidados psicológicos, espirituais, socioculturais e ambientais, o que possibilita aos assistidos um melhor convívio com a doença. “Outra questão que os pacientes apontam muito é sobre a família. Quando eles podem ver a doença com uma forma mais humana, isso interfere muito no tratamento. Esse vínculo familiar é muito importante”, falou.

A pesquisa traz algumas sugestões para o conforto dos pacientes como projetos de laboratórios de informática, de atividades físicas e de acompanhamento junto com as famílias. “O conforto vai desde o acesso ao tratamento ao trabalho coletivo entre os pacientes através dos grupos de trabalho. As instituições públicas devem valorizar ações que proporcionem esse conforto. Que os profissionais sejam capacitados a trabalhar de forma humanizada”, expôs.

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