Por que a UFAL está tão insegura?

13/03/2013 08:18 - Balaio do Teles
Por Silvio Teles

 

Olá, pensadores!

Ontem, num jornal local, assisti a uma entrevista do Reitor da Universidade Federal de Alagoas, Eurico Lobo, tentando explicar as ações que tem feito – e que ainda fará – para tentar minorar a onda de assaltos que, atualmente, assola o principal campus da universidade. Na mesma reportagem, diversos alunos relataram episódios de crimes e a constante sensação de insegurança que vivem na UFAL.

Os relatos me fizeram lembrar um fato, ocorrido em outubro de 2011, na USP, em São Paulo, quando, pela quantidade considerável de crimes, a reitoria daquela instituição decidiu firmar convênio com a Polícia Militar estadual, que passou a fazer rondas no campus da universidade. Resultado: ao abordar alguns estudante e flagrá-los portando drogas, a PM autuou os jovens e, depois de uma série de mal entendidos, iniciou-se um grande confusão que culminou com balas de borracha, gás lacrimogêneo e viaturas quebradas. O relato do ocorrido, naquela ocasião, pode ser ouvido aqui.

Ao falar hoje para o repórter, o Reitor deixou bem claro que pensa em criar uma “Guarda Universitária”, com o fito de garantir o “policiamento” do local. Uma guarda que, adianto, por falta de previsão constitucional, nem terá porte de arma, nem poder de polícia. Uma contingente que, sinceramente, não sei de onde será tirado, nem onde será formado. Uma guarda, talvez, aos moldes da criada na USP, cujo papel tem sido duramente criticado, dado o não alcance de resultados (veja aqui).

O reitor fala em “Guarda Universitária” porque, como sabido, a presença da Polícia Militar é fortemente rechaçada por um grupo de estudantes, sobretudo aqueles com envolvimento no movimento estudantil, bem como por  professores com a mesma linha de pensamento. Há uma certa lógica na resistência: a força de segurança que coíbe as manifestações exageradas dos militantes não pode ser a mesma que lhes vai “proteger”.

Outro argumento que me apresentaram contra a PM no campus da UFAL foi que os policiais militares não teriam o treinamento adequado para lidar com a classe acadêmica. É tipo assim: a PM, do jeito que está, serve para abordar o povo comum, mas não os universitários. Aliás, estes universitários perdem esse status especial e voltam a ser povo comum assim que saem do território do campus. Contraditório, não? Se a PM tem de ter treinamento – e eu concordo que precisa sempre – é para tratar melhor todo e qualquer cidadão, independentemente do seu grau de escolaridade ou de onde estuda.

O problema não está na “comunidade acadêmica”. A verdade é que para alguns estudantes e professores – que, não raro, são os mais barulhentos e supostamente os mais corajosos, libertários, revolucionários, etc. – a universidade parece se tornar um pretexto para o “tudo posso”. Uma espécie de terra sagrada e imune, onde o Estado não deve intervir, se não autorizado pelo DCE e pelo sindicato profissional.

É na universidade que, geralmente, os ex-secundaristas, hoje universitários e professores, tomam seus primeiros grandes porres: de conhecimento, de política, de álcool e, também, de outras drogas ilegais. Alguns separam esses porres e vivem ressacas que lhes amadurecem. Outros, misturando as substancias, entram numa espécie de devaneio revolucionário e se acham super-homens, dotados de superpoderes universitários. Digo isso de cátedra, porque, quando aluno da UFAL, tive alguns amigos assim.

Pobres enganados. A universidade não é, nem deve ser, a “casa da mãe Joana”. A UFAL está insegura e continuará assim porque a PM – e nenhuma outra força de segurança – entrará no campus e deixará de abordar e autuar um universitário que esteja vendendo maconha, como ocorre lá, só porque ele é “universitário”. A PM não tem bola de cristal para concentrar suas ações contra os criminosos não universitários. Todos estarão sob o manto da lei. E viva em paz quem a ela respeitar.

O reitor tem um abacaxi nas mãos: não pode convocar a PM, para não se queimar com os militantes, nem terá qualquer êxito na criação da Guarda Universitária e a USP está aí para comprovar que não.

A solução para o impasse, a meu sentir, deve ser obtida de forma democrática, palavra tão usada, e tão pouco compreendida, pelos manifestantes. Convoque-se uma espécie de plebiscito universitário, onde todos os universitários, professores e técnicos decidam se a PM (ou qualquer outra força de segurança) deve, ou não, estar no campus. Não haveria forma mais legítima para dirimir a controvérsia e, também, não haveria forma mais justa para que todos arcassem juntos pela escolha que a maioria viesse a decidir.

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