Alagoanos ganham o mundo para aprimorar conhecimento científico

Através de programas de intercâmbio cultural, universitários se espalham pelo planeta para aprimoramento científico

12/03/2013 11:51

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Marcelo Alves

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Cada vez mais espalhados pelo mundo, universitários alagoanos deixam para trás a família e se jogam num grande desafio de morar sozinhos por períodos que vão de seis meses a um ano em outros países na busca do aprimoramento científico, técnico e educacional com o objetivo de trazer ao Brasil novas formas de conhecimento e técnicas de estudo e pesquisa.

Patrocinados por programas de intercâmbio cultural, estes estudantes não só recebem informação, mas também levam a experiência adquirida no Brasil para fazer a troca de conhecimentos.

Para saber um pouco mais deste intercâmbio cultural, a reportagem do Primeira Edição entrevistou quatro universitários alagoano por meio do Facebook e através de email que falaram sobre adaptação ao novo país, experiência e saudade.

Na França, Monique Angelo visa título de doutorado em química

FacebookVisando ao título de doutorado em química/licenciatura, a mestranda Monique Gabriella Angelo da Silva, de 26 anos, está há um ano na França participando de um intercâmbio cultural e estudando na universidade Ecole Nationale Supérieure de Chimie de Rennes (ENSCR). “Estou conhecendo diferentes formas de trabalho, discutindo a ciência a partir de diferentes pontos de vista, bem como conhecendo novas estratégias na elaboração de artigos científicos. Estou ainda aprendendo a lidar com diferentes formas de problemas diários que eventualmente surgem em um laboratório”.
Quando voltar ao Brasil em setembro deste ano, Monique Angelo pretende trazer na bagagem um arcabouço científico e de experiência cultural para levá-los à sala de aula das universidades brasileiras.

Juntamente com os outros cinco alunos que estudam na mesma sala de aula (2 professores, 2 mestrandos e 1 doutorando), a futura doutora está desenvolvendo um trabalho relacionado à nanopartículas de ouro e aplicações catalíticas. “Temos obtidos ótimos resultados. Como o trabalho é desenvolvido em co-tutela entre duas universidades, ganhando assim com a pesquisa tanto o Brasil quanto à França”.

Morando em Rennes, na Bretagne-FRA, Monique Angelo disse que a adaptação com o mundo novo não foi fácil. “Nos primeiros dias é uma mistura de novidade com necessidade de adaptação. Mas a novidade não dura muito tempo e logo em seguida é necessário encarar uma nova realidade de vida, que inclui trâmites com o banco, prefeitura, secretaria da escola, secretaria da residência universitária, além do convívio diário, tudo sempre em língua francesa”, disse. “As pessoas falam rápido. Confesso que muitas vezes eu não entendo perfeitamente ao pé da letra o que conversam comigo, mas entendo todo o contexto do diálogo e é possível ter uma ótima troca de informação”. Além disso, ficar longe da família foi outra grande dificuldade encontrada por ela. “Eu sinto saudade demais de minha mãe”.

Casada com Wanderson Luis Pinto Reis, Monique Angelo chegou à França após ter seu programa de doutorado avaliado e aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior que é a entidade responsável no Brasil e o Comitê Francês de Avaliação da Cooperação Universitária com o Brasil (CAPES-COFECUB), que é a entidade responsável pela parte francesa.

Wanessa Neves aperfeiçoa em Portugal estudo sobre análises de bactéria 

Estudante de ciências biológicas/licenciatura da Universidade Federal de Alagoas (Ufal),Facebook Wanessa das Neves Solano, de 22 anos, também está participando do intercâmbio cultural, só que em Portugal. Desde fevereiro deste ano em terras lusitanas estudando na Universidade de Coimbra, a universitária busca enriquecer seus conhecimentos em sua área de formação, bem como obter grande experiência cultural e pessoal. Sua estada em Portugal será de seis meses. “Essa oportunidade surgiu no meio do ano de 2012, com a publicação do Edital do programa bolsas luso-brasileiras do Santander Universidades. Vi no site da Ufal a publicação e resolvi me inscrever. Passei por um processo de seleção na coordenação do meu curso e em seguida fiz uma entrevista na Assessoria de Intercâmbio da Ufal”.

Além das aulas teóricas, ofertadas três vezes por semana, em horários bem diversificados, Wanessa Solano põe em prática o que aprende nos bancos da academia no Laboratório de Microbiologia da Universidade de Coimbra. “Faço trabalhos como preparação de meios de cultura, soluções e análises de bactérias em diversas amostras”, disse.

Em relação à linguagem, Wanessa Solano contou que às vezes encontra dificuldade em algumas palavras, mas seu maior obstáculo foi a adaptação climática. “Em relação à língua, eu só me atrapalho quando os portugueses falam rápido, mas a adaptação ao clima foi difícil, pois em Alagoas, o verão dura praticamente o ano inteiro e aqui em Coimbra peguei temperaturas baixíssimas com três graus centígrados”.

Wanessa Solano disse que mora na própria cidade de Coimbra, na residência universitária, bem próxima a faculdade onde estuda. “O interessante é que em Coimbra, nós não temos contato apenas com portugueses, mas por ser uma cidade tipicamente de estudante, encontramos pessoas de todo lugar do mundo. Mas o que predomina são os estudantes brasileiros. Eles vêm de todos os lugares do Brasil”.

Apesar da presença dos brasileiros na residência universitária, Wanessa Solano afirmou que sente saudade da terra natal, principalmente de seus familiares. “Saudade de tudo e de todos, família, namorado, amigos, minha casa. A saudade está grande, mas o pouco tempo que vou passar aqui consola”.

O período de seis meses de intercâmbio cultural é financiado pelo programa Santander Universidades, que paga a bolsa de estudo.

João Victor iniciou na segunda-feira suas aulas na Argentina

Estudante do sétimo período do curso de letras/licenciatura pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), João Victor de Oliveira Araújo, de 24 anos, inicia nesta segunda-feira (11) o semestre na Universidad Autónoma de Entre Ríos - Facultad de Ciencia y Tecnologia, da Argentina.

Facebook“Minhas aulas serão de 17h às 21h. No horário vago pretendo estudar bastante, pois tenho que render aqui. Além disso, pretendo aproveitar qualquer oportunidade que eu tenha para conhecer os lugares, participar de cursos, engajar-se em projetos. Tenho que aproveitar o máximo que esse país pode me oferecer. Pretendo também estudar mais e planejar meu futuro profissional, já que quando eu voltar estarei terminando meu curso”, disse.

Há menos de uma semana na terra dos hermanos, o universitário disse a primeira palavra que aprendeu com facilidade foi feijão. “Eu aprendi feijão com ‘frijoles’, mas aqui se usa ‘porotos’”.

Apesar do pouco tempo na Argentina, João Victor disse que já sente saudade do Brasil. “Saudade é a parte mais complicada, pois sou muito apegado a meus familiares, amigos, namorada (a vida que eu vivo em Maceió), mas quanto a esse ponto eu rezo pra que Deus me dê forças e sempre pensar do maior objetivo de estar aqui. Penso que se aguentar firme essa experiência pode trazer retorno no futuro”.

Ele está morando na Província de Entre Ríos, cidade do Paraná. Sua estada na Argentina é financiada pelo Programa de Mobilidade Mecorsul (PMM), através da União Européia.

Após um ano nos EUA, Lucas Gustavo retorna  com bagagem cheia de conhecimento 

Graduando em engenharia química, Lucas Gustavo Farias Xavier, de 22 anos, é outro alagoano que participou do intercâmbio cultural. Ele voltou dos EUA no início deste ano onde facebookestudou durante um ano na faculdade americana Boulder, que fica localizada na cidade de Colorado-EUA. O universitário disse que trouxe na bagagem experiência científica e cultural. Lucas Gustavo que estuda atualmente na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), teve sua passagem no país norte-americano financiada pelo programa Ciência Sem Fronteira. Ele ficou um ano na Terra do Tio Sam. “Cheguei aos EUA em janeiro de 2012 e retornei ao Brasil em dezembro do mesmo ano”, contou.

O jovem é um caso raro de estudante universitário ter optado por uma vaga de intercâmbio cultural nos EUA. Segundo o coordenador de Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Niraldo de Farias, há uma grande oferta de vagas para fazer intercâmbio nos estados norte-americanos, mas a oferta de alunos é pouca, porque muitos universitários não conhecem a língua inglesa.

Privilegiado por ser um dos poucos a obter a oportunidade de ir aos EUA, Lucas Gustavo disse que aproveitou bastante para acumular conhecimento. Ele acredita ainda que quando terminar a sua graduação de engenharia química vai largar na frente da concorrência pelo mercado de trabalho por conta desta sua experiência internacional. “Tive aulas de gestão para engenharia que na verdade são ministradas por empresários, donos de indústrias que vão à sala de aula passar experiência com os alunos”, disse.

Coordenador do ASI diz que sobram vagas para os EUA

Monique Gabriella, Wanessa Solano, João Victor e Lucas Gustavo compõem o universo de cerca de 215 universitários da Ufal (85 em 2011 e 130 em 2012) que tiveram a oportunidade de percorrer alguns países do mundo e outros que ainda estão correndo o planeta em busca de aprimoramento científico e de experiências acadêmica e cultural. De acordo com o coordenador de Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), José Niraldo de Farias, alguns alunos que retornaram do intercâmbio internacional já estão dando sua parcela de contribuição social. Além disso, estes universitários têm aumentado o nível intelectual da universidade.

Questionado se há algum tipo de monitoramento dos alunos que participam do intercâmbio, Niraldo de Farias respondeu que não é necessário e que só é exigido um relatório do período que ele passou estudando fora do país. “A universidade não é babá de aluno. Se o aluno não cumprir com suas obrigações que a universidade em que está estudando no exterior exige, o seu contrato é rescindido e o universitário volta ao Brasil”. 

UfalNiraldo de Farias comentou que há inverdades circulando em redes sociais que dão conta que muitos alunos estão participando dos programas de intercâmbio cultural para passear pelo mundo. “Há um grupo de alunos que não conseguiu vaga nos programas de intercâmbio cultural e estão divulgando que o projeto é só para passeio. Isso é gente invejosa que não ganhou a bolsa”, afirmou.

Quanto à carência de alunos para preencher vagas para o intercâmbio nos EUA, Niraldo de Farias contou que a Ufal está promovendo um programa de aprimoramento do idioma inglês. “O programa é uma versão online, gratuito, do programa Inglês sem Fronteiras”.

ASI
A Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) é o órgão responsável por todas as relações estabelecidas entre a UFAL e instituições de âmbito internacional. Tais relações abrangem desde acordos de cooperação, envolvendo pesquisas conjuntas, intercâmbios de alunos e organização de eventos, à visitas de personalidades internacionais à UFAL e à representação da UFAL em territórios estrangeiros através da figura de nossa Reitora e do Assessor Internacional.


 

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