05/10/2013 20h30 - Atualizado em 05/10/2013 20h30

Pesquisa mostra que lagoas de AL podem se transformar em pântanos

Processo de assoreamento que duraria 7 mil anos aconteceu em 1 século.
Estudo feito pela Agência Nacional das Águas avaliou a profundidade.

Do G1 AL, com informações da TV Gazeta

Um estudo feito pela Agência Nacional das Águas (ANA) avaliou a profundidade das lagoas no estado de Alagoas. E o resultado foi assustador. Relatório aponta que por ano, mais de 280 mil toneladas de sedimentos vão parar nas lagoas. Devido ao assoreamento, especialistas alertam que se nada for feito o complexo Mundaú-Manguaba pode se transformar em um pântano nos próximos anos.

Os pescadores são um dos que mais sentem os efeitos do assoreamento. “A gente enfia o remo e quando vai tocar no duro já tem um metro e meio de lama”, diz José Carlos Lima.

Além da lama, pescadores e marisqueiros reclamam ainda que peixes e mariscos estão morrendo. “É difícil de encontrar maçunim e sururu. Quando a gente consegue pegar, vem com muita lama. Até os aratus estão morrendo porque a água fica parada e eles não conseguem respirar”, afirma Maria Lúcia dos Santos Silva.

Dezenas de bancos de areia se amontoam no meio da lagoa Mundaú. As garças caminham sem dificuldade onde antes só havia água. O processo natural de assoreamento que duraria até 7 mil anos aconteceu em menos de um século.

“A lagoa pode se transformar completamente em uma área do tipo pantanosa, semelhante ao pantanal: mais rasa e com uma biodiversidade completamente diferente da lagunar", afirma o professor e pesquisador da Ufal, Carlos Ruberto.

Menino mostra alguns dos peixes mortos que foram recolhidos na lagoa Manguaba (Foto: Waldson Costa/G1)Menino mostra alguns dos peixes mortos que foram recolhidos na lagoa Manguaba (Foto: Waldson Costa/G1)

Os efeitos do assoreamento também podem ser percebidos no lado sul da lagoa. Segundo ambientalistas, no Canal da Assembleia, que tinha aproximadamente cinco metros de profundidade, é possível caminhar com a água bem abaixo dos joelhos. Isso representa uma quantidade 20 vezes menor. Eles dizem ainda que as casas construídas às margens da lagoa deveriam ter sido feitas a pelo menos 150 metros de distância para obedecer às leis ambientais.

“Nem reconheço mais a lagoa. Fico muito triste com isso e tenho medo que ela acabe. Antes não tinha casas na beira da lagoa e hoje tem várias. Está tudo errado. Vai ser bem difícil viver sem a lagoa”, lamenta o pescador José Carlos Lima.

Na lagoa Manguaba, na cidade de Marechal Deodoro, a reportagem da TV Gazeta encalhou em um banco de areia. Em um trecho da Prainha, onde antes as embarcações passavam sem dificuldades, hoje estão barracas comerciais. Bem ao lado a areia da praia deu lugar a uma lama escura, de cheiro forte, típica de pântanos. Os canais banham 12 municípios alagoanos. O crescimento urbano desordenado agrava o problema.

“Entra prefeito, sai prefeito e nenhum faz nada. Acho que os governos de todas as esferas deveriam olhar mais fundo e com bons olhos para esse complexo porque senão, as lagoas vão desaparecer”, frisa Ronaldo Cerqueira, presidente do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba

Os especialistas são categóricos: se nada for feito, tudo isso pode se transformar em um pântano. "Ela vai perder profundidade e o sistema lagunar vai se modificando pra um sistema com outras caraterísticas, semelhantes as regiões pantanosas de banhado", reforça Carlos Rumberto.

"Estamos trabalhando com o governador do estado para aumentar a estrutura do Instituto Nacional de Meio Ambiente (IMA). Além disso, precisamos de mais funcionários para intensificar as fiscalizações", afirma o presidente do IMA, Adriano Augusto.

A contagem regressiva já foi iniciada. Se as intervenções necessárias para estabilizar e reverter o assoreamento não forem feitas, Alagoas vai ser apenas o nome do estado. Não mais a fonte de recursos naturais e o belo cartão postal que tanto orgulha o estado.

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