O som produzido pelo trotar dos cascos dos cavalos, o ruído das rodas que carregam a carroceria, a carga conduzida na estrutura de madeira puxada pelo animal. A descrição é de um dos primeiros meios de transporte que surgiu para a condução de cargas. No século XVIII, a carroça começou a ser muito utilizada na zona rural pelos agricultores, mas em Maceió, em pleno século XXI, esse transporte divide espaço com ônibus e outros veículos nas vias da cidade.
Os motoristas reclamam do tráfego de carroças nas ruas da capital porque, além de deixar o trânsito lento, muitos alegam que a falta de sinalização da grande maioria favorece os acidentes, principalmente nos horários de pico. Mas, para os carroceiros, viver sem esses veículos não é uma alternativa, pois é com as carroças que muitos mantêm as famílias.
É o caso do carroceiro Valdemar Pedro, 50, que há mais de 15 anos trabalha transportando fretes e restos de materiais de construção. A carroça que possui ajudou na criação dos dois filhos e até hoje auxilia na manutenção da casa. “O que eu ganho é pouco, mas junto com a minha esposa, que trabalha como lavadeira, dá para viver. Dependendo do mês, eu consigo tirar uns R$ 250”, conta ele.
cidade, mas destaca que o veículo é regularizado.
(Foto: Rivângela Gomes/G1)
Valdemar preocupa-se com a regularização do veículo, por isso mantém a carroça emplacada e possui o documento. “As minhas coisas são simples, mas são certinhas”, diz. Mas grande parte dos carroceiros não segue esse exemplo.
De acordo com a Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito de Maceió (SMTT), toda carroça precisa ser emplacada e o órgão está estudando uma forma de atrair os carroceiros para que regularizem o veículo.
“O emplacamento é feito pela SMTT gratuitamente, mas a maior dificuldade é conseguir trazê-los até nós porque muitos não se importam com a exigência. Para se ter uma ideia, existem cerca de 3 mil carroceiros em Maceió, mas, quando promovemos reuniões, se comparecem 10 ou 15 é muito. Esses veículos precisam de regularização porque, como qualquer outro, fazem parte do trânsito. A SMTT precisa desse controle”, explica a diretora de educação de trânsito do órgão, Juliana Normande.
Na última quarta-feira (26), a Superintendência se reuniu com representantes de diversas secretarias municipais e outros órgãos para estudar uma forma de cada um ajudar nesse processo de regularização dos veículos, o que vai além do emplacamento. “Existem muitos outros problemas que circundam a situação, passando inclusive pela questão de maus-tratos aos animais, o que precisa de muita atenção”, destaca a diretora.
Projeto
Em 2009, um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) criou um projeto de extensão com o objetivo de esclarecer e orientar os carroceiros quanto ao bem-estar de seus animais e a forma como se deve lidar com eles. Além disso, os envolvidos no projeto prestam um serviço de assistência multidisciplinar à comunidade. Eles organizam ações em todo estado com apoio de diversos órgãos.
O grupo desenvolveu o Projeto Pró-Carroceiros: Implantação da Associação de Carroceiros no Bairro Vergel, vencedor de um prêmio nacional em 2012. O resultado do projeto é a atual Associação dos Carroceiros da Região Lagunar de Maceió, que foi implantada em março deste ano. "Iniciamos pela orla Lagunar porque é um ponto de muitos carroceiros e de necessidade imediata de intervenção. Nosso objetivo é incentivar os carroceiros ao associativismo, bem-estar animal, busca de melhoria de condições alicerçadas na educação e retirada dos jovens da atividade", explica o coordenador do grupo, o professor doutor Pierre Escodro.
de carroças sem emplacamento.
(Foto: Rivângela Gomes/G1)
Dentre os objetivos da associação está a promoção de ações educativas e profissionalizantes para retirada de crianças e adolescentes da atividade carroceira, ações de saúde animal, diminuindo maus-tratos, e melhoria das condições de trabalho, além da possibilidade de aulas práticas e pesquisa por parte dos cursos envolvidos.
Mutirão de emplacamento
Neste sábado (28), uma equipe da SMTT estará na orla lagunar para fazer o emplacamento e emitir a documentação dos carroceiros que moram nas redondezas. Também haverá uma palestra de conscientização para aqueles que já são associados. Os demais donos de carroças que quiserem emplacar o veículo, devem se encaminhar à sede da SMTT, que fica na Avenida Durval de Góes Monteiro, nº 829, KM 10, no Tabuleiro do Martins. O telefone do órgão é o 3315-3583.