16/09/2013 09h21 - Atualizado em 16/09/2013 15h18

Emancipação política de Alagoas foi ato estratégico, diz cientista político

Emerson Oliveira acredita que emancipação não foi punição da Coroa a PE.
Ele afirma que Alagoas já tinha peso político-econômico para Portugal.

Natália SouzaDo G1 AL

Cientista Político revisita história de Alagoas para pesquisa sobre índices de violência. (Foto: Natália Souza/G1)Cientista Político revisita história de Alagoas para
pesquisa sobre índices de violência.
(Foto: Natália Souza/G1)

Há 196 anos a Comarca de Alagoas, que dependia administrativamente e politicamente de Pernambuco, era declarada emancipada pelo rei de Portugal, Dom João VI. A época era de movimentos revolucionários contra a coroa portuguesa por todo o Brasil. Segundo a maioria dos historiadores e professores do Ensino Fundamental, o desmembramento teria sido uma forma de punição da Coroa a Pernambuco por causa da revolução que resultou na Insurreição Pernambucana, e um prêmio à Alagoas por não ter aderido ao movimento republicano, em 1817.

Nesta segunda-feira (16), quase dois séculos após a emancipação do estado que começou como comarca, o governo prepara um desfile cívico, com direito a participação de estudantes da rede pública de ensino e apresentações artísitcas no tradicional bairro do Jaraguá, em Maceió. Porém, para o cientista político e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Emerson Oliveira, o processo de emancipação do Estado ainda é atual e deve considerar uma independência a começar pelas histórias e explicações sobre o movimento separatista contado nos livros.

"A história da emancipação política de Alagoas é sempre contada do ponto de vista dos historiadores pernambucanos. Alagoas aparece sempre como um sujeito passivo, fruto de um heroísmo pernambucano, e como um prêmio aos alagoanos por não ter aderido a revolução de 17, o que soa um tanto quanto traíra. Essa versão desmerece a importância do território alagoano, do ponto de vista estratégico para a coroa portuguesa", afirmou.

"Alagoas, sempre teve sua importância política. O primeiro presidente do Brasil após a proclamação da independência, foi o Marechal Deodoro da Fonseca. Do ponto de vista econômico, Alagoas possuía a cultura da cana de açúcar, latifúndios, fazia divisa estrategicamente com a Bahia e com Pernambuco onde os movimentos republicanos estavam estourando, ou seja, firmar uma base política em Alagoas era importante para Portugal", destacou.

Alagoas sempre esteve envolvida nos grandes acontecimentos relevantes da história brasileira, com o primeiro presidente após a era monárquica, que foi Marechal Deodoro da Fonseca, a história de Calabar, em Porto Calvo, a resistência quilombola de Zumbi dos Palmares, tivemos escritores como Gracilano Ramos, entre outros.

Pesquisa
De acordo com Oliveira, o interesse pela história da emancipação surgiu a partir de um projeto de pesquisa, em que orienta na Ufal, sobre os índices de violência no Estado. Ainda na fase descritiva, os pesquisadores analisam dados da dinâmica de homicídios na cidade e o perfil das vítimas da violência, bem como os bairros em que residiam.

"Comecei a observar que na década de 1990 houve um 'boom' de homicídios em Alagoas e após a fase descritiva do projeto, começaremos a testar e cruzar hipóteses sobre esse fenômeno. Muitos associam a atual violência ao histórico coronelismo, ao cangaço ou ao próprio movimento quilombola com Zumbi dos Palmares, mas não dá pra dizer que todos os índices sociais negativos sobre violência vêm disso. Por isso que fui tentar entender melhor o contexto da emancipação alagoana", contou.

"O que começou a chamar minha atenção ao analisar a história foi que em 1712 com a criação da Comarca de Alagoas, quase um século antes da emancipação, Alagoas já tinha indícios de caracterísitcas sociais políticas divergentes de Pernambuco. Então não era novidade para a Coroa. Não foi uma concessão. Já havia sujeitos incomodados com a necessidade de apartar a província da comarca", destacou.

Segundo Oliveira, é necessário que os alagoanos revisitem a história da emancipação para que a história comece a ser contada do ponto de vista alagoano. "É possível contar a história de um ponto de vista. Os alagoanos estão viciados a reproduzir a história contada pelos pernambucanos. É interessante esse movimento de revisitar a história alagoana".

tópicos:
veja também