Biólogo analisa se existe risco com a presença de tubarões no litoral alagoano

18 mar 2014 - 21:48


Alagoas não tem registros de ocorrências de ataque de tubarões a humanos

No início de março, dois tubarões foram capturados por pescadores no litoral de Alagoas. Isso poderia ser tratado de forma natural, já que os tubarões estão no habitat deles, mas, talvez por conta da proximidade com Recife, onde as notícias de ataques de tubarão à banhistas causaram pânico na população, a notícia provocou medo. O peixe cartilaginoso, com espécies que podem chegar a 12 metros de comprimento, é retratado no cinema como um assassino do mar, que persegue cruelmente as presas humanas.

Mas é preciso desmistificar esse estereótipo. O professor adjunto da Unidade de Ensino Penedo, do curso de graduação em Engenharia de Pesca e do Programa de Pós Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos, biólogo Cláudio Sampaio, lembra que existem várias espécies e é preciso conhecer suas características. ” Os tubarões vivem nos mares e oceanos há milhões de anos, tendo uma longa e interessante história com os seres humanos”, lembra o pesquisador.

Os dois tubarões capturados em Alagoas, em menos de 48 horas, estavam longe da costa. O primeiro, no sábado, dia 8, em Maceió, e o segundo no domingo, 9, em Jequiá, estavam em alto-mar quando ficaram presos nas redes de pescadores, que narraram o trabalho que tiveram para levá-los para a praia, já mortos. O tubarão-martelo, de cerca de 400 quilos, foi exposto como troféu na praia de Pajuçara. A dupla de pescadores contou que levou seis horas para capturá-lo.

Já o tubarão capturado no povoado de Lagoa Azeda, há mais de 40 km da praia, foi identificado como sendo da espécie Tigre.

O peixe ficou preso à rede de pesca e foram necessárias duas horas para levá-lo até a praia, onde os 300 kg de carne foram repartidos para a população local. “Embora as duas espécies desembarcadas no litoral alagoano sejam consideradas potencialmente perigosas, com alguns registros de acidentes no litoral brasileiro, não há motivo algum para temor ou mudança de hábito pelos usuários da principal área de lazer do estado de Alagoas, isso é, as praias”, esclarece Cláudio Sampaio.

Além disso, o tubarão não precisa ser visto como uma potencial ameaça aos humanos, pelo contrário, em alguns casos, ele é um atrativo para quem gosta de mergulho. “No Brasil, um bom exemplo é o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha, onde diversos turistas visitam suas águas cristalinas em busca de tubarões, gerando renda numa atividade ambientalmente mais justa e sustentável. Mesmo nos naufrágios e recifes de coral alagoanos, quando um tubarão é avistado durante os mergulhos é motivo de alegria e emoção por parte dos turistas”, relata o Biólogo.

Onde está a ameaça

O pesquisador ressalta ainda que os humanos representam ameaça maior para os “temidos” tubarões, que são pescados para fins comerciais, muitas vezes sem respeito às regras ambientais de preservação. “O tubarão lixa, por exemplo, é uma espécie dócil e carismática, sendo assim muito apreciada, tanto por turistas submarinos, quanto por pescadores submarinos, que a capturam para expor como um troféu. Lembrando que sua captura, transporte, comercio ou beneficiamento são crimes”, ressaltou Cláudio.

Outra questão que o biólogo enfatiza é que não temos um histórico de ataques no litoral alagoano. “Embora nosso Estado vizinho, Pernambuco, venha sofrendo há décadas com acidentes envolvendo tubarões, com várias vitimas fatais, o litoral alagoano não possui qualquer registro no Arquivo Internacional de Ataques de Tubarões (http://sharkattackfile.info/), onde são contabilizados 39 incidentes envolvendo tubarões no litoral brasileiro”, relata o pesquisador.

Para Cláudio, ao invés de alardear uma suposta ameaça de tubarões ao litoral alagoano, a sociedade deveria avaliar como proceder diante de outros riscos muito mais comuns. “São exemplos o tráfego de automóveis nas praias, de jetskis e lanchas que navegam em alta velocidade em áreas próximas aos banhistas, do lançamento de esgotos, a poluição por resíduos sólidos lançados nas águas ou deixados pelos banhistas”, destaca o biólogo.

Preservação

Para o biólogo, as espécies marinhas que vivem no litoral devem ser preservadas. “O litoral alagoano possui algumas das mais belas praias de todo o Brasil, com recifes de coral, manguezais e estuários, todos de grande beleza cênica, além de importância econômica e ecológica, pois além de gerar empregos diretos e indiretos com o turismo e pesca, é de grande importância para diversas espécies marinhas, algumas ameaçadas de extinção como peixes boi, tartarugas marinhas, aves migratórias e peixes, inclusive um tubarão, outrora comum em nossas praias”, alerta o professor da Ufal.

Os tubarões, como todas as espécies, tem o papel deles no equilíbrio biológico. “Tubarões, além de serem animais belíssimos, são de grande importância para a manutenção da biodiversidade marinha, pois controlam populações de organismos marinhos, retiram do ambiente animais doentes ou com má formação, além de consumir carcaças de animais mortos”, explica o professor.

Com as constantes ameaças a sobrevivência dos tubarões, Cláudio Sampaio defende que, ao invés de sair à caça dessa espécie, sejam promovidas ações de preservação. “Devido as características fisiológicas e reprodutivas, muitas espécies, inclusive o tubarão martelo e o tigre capturados, possuem maturação sexual tardia, gestam por muitos meses seus filhotes, produzindo poucos descendentes. Essas características, associadas ao elevado preço de suas nadadeiras no comercio asiático e sua má fama tem levado muitas espécies ao risco de extinção”, alerta o biólogo.

Ascom/Ufal

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