20/09/2014 08h17 - Atualizado em 20/09/2014 08h50

Maceió tem cerca de 250 toneladas de lixo recolhidas das praias por semana

Dados são da Superintendência Municipal de Limpeza Urbana.
No Dia Mundial de Limpeza das Praias, ONG alerta para os riscos.

Do G1 AL

Sujeira aumenta nas praias em períodos de chuva, quando o lixo é trazido por córregos e riachos poluídos que deságuam no mar (Foto: Cau Rodrigues/G1)Sujeira aumenta nas praias em períodos de chuva, quando o lixo é trazido por córregos e riachos poluídos que deságuam no mar (Foto: Cau Rodrigues/G1)

O Ministério do Meio Ambiente estima que cerca de 14 bilhões de toneladas de lixo são lançadas nos oceanos todos os anos. Esse lixo geralmente é proveniente da sujeira deixada pelo homem nas praias. Segundo a Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (Slum), toda semana são recolhidas cerca de 250 toneladas de lixo nas praias de Maceió e Região Metropolitana, totalizando 13 mil toneladas por ano. O problema é que, inevitavelmente, parte da sujeira produzida pelos banhistas nas praias acaba, de fato, chegando ao mar.

Pensando nesta situação, voluntários do Instituto Biota de Conservação resolveram se juntar a uma ação mundial neste sábado (20), o Dia Mundial de Limpeza das Praias, que consiste na distribuição de materiais para recolhimento do lixo em uma tentativa de conscientizar as pessoas para a importância do problema.

De acordo com o relatório da PlasticsEurope de 2010 (uma associação de manufaturas), cerca de 90% do lixo marinho mundial é composto por plástico. Em Maceió, o resíduo é encontrado diariamente jogado nas praias, assim como garrafas pet, papel, vidro, e lixo orgânico.

Mergulhadora e amante da natureza encontra lixo doméstico na Praia do Francês (Foto: Flavia Dabbur/Arquivo pessoal)Mergulhadora encontra lixo doméstico na Praia
do Francês (Foto: Flavia Dabbur/Arquivo pessoal)

Para o comerciante José Adeilton, 27, é tanta sujeira nas praias que a cena já se tornou comum. “É normal, né. Uns limpam, outros sujam. É sempre assim”, comenta.

Com relação à fauna marinha afetada pelo problema do lixo, a estudante de Biologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Waltyane Bonfim informa que as tartarugas são as maiores vítimas do problema da poluição causada pela ação do homem.

Ao confundir plásticos com alimento, esses animais ingerem o material e têm a falsa sensação de estarem alimentadas. Dessa forma, elas perdem peso, ficam fracas e doentes, sem conseguir nadar com o mesmo vigor, e terminam encalhando nas praias, ao serem jogadas pelas correntes.

A estudante também é voluntária do Instituto Biota de Conservação, única Organização Não Governamental (ONG) que cuida de animais marinhos na capital. Ela informa que na maioria dos atendimentos feitos a esses animais são encontrados em seus intestinos ou estômagos algum componente plástico, mas não é o único tipo de resíduo. “Estávamos cuidando de uma tartaruga verde resgatada, aqui na sede do Instituto. Estávamos realizando a limpeza e hidratação do animal, quando ele começou a defecar e expeliu uma tecla de computador”, relata a estudante. 

Os números do Biota sobre a quantidade de tartarugas que encalham no litoral maceioense, apesar de serem imprecisos devido ao atendimento feito apenas por demanda (por chamados da população e/ou órgãos), mostram um crescimento anual no número de encalhes.

Em 2010 foram quase 20 animais atendidos. Cerca de 60 em 2011 e ao menos 70 em 2012. Com a atenção voltada para outras prioridades e sem condições de se fazer um monitoramento constante, em 2013 foram atendidos apenas 32 animais. Mas este ano, já foram 49 tartarugas encalhadas.

A maioria desses animais que chegam vivos ao litoral é resgatada, mas não consegue sobreviver, pois estão muito magros e doentes. A tartaruga verde, como explica Waltyane, é a espécie que mais costuma encalhar nas orlas da capital. “A Tartaruga Verde é a única que se alimenta de algas, então ela acaba ficando muito próxima da costa e acaba se alimentando também do lixo que encontra”.

Waltyane Bonfim exibe lixo coletado do estômago de três tartarugas verdes. (Foto: João Vitor Corrêa/G1)Waltyane Bonfim exibe lixo coletado do estômago de três tartarugas verdes. (Foto: João Vitor Corrêa/G1)

“Às vezes o pessoal diz 'nossa, como a quantidade de tartarugas encalhadas está diminuindo'. Não é que estejam diminuindo, é que a gente está parando de atender aos chamados. Tanto porque temos a desova de outra espécie de tartaruga para monitorar, quanto por conta da limitação de recursos, que nos impossibilita de ir a todos os lugares”, comenta a voluntária.

A ONG funciona com a ajuda dos próprios sócios. Ao todo são 15 voluntários e uma veterinária. Todos eles pagam uma mensalidade que ajuda a repor materiais básicos, como luvas e outros descartáveis. O Instituto conta com o apoio informal de órgãos públicos em ações esporádicas.

Evento Clean Up the World vai procurar conscientizar cidadãos sobre a limpeza das praias (Foto: João Vitor Corrêa/G1)Estudante vai se juntar a voluntários pela
pela conscientização da importância em manter
limpas as praias (Foto: João Vitor Corrêa/G1)

“O atendimento que a gente faz é por demanda. A gente espera que as pessoas liguem. Temos parcerias com o Corpo de Bombeiros, Batalhão Ambiental e IBAMA, que também nos contactam quando ficam sabendo de encalhes”, esclarece.

Limpeza das praias
Segundo a assessoria da Superintendência Limpeza Urbana (Slum), trabalhadores fazem a limpeza das orlas do trecho que vai do Pontal da Barra até Guaxuma, região metropolitana.

Geralmente, as atividades de limpeza são intensificadas em horários diferentes e nos trechos mais movimentados – como na Ponta Verde, Pajuçara e Jatiúca. Para isso, são utilizados em média 60 agentes de limpeza.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 70% do lixo encontrado no mar é oriundo de fontes terrestres. Os principais são plásticos, metais, vidros, resíduos de pesca e de embarcações, materiais de construção, poliestireno (um tipo de resina), borracha, corda, têxteis, madeira e materiais perigosos (como resíduos hospitalares e nucleares), entre outros materiais (microplásticos e poluentes oriundos de agrotóxicos, por exemplo).

Na última quinta-feira (20), a reportagem do G1 conversou com dois trabalhadores responsáveis pela limpeza da orla da Praia de Pajuçara, que não quiseram se identificar. Um deles conta que, somente no período compreendido entre 5h30 da manhã e 10h, foram coletados cinco baús com capacidade de 54 quilos cada. “Muitas vezes estamos recolhendo algum  material, o sujeito vê a gente trabalhando e joga o guardanapo do lanche na areia. Não estão nem aí”, desabafa.

Na Praia da Avenida, até uma porta de geladeira somava ao lixo encontrado na areia (Foto: Cau Rodrigues/G1)Na Praia da Avenida, até uma porta de geladeira somava ao lixo encontrado na areia (Foto: Cau Rodrigues/G1)
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