A Universidade Federal de Alagoas (UFAL) completa na quarta-feira (05) 5 anos de atividades em Santana do Ipanema, a partir de sua unidade educacional vinculada ao Campus Sertão. Tempo suficiente para pessoas de diferentes origens e histórias se encontrarem no dia a dia, sejam professores, técnicos, estudantes ou trabalhadores terceirizados.
Por conta disso, resolvemos pedir para que algumas pessoas relatassem a sua experiência na UFAL em Santana, a importância da entrada na universidade, os problemas enfrentados e as expectativas de futuro.
Neste texto, trazemos o relato de José Augusto Alves de Oliveira. Augusto é um dos 365 estudantes matriculados na unidade, representando os 204 matriculados em Ciências Contábeis neste semestre. A turma dele é um caso diferente nestes 5 anos de UFAL. Estamos acostumados a pessoas que foram “escolhidas” pela unidade devido à proximidade geográfica – a universidade tem alunos de 30 cidades alagoanas diferentes, a maioria de Santana e cidades próximas. 2014.2 de Contábeis teve quase metade de ingressos que escolheram o curso por já trabalharem em escritórios de Contabilidade.
Mais que uma chance de se profissionalizar, a presença da UFAL representa para essas pessoas um avanço na carreira, que muitas vezes já chegou no nível possível dentro da formação de Ensino Médio. Além de, como veremos no relato de Augusto, gerar novas possibilidades para o futuro.
UFAL EM MINHA VIDA
“Minha história até parece com a da unidade, claro que a minha com um pouquinho mais de idade (40 anos).
Sempre em desafios constantes, sou José Augusto Alves de Oliveira, auxiliar de escritório contábil há 21 anos, divorciado, com uma filha de 12 anos que mora comigo. Sou filho de um ex-funcionário do DNOCS [Departamento Nacional de Obras Contra as Secas] (falecido) e uma ex-costureira (hoje pensionista), com 5 irmãos, dos quais um graduado em Pedagogia (UNEAL), um graduando em Administração (universidade particular) e eu graduando em Ciências Contábeis (UFAL), outros 3 só com Ensino Médio.
Faculdade para nós era algo beirando a utopia, quimera. Vindo de família pobre, com nível fundamental apenas, fomos educados em casa para trabalhar, auxiliar o sustento, como dizia meu pai: ‘O luxo é por conta de vocês, comida não faltará’. Todos entramos no mercado de trabalho cedo, garantindo assim nossa subsistência. E com dificuldade conciliamos estudos e trabalho.
Dificuldades foram aparecendo e assim dificultando cada vez mais o sonho de conciliar trabalho, estudos e família e criando uma barreira para dar continuidade após a conclusão do Ensino Médio.
Utopia, quimera? Sim! Universidades públicas concorridas e com poucas opções de curso, das quais a UFAL chegou a Santana do Ipanema a apenas 5 anos e com pouca divulgação. Graduação particular praticamente sem opções em nossa cidade, além de custos que dificultam ainda mais o acesso a pais, mães de família e até seus filhos de classe c ou d.
Nossa cidade apesar de ser referência regional, não oferece fontes de renda, estabilidade que não seja de órgãos públicos. Não temos indústrias ou quaisquer opções, limitando-nos apenas a pequenos comércios e prestação de serviços.
Sem esperança de ingressar em universidade, minhas noites eram dedicadas às tarefas do lar, à minha filha, à internet, ver filmes e jornais e jogar conversa fora na porta com amigos. A namorada sempre perguntava o que eu estaria fazendo a cada noite, seguida da frase ‘podia estar estudado’. Ela sim tem uma graduação. ‘Estudar na capital, longe da família e sem rendimentos adequados ou estabilidade, nem em sonho’, eu respondia. Por isso é válido a interiorização da UFAL, dando acessibilidade acadêmica a todas as classes.
Tomei conhecimento da existência da UFAL em Santana do Ipanema através de amigos e resolvi me lançar nesse desafio em 2013, me inscrevendo no ENEM. Desafio e tanto esse para quem concluiu Ensino Médio em 1994, sem cursinho preparatório, sem revisões, caligrafia limitada a letras de forma (padrão para preencher formulários).
O sonho apenas começou. Em 2014, ingressei na UFAL no curso de Ciências Contábeis, área em que eu trabalho. O desafio é constante. Confesso que ainda não me adaptei a rotinas corridas, exigências, tempo…
O pouco tempo de vida acadêmica já soma para meu currículo desde o processo de humanização do primeiro semestre, com bons professores que nos ajudaram a fundamentação de ideias através da: Comunicação, Política, Desenvolvimento e Filosofia em suas matérias específicas.
Porém o sonho não pode acabar. Como nossa vida sempre tem obstáculos a superar, a nossa unidade também enfrenta suas dificuldades, com sede improvisada, sem laboratórios, refeitórios, recursos limitados, várias carências, o que dificulta o aprendizado.
Queria comemorar os 5 anos dessa conquista de interiorização da UFAL com boas notícias para todo o corpo discente, docente e até aos que aguardam ingressar na nossa UFAL. No entanto, os cortes do Governo Federal não alimentam nosso sonho. O resultado está explícito na obra do prédio recém-iniciada e indo devagar, docentes em greve…
Pátria Educadora? Queria acreditar! Queria voltar a sonhar, queria dar continuidade, queria ser o orgulho da minha família, queria oportunidade para minha filha, queria ver amigos que incentivei ingressando e concluindo cursos, queria ver os pequeninos com esperança de graduação, coisa que não tive.
Que venham mais opções, que terminemos nossa sede, que venham docentes para somar, que venham estudantes que valorizem a nossa história. Nós fazemos a UFAL!
A continuação desse sonho seria ministrar aulas na unidade onde estudei para assim dar continuidade a algo que me orgulho de fazer parte.
Não deixemos de sonhar, uma UFAL cada vez melhor é o que merecemos!”.
Por Anderson Santos/UFAL Santana do Ipanema – Colaboração