Maceió

Balas, salsicha e refrigerante: esse é o cardápio de crianças de até 1 ano em Maceió

25/03/16 - 12h29
Reprodução

Açúcar, enlatados, frituras, refrigerantes, salgadinhos e todos os outros alimentos ultraprocessados devem ser evitados até o segundo ano de vida de uma criança. Mas, um trabalho inédito realizado em Alagoas revelou que os hábitos alimentares dos pequenos não estão condizentes com essas orientações da Organização Mundial da Saúde.

O estudo revelou que até um ano de idade, 58,3% das crianças pesquisadas já consumiam bala, pirulito ou chocolate; 62%, biscoito recheado; e 38%, embutidos diversos (salsicha ou linguiça).

Os números são do 1º Diagnóstico da Situação Nutricional em uma amostra de creches e pré-escolas de Maceió (Sinucri), realizado por professoras e pesquisadoras do Laboratório de Nutrição em Saúde Pública da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que avaliou 359 crianças menores de cinco anos matriculadas nos centros municipais de educação infantil do 7º Distrito Sanitário de Maceió, que compreende os bairros próximos ao campus universitário.

“Alimentos ricos em sódio, açúcar e gorduras trans e saturada, ou seja, com uma composição totalmente inadequada, que não deveriam fazer parte da dieta de um ser em formação e que as mães inseriram precocemente”, ressaltou a doutora em Ciências Aplicadas à Pediatria e coordenadora da pesquisa, Giovana Longo-Silva.

Refrigerante e suco artificial

E os dados alarmantes não são apenas esses. Ainda conforme o estudo, com um ano de vida, 42,3% tinham tomado refrigerantes e 39,5%, suco artificial; 56,9% comeram salgadinhos de pacote; e 78,7%, petit suisse (um tipo de bebida láctea adocicada).

“Esses alimentos não são ofertados na creche, pois as unidades de educação infantil seguem um cardápio considerando as necessidades da faixa etária, conforme as orientações do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Eles estão sendo ofertados no ambiente familiar, conforme foi constatado nos questionários respondidos pelos próprios pais”, revelou a coordenadora.

Obesidade e anemia

Outro dado relevante encontrado sobre o estado nutricional das crianças é de que a desnutrição já não é mais o problema de saúde pública prevalente nessa população, mas o sobrepeso e a obesidade.

De acordo com a pesquisa, 7,6% delas estavam acima do peso, enquanto 3,9% apresentavam desnutrição. Outro levantamento importante foi o percentual altíssimo de anêmicos na faixa etária de zero a cinco anos: dos avaliados, 44,2% tinham anemia ferropriva.

Metodologia

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal). A equipe foi integrada pelas pesquisadoras e professoras da Faculdade de Nutrição (Fanut) da Ufal, Giovana Longo-Silva, Risia Menezes, Maria Alice Oliveira, Leiko Asakura, Ana Paula Clemente, quatro mestrandas e sete graduandas.

Diretores, educadores, cozinheiros e mães responderam a questionários sobre alimentação, nutrição e saúde. O estado nutricional (medição de peso e estatura) e a dosagem de hemoglobina (exame que verifica se tem anemia) de todas as crianças também foram avaliados.

As mães ainda foram questionadas sobre a oferta e a duração do aleitamento materno, bem como a idade em que seus filhos haviam consumido uma série de alimentos pela primeira vez. E foi a partir dessas respostas que se chegou a dados alarmantes sobre os hábitos alimentares nos primeiros anos de vida.

Doenças

O consumo precoce e continuado desses alimentos, advertiu Longo-Silva, leva ao incremento de doenças crônicas não transmissíveis, a exemplo de diabetes, hipertensão, colesterol alto, dislipidemia, síndrome metabólica, câncer, entre tantas outras. “Há o aumento de mais de 50% na incidência dessas doenças na população infantil. Males que antes só acometiam os adultos, hoje ocorrem em crianças na primeira infância por causa dessa alimentação tão ruim como foi revelada pelo Sinucri”.

Os primeiros levantamentos do Sinucri já resultaram na elaboração do livro Saúde e Nutrição em Creches e Pré-escolas: um olhar para Maceió, que será lançado em abril deste ano pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal). Exemplares serão entregues aos gestores e a cada uma das unidades de educação infantil.