07/10/2016 18h38 - Atualizado em 07/10/2016 21h37

Universitário que intimidou alunos da Ufal se retrata nas redes sociais

Ele e outro rapaz rasgaram cartazes e ameaçaram professora no ICHCA.
Reitora da Ufal denuncia o caso a Polícia Federal e pede punição.

Derek Gustavo e Waldson CostaDo G1 AL

Antonio David utilizou as redes sociais para se retratar com a comunidade acadêmica da Ufal (Foto: Reprodução/Facebook)Antonio David utilizou as redes sociais para se retratar com a comunidade acadêmica da Ufal (Foto: Reprodução/Facebook)

Antonio David, um dos envolvidos na invasão e intimidação de estudantes do bloco do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), usou as redes sociais para se retratar do ocorrido.

Ele apagou o post anteriou que continha a imagem dele e do um suposto militar e, em uma nova postagem feita nesta sexta-feira (7), pediu desculpa e alegou que “nem todos os fatos imputados [a ele] são verdadeiros”.

Na postagem, ele pediu desculpa à comunidade acadêmica e a sociedade pelos constragimentos gerados pelos atos e disse que foi infeliz ao brincar com o cenário político que o país está passando.

"Em nenhum momento tive a intenção de vincular o ato à violência física, verbal e moral a qualquer pessoa (professor, aluno, funcionário) presente nas dependências do ICHCA. Afirmo a ausência de qualquer sentimento de ódio ou rancor vinculado à minha conduta, o que disse e publiquei se constitui de um momento infeliz", falou.

A reportagem do G1 tentou contato com Antonio David para ele falar sobre o rapaz vestido de militar, mas ele não atendeu às ligações.

Protesto
A publicação de retratação ocorreu em paralelo ao protesto promovido por estudantes do ICHCA. Na ocasião, um grupo distribuiu faixas e cartazes pelo prédio da instituição e solicitaram apuração do caso e punição dos envolvidos na história.

Estudantes da Ufal fizerma manifestação contra o fascismo no bloco do ICHCA (Foto: Natália Normande/G1)Estudantes da Ufal fizerma manifestação contra o fascismo no bloco do ICHCA (Foto: Natália Normande/G1)


Investigação
A reitora da Ufal, Valéria Correia, encaminhou uma denúncia à Polícia Federal para que o caso registrado no prédio do ICHLA seja investigado. Acompanhada do procurador federal Fabrício Cabral e do assessor jurídico Basile Christopoulo, eles entregaram um ofício e documentos que mostram prints de conversas suspeitas na rede social Facebook.

Valéria Correia afirmou que a ocorrência no Instituto foi antidemocrática, além de ter criado um clima de insegurança, intolerância e animosidade. "Eles provocaram uma guerra. A Universidade é o lugar do livre pensar, da pluralidade. Se não podemos fazer isso no nosso espaço, onde faremos?", questionou a reitora, que manifestou preocupação com a integridade física de alunos e professores não só do Instituto, como de todo o Campus.

Reitora da Ufal se reuniu com delegado da PF para discutir caso de violência na Ufal (Foto: Divulgação/Ufal)Reitora da Ufal se reuniu com delegado da PF para discutir caso de violência na Ufal (Foto: Divulgação/Ufal)


Polêmica
Segundo postagem feita pelo próprio David na tarde de terça (4), ele e um rapaz vestido de militar – mas que, segundo o Exército, não tem ligação alguma com a instituição - foram ao prédio do ICHCA e arrancaram cartazes e panfletos que defendiam o socialismo.

Nessa publicação, David afirma que a ação durou cerca de 40 minutos, e que o outro rapaz estava armado. Ele disse também que defende a “repressão constante e massiva” de estudantes favoráveis ao socialismo, e ameaçou levar “uma tropa para limpar esse pandemônio”, fazendo alusão ao prédio dos cursos de ciências sociais.

Segundo a assessoria de comunicação da Ufal, a dupla também chegou a agredir uma professora verbalmente, além de ameaçar colocar uma bomba no prédio da instituição. A universidade afirmou que acionou a Procuradoria Federal para investigar o caso. O Exército estuda possíveis punições ao rapaz que se passou por militar.

Na postagem feita nesta sexta, David diz que visitou a universidade no que chama de “momento infeliz”, e que a intenção não era fazer mal a ninguém (leia a postagem na íntegra no fim do texto).

“Sem pensar, me empolguei vendo as imagens dos filósofos e posei para a foto [que ilustrou a postagem feita por ele na terça], logo após descrevendo coisas que não podia, criando-se o fato que gerou tudo isto, mas minha intenção não era essa e em nenhum momento estive ali para efetuar mal a ninguém”, afirma o universitário.

Ele continua dizendo que após o fato descrito na publicação anterior, almoçou no próprio ICHCA e saiu do campus normalmente.

“Em nenhum momento tive a intenção de vincular o ato à violência física, verbal e moral a qualquer pessoa (professor, aluno, funcionário) presente nas dependências do ICHCA. Afirmo a ausência de qualquer sentimento de ódio ou rancor vinculado à minha conduta, o que disse e publiquei se constitui de um momento infeliz”, prossegue.

O universitário conclui o texto reconhecendo que agiu duramente nas declarações contidas na publicação que gerou revolta entre os estudantes da universidade. “Espero em outro momento ter a oportunidade de manifestar meu pensamento de forma respeitosa às diferentes maneiras de agir e pensar numa sociedade democrática”.

Foto feita em painel no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA) da Ufal repercutiu nas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)Foto feita em painel no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes (ICHCA) da Ufal repercutiu nas redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)

Confira a nota na íntegra:

PEDIDO DE RETRATAÇÃO

À Comunidade Acadêmica da Universidade Federal de Alagoas e à Sociedade Alagoana

Diante dos fatos, das imagens e dos comentários divulgados na minha página pessoal do Facebook na última terça-feira, 04/10/2016, venho publicamente me retratar perante à comunidade acadêmica da Universidade Federal de Alagoas (docentes, discentes, técnicos administrativos) e à sociedade alagoana, em face da repercussão e constrangimento causados.

Esclareço que nem todos os atos imputados a mim são verdadeiros, pelo contrário, visitando a universidade como sou universitário, me sentia em casa, em um momento infeliz, lembrando do quadro político que passa o Brasil, sem pensar, me empolguei vendo as imagens dos filósofos e posei para a foto, logo após descrevendo coisas que não podia, criando-se o fato que gerou tudo isto, mas, minha intenção não era essa e em nenhum momento estive ali para efetuar mal a ninguém, após posar para a foto, me senti tão a vontade que fui almoçar no restaurante em meio a tantas pessoas, sendo assim, quem têm a intenção de fazer mal a alguém não permanece a vontade no local, permaneci a vontade e sai calmamente do campus. Em nenhum momento tive a intenção de vincular o ato à violência física, verbal e moral a qualquer pessoa (professor, aluno, funcionário) presente nas dependências do ICHCA.

Afirmo a ausência de qualquer sentimento de ódio ou rancor vinculado à minha conduta, o que disse e publiquei se constitui de um momento infeliz.

Sou acadêmico de engenharia civil, tenho 21 anos, prezo incessantemente pela minha família, meus amigos e, principalmente, pela ordem pública. Admito que agi de forma dura nas declarações contidas no texto e comentários publicados. Espero em outro momento ter a oportunidade de manifestar meu pensamento de forma respeitosa às diferentes maneiras de agir e pensar numa sociedade democrática.

Maceio/AL, 07 de outubro de 2016.
Antonio David

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