03/09/2016 13h28 - Atualizado em 03/09/2016 13h28

Falta de cadastro integrado dificulta busca por desaparecidos em Alagoas

Polícia Civil diz que registra casos de forma independente, por delegacias.
Exame de DNA ajuda no reconhecimento, mas isso está sendo feito em PE.

Carolina SanchesDo G1 AL

Família de Yasmim Rodrigues espalhou cartazes coma foto dela pelas ruas de Maceió (Foto: Reprodução/TV Gazeta)Família de Yasmim Rodrigues espalhou cartazes coma foto dela pelas ruas de Maceió (Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Há três meses, a família de Yasmim Rodrigues, de 7 anos, divulga imagens e faz apelos nas redes sociais para tentar localizá-la. A menina desapareceu quando brincava na frente de casa, na periferia de Maceió. Casos como esse deveriam ser acompanhados de perto, mas o estado sequer tem um banco de dados que possa contabilizar a quantidade exata de pessoas desaparecidas em Alagoas.

Mãe de Yasmin Rodrigues chora ao falar da filha (Foto: Reprodução/TV Gazeta)Mãe de Yasmin Rodrigues chora ao falar da filha
(Foto: Reprodução/TV Gazeta)

Depois que Yasmim sumiu, a família procurou o Conselho Tutelar e foi encaminhada para a Delegacia da Criança e do Adolescente, onde foi feito um Boletim de Ocorrência.

“Na delegacia, fizeram o registro do caso, mais nada. Passaram três meses e continuamos sem informação”, falou ao G1 a mãe da menina, Luciana Rodrigues.

No estado não existe um cadastro integrado de desaparecidos que poderia ajudar nas investigações. Especialistas afirmam que isso poderia ajudar para que a polícia de outros estados pudessem ter informações sobre pessoas que sumiram em Alagoas e foram levadas para outras localidades.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou que o órgão não possui um banco de dados de desaparecidos e que esse registro é feito de forma independente, em cada distrito. Para a polícia, não há como contabilizar o número exato dessas ocorrências porque alguns casos são investigados como sequestro ou possível homicídio.

O Conselho Tutelar também não contabiliza os casos de sumiço de crianças ou adolescentes. Segundo o conselheiro Luiz Expedito, o Lula, não existe um trabalho integrado para esses casos. “Nós encaminhamos a família para a Delegacia da Criança e do Adolescente e damos apoio. O ideal seria ter um trabalho integrado com outros órgãos, mas isso não existe”, comentou.

Delegacia da Criança e do Adolescente tem fotos de desaparecidos em mural (Foto: Carolina Sanches/G1)Delegacia da Criança e do Adolescente tem fotos de desaparecidos em mural (Foto: Carolina Sanches/G1)

Na delegacia especializada, a ferramenta de fácil acesso a informações de desaparecidos é um mural com fotos de crianças. O chefe de operações Alan Barbosa informou que atualmente estão sendo investigados sete casos. “Quando a pessoa chega para prestar queixa, fazemos o Boletim de Ocorrência e depois colocamos um cartaz com a foto”, disse.

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) afirma que um banco de dados do Departamento de DNA Forense poderia auxiliar nas buscas por pessoas desaparecidas, mas ele não funciona há três anos.

A ideia era reunir informações que pudessem ser acessadas por qualquer pessoa, facilitando a identificação de pessoas que sumiram por meio de um site, mas, segundo o professor e chefe do departamento, Luiz Antônio Ferreira da Silva, era preciso uma ação conjunta para que a plataforma funcione de forma eficiente.

Ele contou que, quando a proposta surgiu, foi elaborado um projeto piloto que permitiria que o sistema fosse atualizado por policiais ou conselheiros que recebem esses casos. "Estávamos pagando o servidor do site com nosso recurso, e como não houve um grande interesse, ele foi retirado do ar”.

No banco de dados, segundo o professor, seria possível cadastrar material genético de familiares de desaparecidos e de corpos encontrados sem identificação. “Nós teríamos o DNA da família do desaparecido e dos corpos que ficam no IML e isso poderia ajudar muito a fazer o reconhecimento, se a família estivesse cadastrada”, disse.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que já tem em andamento o projeto de  um site que vai reunir todas as informações de desaparecidos. Ele vai estar acessível a qualquer pessoa que queira buscar ou fornecer informações sobre pessoas que estão sendo procuradas, e deve ser lançado em breve.

Banco de dados está desatualizado em Alagoas (Foto: Reprodução)Site hospedava o Banco de Bados, mas funcionava de forma precária (Foto: Reprodução)

Exames de DNA são feitos em Pernambuco
Depois de fazer a queixa na polícia, familiares de desaparecidos também procuram informações no Instituto de Medicina Legal (IML) para verificar se algum corpo achado sem identificação é do seu parente.

Quando o corpo não pode ser reconhecido, é preciso realizar um exame de DNA. Mas, há dois meses, o exame que era feito em Alagoas é realizado no estado vizinho, Pernambuco. A mudança fez com que o resultado demorasse mais para sair.

Por muitos anos, os exames de DNA da Perícia Oficial de Alagoas eram feitos no Laboratório de DNA Forense da Ufal, mas o convênio com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) foi encerrado em 2014.

Segundo as assessorias de imprensa da Perícia Oficial e da SSP, o pedido de renovação feito pelo Estado foi negado pelo coordenador do laboratório.

Depois disso, foi firmado um outro convênio com o Programa de Identificação Humana e Diagnóstico Molecular da Ufal.

Mas o convênio com a Ufal foi suspenso em maio deste ano. "O convênio com o programa foi suspenso porque foi questionado pela Procuradoria Federal por precisar de uma adequação do local para o procedimento ser feito", explicou o vice-reitor da universidade, José Vieira da Cruz.

A assessoria da Perícia Oficial explicou que desde então o exame está sendo feito em Pernambuco até que o novo Laboratório Forense do Instituto de Criminalística (IC), que está com obras em andamento, seja entregue. A unidade será responsável pelos exames nas áreas de química, toxicologia e biologia forense.

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