Há três meses, a família de Yasmim Rodrigues, de 7 anos, divulga imagens e faz apelos nas redes sociais para tentar localizá-la. A menina desapareceu quando brincava na frente de casa, na periferia de Maceió. Casos como esse deveriam ser acompanhados de perto, mas o estado sequer tem um banco de dados que possa contabilizar a quantidade exata de pessoas desaparecidas em Alagoas.
(Foto: Reprodução/TV Gazeta)
Depois que Yasmim sumiu, a família procurou o Conselho Tutelar e foi encaminhada para a Delegacia da Criança e do Adolescente, onde foi feito um Boletim de Ocorrência.
“Na delegacia, fizeram o registro do caso, mais nada. Passaram três meses e continuamos sem informação”, falou ao G1 a mãe da menina, Luciana Rodrigues.
No estado não existe um cadastro integrado de desaparecidos que poderia ajudar nas investigações. Especialistas afirmam que isso poderia ajudar para que a polícia de outros estados pudessem ter informações sobre pessoas que sumiram em Alagoas e foram levadas para outras localidades.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil confirmou que o órgão não possui um banco de dados de desaparecidos e que esse registro é feito de forma independente, em cada distrito. Para a polícia, não há como contabilizar o número exato dessas ocorrências porque alguns casos são investigados como sequestro ou possível homicídio.
O Conselho Tutelar também não contabiliza os casos de sumiço de crianças ou adolescentes. Segundo o conselheiro Luiz Expedito, o Lula, não existe um trabalho integrado para esses casos. “Nós encaminhamos a família para a Delegacia da Criança e do Adolescente e damos apoio. O ideal seria ter um trabalho integrado com outros órgãos, mas isso não existe”, comentou.
Na delegacia especializada, a ferramenta de fácil acesso a informações de desaparecidos é um mural com fotos de crianças. O chefe de operações Alan Barbosa informou que atualmente estão sendo investigados sete casos. “Quando a pessoa chega para prestar queixa, fazemos o Boletim de Ocorrência e depois colocamos um cartaz com a foto”, disse.
A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) afirma que um banco de dados do Departamento de DNA Forense poderia auxiliar nas buscas por pessoas desaparecidas, mas ele não funciona há três anos.
A ideia era reunir informações que pudessem ser acessadas por qualquer pessoa, facilitando a identificação de pessoas que sumiram por meio de um site, mas, segundo o professor e chefe do departamento, Luiz Antônio Ferreira da Silva, era preciso uma ação conjunta para que a plataforma funcione de forma eficiente.
Ele contou que, quando a proposta surgiu, foi elaborado um projeto piloto que permitiria que o sistema fosse atualizado por policiais ou conselheiros que recebem esses casos. "Estávamos pagando o servidor do site com nosso recurso, e como não houve um grande interesse, ele foi retirado do ar”.
No banco de dados, segundo o professor, seria possível cadastrar material genético de familiares de desaparecidos e de corpos encontrados sem identificação. “Nós teríamos o DNA da família do desaparecido e dos corpos que ficam no IML e isso poderia ajudar muito a fazer o reconhecimento, se a família estivesse cadastrada”, disse.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que já tem em andamento o projeto de um site que vai reunir todas as informações de desaparecidos. Ele vai estar acessível a qualquer pessoa que queira buscar ou fornecer informações sobre pessoas que estão sendo procuradas, e deve ser lançado em breve.
Exames de DNA são feitos em Pernambuco
Depois de fazer a queixa na polícia, familiares de desaparecidos também procuram informações no Instituto de Medicina Legal (IML) para verificar se algum corpo achado sem identificação é do seu parente.
Quando o corpo não pode ser reconhecido, é preciso realizar um exame de DNA. Mas, há dois meses, o exame que era feito em Alagoas é realizado no estado vizinho, Pernambuco. A mudança fez com que o resultado demorasse mais para sair.
Por muitos anos, os exames de DNA da Perícia Oficial de Alagoas eram feitos no Laboratório de DNA Forense da Ufal, mas o convênio com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) foi encerrado em 2014.
Segundo as assessorias de imprensa da Perícia Oficial e da SSP, o pedido de renovação feito pelo Estado foi negado pelo coordenador do laboratório.
Depois disso, foi firmado um outro convênio com o Programa de Identificação Humana e Diagnóstico Molecular da Ufal.
Mas o convênio com a Ufal foi suspenso em maio deste ano. "O convênio com o programa foi suspenso porque foi questionado pela Procuradoria Federal por precisar de uma adequação do local para o procedimento ser feito", explicou o vice-reitor da universidade, José Vieira da Cruz.
A assessoria da Perícia Oficial explicou que desde então o exame está sendo feito em Pernambuco até que o novo Laboratório Forense do Instituto de Criminalística (IC), que está com obras em andamento, seja entregue. A unidade será responsável pelos exames nas áreas de química, toxicologia e biologia forense.