12/02/2017 13h02 - Atualizado em 12/02/2017 16h11

Teatro faz melhorar desempenho de alunos da rede pública de Alagoas

Alunos dizem absorver conteúdos mais facilmente; pais elogiam mudança.
Alguns dos jovens atores tomaram gosto e pretendem seguir carreira.

Derek GustavoDo G1 AL

O teatro tem o poder de transportar o público para outros mundos e épocas, através de histórias encenadas no palco. A experiência é enriquecedora para quem assiste, mas em Maceió ela é ainda mais enriquecedora para os atores, estudantes de escolas públicas da capital e de outras instituições de ensino que viram melhorar o desempenho em sala de aula e em casa desde que começaram a atuar.

Esses alunos participam de um curso gratuito, oferecido no Teatro Linda Mascarenhas, que fica ao lado do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas (Cepa), no bairro do Farol (assista a trechos dos ensaios no vídeo acima).

Michelly Rodrigues, 18, já terminou o colégio, mas tomou gosto pelo teatro e continua frequentando as aulas com a irmã mais nova. Ela conta que, como tinha que decorar textos naquela época, acabou treinando a memória para guardar mais facilmente o que aprendia em sala de aula.

As duas andavam muito desligadas, mas agora prestam mais atenção em tudo. Até melhoraram o humor em casa".
Flávia da Silva Rodrigues, mãe de duas estudantes que participam do grupo de teatro

“O curso me ajudou muito na escola. Enquanto decorava os textos, os exercícios me ajudavam a decorar os assuntos das provas. Isso acabou deixando mais fácil. Além disso, eu era muito tímida, e acabei melhorando até nos trabalhos em grupo”, conta a estudante.

A mãe de Michelly, a auxiliar de serviços gerais Flávia da Silva Rodrigues, concorda com a filha, e ainda cita outras mudanças que também percebeu.

“Depois que ela e a irmã começaram a fazer parte do teatro e de outras atividades extracurriculares, parei de receber ligações com reclamações. As duas andavam muito desligadas, mas agora prestam mais atenção em tudo. Até melhoraram o humor em casa”, relata Flávia.

Quem também aponta uma melhora no lado emocional depois de entrar no curso é Levi Mendonça, 18. Ele é de Belo Horizonte, e quando chegou em Maceió, por volta dos 15 anos de idade, enfrentou um problema de adaptação na nova escola. Ele voltou para BH por um período, para depois retornar de vez à capital alagoana.

Parte da turma do curso de teatro do Linda Mascarenhas: participação fez com o desempenho deles em sala melhorasse (Foto: Derek Gustavo/G1)Parte da turma do curso de teatro do Linda Mascarenhas: participação fez com o desempenho deles em sala melhorasse (Foto: Derek Gustavo/G1)

“Quando voltei para cá, me disseram que aqui tinha curso de teatro, e que era gratuito. Resolvi vir e minha mãe veio comigo. Comecei em setembro do ano passado. Eu cheguei aqui com um problema de timidez, nervoso, sem saber falar. Aí minha primeira cena aqui foi logo de beijo. Com o passar do tempo, esses problemas foram todos sumindo”, afirma Levi.

Situação parecida viveu Yuri Cavalcante, 17, que está no curso desde janeiro deste ano. “No ano passado eu enfrentei alguns problemas pessoais, que afetaram um pouco meu comportamento e minha relação com as pessoas. Fui superando aos poucos, e aqui no teatro me senti bem melhor. Tem sido uma verdadeira terapia. Até voltei a estudar bastante em casa, e minhas notas melhoraram”.

Outros alunos do curso com quem a reportagem teve a oportunidade de conversar disseram que o teatro também proporcionou a eles o contato com histórias, autores e músicas que eles não conheciam e nunca tinham sido abordadados em sala de aula.

O diretor de teatro Carlos Alberto Barros é o professor do curso, que atualmente conta com cerca de 40 alunos e tem apoio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc).

Segundo ele, os estudantes são principalmente das escolas do Cepa, por conta da proximidade com o Linda Mascarenhas, mas também de escolas particulares, cursos técnicos e até de universidades da capital.

“Começamos há uns 4 anos, após um experimento que eu e uma colega professora de português no Cepa fizemos com uma das turmas dela. Tudo iniciou pensando em como interferir no desempenho dos alunos, e acreditamos que agora estamos colhendo os frutos. Esses meninos e meninas são todos muito inteligentes. Eles saem convidando os amigos para participar”, conta Barros.

Atualmente, a turma está apresentando a peça “Confissões Adolescentes: A Primeira Vez a Gente Nunca Esquece”, baseada no livro de mesmo nome, escrito por Maria Mariana, mas com algumas adaptações feitas pelos alunos. O cenário também foi feito por eles.

A história retrata o comportamento dos jovens diante da sexualidade, primeiro amor e outras coisas comuns a pessoas das idades deles.

“A gente aqui tem contato com os pais. Muitos deles não queriam que os filhos fizessem teatro, mas depois de verem o que fazemos aqui, eles abrem a mente e dão apoio. Eu trato os meninos e meninas como um diretor teatral trataria. Essa é a busca desses alunos, externada por eles, e isso afeta a vida de todos positivamente, livrando as mentes deles de preconceitos”, conclui Barros.

Estudantes do Cepa apresentam espetáculo Confissões Adolescentes  (Foto: Divulgação/Seduc)Estudantes do Cepa apresentam espetáculo Confissões Adolescentes (Foto: Divulgação/Seduc)

Carreira
O curso de teatro é uma atividade extra para os estudantes, mas têm alguns deles que acabam tomando gosto e decidem se profissionalizar. É o caso da Michelly, do Levi e do Flávio Danilo, 18. Todos eles estão tentando uma vaga para a Escola Técnica de Artes (ETA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

“Sempre quis fazer teatro, mesmo com meus pais querendo que eu ‘fizesse alguma coisa que desse dinheiro’. Estou esperando resposta do ETA. Se não der esse ano, tento de novo no ano que vem”, conta Levi.

A Michelly já está na faculdade, cursando Letras, mas o desejo mesmo é seguir a carreira artística. “Quero fazer dança e teatro na ETA. Sempre gostei muito de tudo que envolve arte, aí, quando entrei aqui [no curso], percebi que o palco é meu lugar. A ficha caiu, sabe?”.

Já o Flávio pretende fazer o curso de moda. Ele diz que vai utilizar o que aprendeu no curso de teatro. “Aqui a gente aprende a lidar com o público, questão de espaço, palco, a questão artística. Está tudo envolvido”.

“Nós três temos um plano de terminar a ETA e ir para São Paulo, tentar a vida lá. Aqui em Maceió as pessoas não dão tanto valor à cultura, infelizmente”, avalia Levi.

Flávio, Michelly e Levi tomaram gosto pelo curso e pretendem seguir carreira. Eles tentam uma vaga na escola de artes da Ufal (Foto: Derek Gustavo/G1)Flávio, Michelly e Levi tomaram gosto pelo curso e pretendem seguir carreira. Eles tentam uma vaga na escola de artes da Ufal (Foto: Derek Gustavo/G1)

 

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