Por Derek Gustavo, G1 AL


Faxineira grava vídeos para a internet com composições próprias

Faxineira grava vídeos para a internet com composições próprias

Realizar o sonho de viver de música exige não só talento, mas também muito esforço. Um objetivo que a alagoana Marileide da Fonseca, 49, ainda tenta conseguir. Ela trabalha como faxineira na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), mas também compõe e canta músicas de forró, e usa a internet para mostrar suas canções em busca de um lugar ao sol.

Marileide já tem até nome artístico: Lady Mari (uma brincadeira com seu próprio nome). Ela conta que o interesse pela música surgiu quando ainda era muito nova.

“Eu nasci em Colônia Leopoldina [no interior de Alagoas]. Minha mãe conta que quando eu era pequena, um ano e pouco mais ou menos, ficava me balançando quando alguém cantava ou assobiava perto de mim. Quando cresci mais um pouco, ficava cantando pelo sítio onde morava”, diz Marileide.

Ela concluiu o ensino médio e tem habilitação em magistério, que a permite dar aulas para estudantes de educação infantil. Qundo veio para Maceió, há 20 anos, trabalhou em vários lugares antes de chegar à Ufal, oito anos atrás. Atualmente, a cantora é auxiliar de serviços gerais no bloco de Matemática, onde grava seus vídeos para a internet.

“Todo mundo me vê cantando aqui [na Ufal] enquanto trabalho. Aí um dia, o Lucas [um aluno] veio e me perguntou se podia colocar na internet, de brincadeira, né? Ele pôs no canal dele e de repente, comecei a receber mensagens da Bahia, de São Paulo. O pessoal está gostando da música”, conta.

Marileide grava seus vídeos em uma sala de aula na Ufal — Foto: Derek Gustavo/G1

O primeiro vídeo, da música “Não Lave a Roupa”, que fala de uma mulher que se recusa a lavar a roupa da amante do marido, foi publicado há oito meses e já foi visto mais de 1,5 mil vezes. Até o momento, é o mais visualizado.

Depois desse, foram mais 8 vídeos, com músicas como “Eu pedi mas você não deu o número do celular”, “Um amigo em Goiás” e “A matemática e a princesa do Nordeste”. Marileide até criou um canal próprio no Youtube para divulgar suas criações, todas devidamente registradas.

“A gente faz o registro pela internet. Estou pagando o registro de cada uma delas. Ainda tem três que eu não registrei”, diz.

Para filmar e registrar as músicas, Marileide conta com a ajuda de alunos do curso. Um deles, que a auxilia com a parte que envolve a internet, é o Cícero Calheiros dos Santos.

“Eu ajudo ela a registrar [as músicas] no site. Eu vejo a alegria dela e isso é muito bom. Fico na torcida para que dê certo para ela”, afirma o estudante.

Auxiliar de serviços gerais mostra os certificados de registro das músicas que compôs — Foto: Derek Gustavo/G1

Inspiração

A primeira música Marileide compôs há 10 anos, mas só começou a gravar ou anotar as criações recentemente.

“A inspiração vem de Deus. Ele que me deu esse dom. A música vem toda na minha mente de uma vez, letra e melodia. Aí eu paro o que estiver fazendo e escrevo. É muito rápido. Até comprei um celular para gravar minha voz e depois passar para o papel, para não esquecer. Cada música tem um ritmo próprio. Eu não pego nada de ninguém”, relata.

A cantora garante também que nenhuma das canções são inspiradas por alguma experiência que tenha vivido, e conta, com um sorriso no rosto, que as pessoas que convivem com ela gostam do seu talento.

“O pessoal gosta muito. Tem um professor que nem é brasileiro, o Valter, do Peru. Eu chegava cedo, começava a cantar. Eu parava quando ele chegava, mas ele pedia para eu continuar cantando”, diz.

Outra professora, Juliana Theodoro de Lima, diz que a cantora é um diferencial no lugar. “Todos os dias de manhã a gente chega para trabalhar e encontra ela cantando. É um diferencial para a gente. Nunca vi a Marileide triste. Ela é simpática, todo mundo gosta dela.

Um aluno de Matemática que nunca tinha ouvido a auxiliar de serviços gerais cantando acompanhou a gravação do vídeo para a reportagem. “Achei muito bom. Ela tem talento. Quem investir, vai se dar muito bem”, afirma o estudante Daniel Rosa.

Marileide nunca fez shows nem gravou nenhum CD, por falta de dinheiro, e sonha em viver de música, cantando ou vendendo suas letras. Solteira, a artista também espera que a fama pode até lhe trazer um amor. “Depois disso [de aparecer no G1], vai chover pretendente”, brinca.

Marileide trabalha na Ufal há oito anos — Foto: Derek Gustavo/G1

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