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13/08/2018 às 08h04

Cultura

A ATA, de Linda Mascarenhas a Ronaldo de Andrade

Uma história na memória e futuro da cultura teatral em Alagoas

Divulgação

Eliane Aquino

Prestes a completar 63 anos de fundação, a Associação Teatral de Alagoas (ATA) é hoje uma instituição consolidada em Alagoas, garante seu presidente Ronaldo de Andrade. Mas para a ATA chegar até aqui, a história nos revela uma verdadeira peregrinação de lutas para se superar preconceitos e falta de recursos financeiros, que teve à frente Linda Mas­carenhas, atriz, teatróloga e líder feminista. Se nos tempos atuais fazer teatro no Brasil e especificamente em Alagoas ainda requer muita coragem pessoal, nos anos 40, 50, era quase impossível se pensar nisso como uma profissão. 

Mas Linda Mascarenhas pensou. Junto com alguns grupos que começaram a surgir por volta de 1944, ela fez parte de um movimento que durou praticamente uma década e, em 1952 criou-se o Teatro de Amadores de Maceió (TAM), com Linda no comando. “Atividades teatrais, mesmo amadoras, não eram recomendáveis para senhoras e moças de ‘boa família’ par­ticiparem.  Linda enfrentou este problema nos dois momentos com obstinada re­sistência e, certamente, motivada pela aguda clarividência que possuía sobre os direitos da mulher. Em dois anos ela con­solidou o funcionamento regular do “TAM”, conta Ronaldo.

Não era só fora do palco que Linda enfrentava as adversidades, dentro do movimento o machismo também se fez presente. “Os homens do TAM quiseram valer seus pontos de vista contrários ao de Linda e ela se afastou do grupo de forma voluntária e elegante”, acrescenta Ronaldo de Andrade, afirmando que isso, tam­pouco, a fez se afastar da luta. “O seu pres­tígio como animadora e diretora do movimento teatral no estado era patente, inquestionável, e por isso os jovens que queriam fazer teatro corriam em busca de seu apoio”, reforça, dando como exemplo a Ala Jovem do CRB, que procurou Linda para ela dirigir o Centro Cultural do time.

“Oficializada no cargo de diretora, ela iniciou os trabalhos para a montagem de um espetáculo que seria dirigido pelo jovem Bráulio Leite Junior. A iniciativa ama­dureceu, mas o espetáculo não ocorreu. As razões não sabemos”, diz o presidente da ATA. Mas esse fato motivou vários inte­grantes dessa ala do CRB, o professor Luís Lavenére e algumas sócias da Federação Alagoana pelo Progresso Feminino a fundarem, em 12 de outubro de 1955 a Associação Teatral de Alagoas (ATA). Linda foi eleita por unanimidade da assembleia, Presidente Perpétua do novo movimento”, diz o presidente da instituição.

No passo da história

Focada em dar vida e funcionalidade à ATA, Linda promoveu em 1957 um concurso de peças teatrais, o primeiro realizado em Alagoas. “Esse concurso lançou Pedro Onofre como dramaturgo, criou-se a Associação dos Cronistas Tea­trais de Alagoas (ACATA), e levou a ATA a participar de Festivais de Teatros que começavam a se multiplicar de Norte a Sul do Brasil”, enfatiza Ronaldo, informando que Linda ainda criou dentro da ATA o núcleo de Teatro Infantil. “Isso significa que a ATA, com Linda, estava estrategicamente preparada para ser sucesso”, reforça. E aí, inicia-se as dificuldades finan­ceiras do grupo.

Era preciso inovar, buscar a criatividade de gestão. Linda, então, criou a So­ciedade dos Amigos da ATA (SOAMATA), que, segundo Ronaldo de Andrade, “foi de difícil administração e parcos resultados”. Porém ela não desistiu. E nem a ATA, agora já com cara de instituição através dos sucessos artísticos já apresentados. Foi tempo de se buscar e receber as cha­madas “subvenções federais anuais”, que chegaram através da bancada federal de parlamentares do Estado, como os man­datos de Oséas Cardoso, Arnon de Mello, Teotônio Vilela e Major Luiz Cavalcante.

No início da década de 1970, Linda foi ao Rio de Janeiro e contratou Lauro Gomes para dirigir a tragédia grega Hipólito, de Eurípedes. Lauro implantou na ATA os procedimentos do Teatro de Parti­cipação e Vanguarda. Com essa espécie de “Método de Trabalho”, a ATA foi iniciada para a produção em grupo, efetivamente o trabalho ficou mais produtivo. “Lauro Gomes nos formou neste sentido e Linda compartilhou conosco, os seus “Meninos da ATA”, a administração. Aqui se insurge mais uma ação premente para a perenidade da ATA, o trabalho em grupo, ou o conceituado Teatro de Grupo”, salienta Ronaldo de Andrade.  Linda Mascarenhas faleceu em 9 de junho de 1991.

A ATA foi revitalizada no começo da década de 1990, pelas mãos de seus atores e atrizes. Hoje, presidida por Ronaldo de Andrade, mantém uma sede para reuniões e um depósito para os cenários e figurinos, além de um escritório administrativo, na residência do presidente da instituição. Fora das montagens de espetáculos, a ATA realiza quatro eventos regulares: Outubro da ATA, Maio Tea­tral, Bloco Carnavalesco Filhinhos da Mamãe, Concursos de Peças Tea­trais. Também mantém em funcionamento o Núcleo de Teatro Infantil e possui uma revista impressa e redes sociais (blog/facebook). Desde a década de 50 que é reconhecida como Entidade Civil de Utilidade Pública Municipal e de Utilidade Pública estadual.

Na cultura, uma resistência presente

A ATA se assemelha a um espaço para a cultura teatral, define Ronaldo, lembrando que o objetivo da instituição é cultivar a arte teatral e promover por todos os meios ao seu alcance, o desenvolvimento cultural e artístico entre os alagoanos. “A ATA já transcendeu a sua natureza de movimento cultural que em si mesmo preconiza uma finitude”, destaca, afirmando que a realidade atual é defender e estimular a sua perenidade, enquanto espaço para o desenvolvimento do teatro em Alagoas.

São nove sócios efetivos (atores, atrizes e diretores de teatro), que respaldam artisticamente a ATA. “Os sócios beneméritos compõem um quadro constituído por dramaturgos, cenógrafos, músicos, compositores, figurinistas e aderecistas, que nos auxiliam na realização das montagens”, elenca o presidente, destacando a parceria com a Universidade Federal de Alagoas através dos cursos de Teatro, do Espaço Cultural e da Escola Técnica de Artes. “Essa parceria é um elemento fundamental e facilitador para a sobrevivência da ATA”, explica.

Os recursos que bancam a instituição vêm dos editais estaduais e municipais e de doações, mas em algumas situações o presidente chega a fazer empréstimo para manter os custos. Diz Ronaldo que hoje, além dos eventos regulares, a ATA está com uma agenda de apresentações no 14ª Quintas no Arena, promovido pela Dire­toria dos Teatros de Alagoas (DITEAL), e trabalhando a produção, montagem e apresentações de Ämbiçao e Sangue”, de Lindianne Heliomarie, baseado no Macbeth de Shakespeare. 

Há ainda a possibilidade para 2018 da montagem da peça “Clausura”, de Gustavo Felix. “Estou coordenando um projeto para estudantes do curso de Teatro Licenciatura, pelo Proinart-Ufal, sobre a dramaturgia na ATA, fazendo o levantamento físico de todas as peças montadas pela ATA, uma espécie de resgate”, conta Ronaldo de Andrade, lamentando que o acervo biográfico da instituição, que era mantido na residência de Linda Mascarenhas, tenha se perdido depois que ela faleceu.

Há vida longa para a ATA? Ronaldo diz que sim. “Se não houver a ATA ou os demais e importantes coletivos de teatro em Alagoas, não haverá razão para se falar de política cultural no estado”, aponta ele. A instituição é formada atualmente por Ronaldo de Andrade, presidente, Lindianne Heliomarie, primeira secretária, Deaine Matteoni, tesoureira, e Juliana Teles, diretora artística.

Quem é:

Ronaldo de Andrade Silva, possui graduação em Psicologia pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió(1980), especialização em Teatro pela Universidade Federal da Paraíba(1986) e mestrado em Artes pela Universidade de São Paulo(1996). Atualmente é Professor assistente da Universidade Federal de Alagoas. Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Teatro. Atuando principalmente nos seguintes temas: História, Teatro, Cultura. Presidente da ATA e Presidente do Instituto Histórico, Artístico e Cultural Lajense.


Fonte: Painel Alagoas

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