Por Waldson Costa, G1 AL


Sergiana Santos diz que interiorização do ensino superior foi fundamental para continuar os estudos — Foto: Waldson Costa / G1

De merendeira a coordenadora do programa de Ciências Humanas na Secretaria de Educação do município onde mora. Sergiana Santos, 38, tinha apenas o ensino fundamental quando passou em um concurso público da prefeitura de Delmiro Gouveia, em 2006. Ela voltou a estudar, e hoje é mestre em antropologia social pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

O município em que Sergiana mora fica no Sertão do estado, a mais de 300 km de Maceió. “Em 2006, como só tinha o nível fundamental, fui aprovada no concurso público da educação como auxiliar administrativa e comecei a trabalhar na merenda. Em 2008 concluí o ensino médio e já nesta época tinha interesse em fazer um curso superior, mas isso só se concretizou com a chegada do Campus Sertão da Ufal, em 2009", conta.

O ingresso no ensino superior aconteceu graças ao processo de 'interiorização' das universidades públicas no país, projeto do governo federal que tinha como objetivo desenvolver as cidades e melhorar a vida das pessoas que estavam distantes das capitais.

E foi por meio deste processo que a ex-merendeira trocou a cozinha pela universidade e, anos mais tarde, após a graduação em história também pela Ufal, concluiu em janeiro deste ano o curso de mestrado.

"Fui da primeira turma de história, e lá enfrentamos uma série de dificuldades que iam da estrutura à falta de professores. Mesmo assim, concluímos o curso e em 2016 segui para o mestrado na Ufal Maceió”, relata.

Ao longo deste processo, assim como trocou o balcão da cozinha pela banca de mestrado, Sergiana trocou a função de merendeira pela de professora em uma turma de progressão que trabalha com alunos fora de faixa. Depois, diante do desempenho no trabalho e na formação, passou a atuar como coordenadora do programa de Ciências Humanas.

“O preconceito com os sertanejos é tão grande que até nós mesmos chegamos a pensar que não somos capazes. Não foi fácil chegar até aqui porque precisei abdicar de muita coisa, mas valeu a pena cada viagem que fiz de ônibus do Sertão até Maceió. A universidade mudou a minha forma de pensar e me fez entender sobre direitos e cidadania”, conta.

Com mais um ciclo fechado, Sergiana pretende seguir agora para o doutorado, já que segundo ela não tem mais tempo a perder.

“Não só pela minha experiência, mas também pela de outras pessoas, sei que a interiorização do ensino superior foi algo importante porque sem ela, muita gente que vive nas cidades do interior não teriam como fazer um curso superior, seja pelos custos ou pela dificuldade de deslocamento”, conclui.

Após trabalhar como merendeira, Sergiana Santos assumiu a coordenação de programa de Ciências Humanas da Secretaria de Educação de Delmiro Gouveia — Foto: Waldson Costa / G1

Interiorização em números

Com a interiorização da Ufal iniciada em 2004, atualmente a universidade conta com três campi: Maceió, Arapiraca e Sertão. O Campus Arapiraca integra as unidades de ensino de Penedo e Palmeira dos Índios; e o Campus do Sertão, localizado em Delmiro Gouveia, a unidade de ensino de Santana do Ipanema.

No município de Viçosa ainda há uma outra unidade que é vinculada ao Campus A.C. Simões, na capital.

Segundo a assessoria de comunicação da Ufal, atualmente a universidade mantém no interior do estado 24 cursos que contam com a presença de 8.660 estudantes.

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