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02/11/2018 às 08:38

Pesquisa coordenada pela Ufal aponta que ansiedade atinge mais mulheres

Moradores do bairro Benedito Bentes participaram da avaliação sobre ansiedade. Foto: Arquivo pessoal Moradores do bairro Benedito Bentes participaram da avaliação sobre ansiedade. Foto: Arquivo pessoal

Thamires Ribeiro – estagiária de Jornalismo

A ansiedade é um dos problemas que acabam comprometendo a qualidade de vida das pessoas, principalmente a das mulheres. Foi o que revelou uma pesquisa coordenada pela professora Cícera Albuquerque, da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar/Ufal). A avaliação foi realizada em dois meses, no ano de 2015 com 894 pessoas acima de 15 anos que residem no bairro Benedito Bentes, em Maceió.

De acordo com a coordenadora do estudo, a maioria das pessoas com transtornos ansiosos é de mulheres, maiores de 18 anos, que se autodeclararam pardas, sem companheiros, com filhos, usuárias do Sistema Único de Saúde [SUS] e com o extrato social vulnerável, em uma condição muito desfavorável.

“O trabalho tratou da ansiedade e qualidade de vida. Nós sabemos que o Brasil hoje é considerado o país da América Latina com o maior grau de ansiedade, com um nível muito alto, e o segundo de maior incapacitação por depressão. Quando se pega a ansiedade e qualidade de vida, a gente percebe que a ansiedade compromete a qualidade de vida das pessoas. A gente constatou uma alta prevalência de ansiedade, 36%, então é um nível altíssimo de ansiedade, imagine que de cada cem pessoas, 36 têm transtorno de ansiedade”, afirmou a professora Cícera Albuquerque.

Segundo a docente, vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno de ansiedade, como a estrutura familiar, as condições financeiras, o histórico de transtornos na família, desemprego, vulnerabilidade social e situações familiares graves. Para ela, são muitas as dificuldades das pessoas que possuem a doença.

“Em uma população de vulnerabilidade social a ansiedade reduz a qualidade de vida, comparado aquelas que não estão. Embora que, quando se trata de ansiedade, depressão ou qualquer transtorno mental ele não diz ‘vou bater à porta de quem é pobre e não vou bater à porta de quem é rico’, ou o inverso, ele é indiscriminado. Mas o que a gente percebe é que pessoas que têm ansiedade em uma condição de vulnerabilidade social, não têm acesso a serviços de saúde para tratar disso. O Centro de Atenção Psicossocial [Capes] do Benedito Bentes está no Jacintinho, então, ir lá implica em deslocamento, dinheiro para ir, às vezes precisa ter um atendimento intensivo de segunda a sexta... Imagina alguém que não tenha recursos financeiros?”, explicou Albuquerque. 

E para alertar a população e diminuir o índice de transtornos mentais foi realizado no bairro o projeto de extensão MoviMENTE Biu: A saúde itinerante em espaços do Benedito Bentes

“O projeto durou em torno de seis meses. Nós trabalhamos com ações educativas, prevenção e identificação precoce dos transtornos, trabalhamos com intervenção verificando pressão, avaliando as pessoas, fazendo atividades de Terapia Ocupacional. Fizemos isso em supermercado de grande repercussão, fomos para os terminais de ônibus e igrejas, fizemos um trabalho bem bacana entre os anos de 2015 e 2016”, disse a docente. 

Cícera Albuquerque ressalta que discutir o tema é de extrema importância, para que a população e os profissionais conheçam os transtornos e saibam lidar com eles.  

“Nós trabalhamos com uma população, mas nós vivemos a ansiedade nas nossas casas, na vida acadêmica, na sala de aulas e as vezes nós não estamos ligados nisso e gera bastante sofrimento. Então, eu queria chamar a atenção para o fato de que as pessoas precisam buscar ajuda, tomar consciência de que isso não é um defeito, é apenas um estado psíquico que precisa de tratar,e que pode ser controlado com medicação ou até exercícios físicos, dependendo do grau”, reforçou. E concluiu: “Não se deve deixar chegar ao ponto em que a pessoa perca o total controle de si, e às vezes, para se voltar do ponto anterior vai levar mais tempo. Quanto mais rápido se buscar o tratamento é melhor. A ansiedade pode contribuir para o surgimento de outros tipos de transtornos, então é preciso olhar e cuidar”. 

A avaliação

Para realizar o estudo foram utilizados sete instrumentos avaliativos: Questionários sociodemográficos, que avaliam a condição social; o Mini International Neuropsychiatric Interview (Mini), que avalia a condição de saúde mental; o World Health Organization Quality of Life (whoqol-bref), que avalia a qualidade de vida; Inventário de Depressão de Beck; Inventário de Suicídio de Beck; e o Assist, que avalia comportamento aditivo. 

Cerca de 40 pessoas participaram da aplicação dos instrumentos e avaliação, dentre elas alunos e professores da Ufal, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos, o Programa de Educação para o Trabalho (PET) Saúde Mental, integrantes da Universidade Tiradentes (Unit), profissionais do Programa de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a Gerência do Núcleo de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).

Reconhecimento

A partir do estudo epidemiológico foi feito um recorte sobre ansiedade e qualidade de vida, que resultou no único trabalho de Enfermagem premiado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na Reunião Anual deste ano. O trabalho foi um dos 34 da Ufal que receberam premiação ou menção honrosa durante o evento.

“Tivemos esse privilégio e esse reconhecimento da SBPC. O estudo é importante porque ele traz à tona o problema e a necessidade de uma ação que seja efetiva das políticas de saúde. Ele chama atenção para que as políticas de saúde se tornem eficazes na sua aplicação à população. A maioria das pessoas pesquisadas são usuárias do SUS, então, ele precisa estar equipado, acessível à comunidade e com profissionais qualificados. Os profissionais da atenção básica também precisam saber o cuidado, como fazer atenção à pessoa com ansiedade e que a ansiedade traz prejuízos deletérios a vida da pessoa”, afirmou a professora.





Fonte: Ascom Ufal

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