Por Fabiana Figueiredo, Ruanne Lima e Rogério Lameira, G1 AP — Macapá


Mosca da carambola é uma praga que pode causar prejuízos à agricultura; ela está presente no Amapá, Roraima e Pará — Foto: Danilo Nascimento/Embrapa/Reprodução

O combate à mosca da carambola, que causa diversos prejuízos à agricultura, deve tomar um novo viés no Brasil. O projeto de uma pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Amapá quer descobrir como tornar inférteis os machos da praga.

A proposta é financiada pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), uma organização autônoma ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), que funciona na Áustria.

Pesquisa está em fase inicial no Amapá e estuda comportamento de machos da mosca da carambola — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

A Bactrocera carambolae já foi identificada em mais de 20 tipos de frutas, segundo a Embrapa. A praga se prolifera de forma rápida e, muitas vezes, com a ajuda do próprio homem, quando ele, por exemplo, joga uma fruta contaminada no solo ou a transporta.

Os pesquisadores da Embrapa agora estudam formas de erradicar a praga no estado e apostam no uso de radiação ionizante para controlar a reprodução da mosca tornando o macho infértil. O financiamento também aposta na otimização da técnica de aniquilação de machos, que já é utilizada no país.

“A técnica do inseto estéril ainda não existe para a mosca da carambola. Ela já é utilizada para outras espécies de moscas de frutas e ela consiste em fazer uma irradiação dos ovos e os machos vão ser inférteis. Eles vão ser liberados na natureza, vão encontrar as fêmeas, que vão copular, mas não vão ter filhotes, e com isso a população da praga acaba reduzindo”, explicou a pesquisadora Cristiane Ramos de Jesus, que lidera a pesquisa.

Machos da mosca da carambola são estudados em laboratório — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Cristiane explica que o projeto ainda está em fase inicial, e prevê que ele deve ser concluído em 5 anos. São destinados cerca de 30 mil euros para os estudos. A pesquisadora reforça que a ideia é evitar que a praga atinja a economia do Brasil e de outros países.

Os estudos como o comportamento da mosca, sobrevivência e acasalamento ainda estão sendo feitos em laboratório. Também participam da iniciativa pesquisadores da Embrapa Clima Temperado, Embrapa Semiárido, Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Universidade Federal do Amapá (Unifap).

“Nosso projeto ainda é de estudos iniciais de comportamento, sexual da mosca, estudos de biologia e, juntamente com outros países que têm essa praga, vamos gerar subsídios para que, no futuro, a gente consiga ter essa técnica para combater a mosca da carambola”, detalhou Cristiane.

O irradiador que deve ser usado no projeto fica em Viena, na Áustria, onde há uma colônia da mosca da carambola, explicou a pesquisadora.

De acordo com o último levantamento realizado pela superintendência do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Amapá, a mosca só não foi identificada neste ano nos municípios de Pracuúba, Amapá, Vitória do Jari e Laranjal do Jari. Já os que possuem maior incidência da praga são Macapá, Oiapoque, Pedra Branca e Serra do Navio.

A mosca da carambola entrou no Brasil em 1996, pelo município de Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, e é considerada espécie invasora, originária do sudeste asiático.

Por muitos anos, a praga foi mantida sob controle, mas, em 2010 foi identificada em Roraima, e, em 2018, no Pará, o que intensificou o alerta, fazendo com que os órgãos de controle passassem a fortalecer a fiscalização nos portos.

Recentemente foi instalado um posto de controle no distrito do Macará, município de Mazagão, a 32 quilômetros da capital, através da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária do Amapá (Diagro), além do fortalecimento das ações de combate.

“Atualmente o trabalho é feito através da educação sanitária, que a gente conscientiza a população sobre os prejuízos que essa praga pode ocasionar; a parte do controle, que é feito através de um contrato do Ministério da Agricultura em todos os municípios, que tem essa operação; e agora a Diagro está desempenhando o controle do trânsito estadual para evitar a dispersão dela para outros estados”, declarou Victor Torres, superintendente do Mapa no Amapá.

Victor Torres, superintendente do Mapa no Amapá — Foto: Reprodução/Rede Amazônica

“A população tem papel importante nesse processo. As pessoas não devem levar frutos hospedeiros, são 21 frutos hospedeiros, como goiaba, jambo, cajá, carambola, manga, são os principais frutos que são consumidos na região. Então é evitar o transporte desses frutos. Na dúvida de poder levar ou não, pode procurar o Ministério da Agricultura”, acrescentou Torres.

Entenda como será realizado o estudo

Os semioquímicos alternativos, provenientes de voláteis de frutos hospedeiros e óleos vegetais da Amazônia serão utilizados para avaliação de seus efeitos na competitividade sexual (como frequência de acasalamento, desempenho e parâmetros de copulação), além da redução no tempo de resposta da atração de machos B. carambolae ao metil-eugenol. Essas informações servirão para potencializar a ação de armadilhas de detecção de monitoramento da praga (MAT) e irão subsidiar a aplicação simultânea das técnicas MAT e SIT.

Os experimentos serão realizados no Prédio de Proteção de Plantas e no pomar do Campo experimental da Embrapa Amapá.

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