terça-feira 30 de abril de 2024

Cientistas esbarram em burocracia para instalar programa que mapeia avanço da Covid-19 em Alagoas

15 de abril de 2020 1:40 por Thania Valença

Militar do Corpo de Bombeiros de Alagoas usa equipamento de proteção produzido pelo grupo de cientistas.

Denominado Dashboard Covid-19 Alagoas, um grupo composto por profissionais dos institutos de Física, Matemática e Computação da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), junto com outros especialistas da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e da Fundação Getulio Vargas (FGV), usa a tecnologia e a matemática como aliadas em duas frentes de luta contra o coronavírus em Alagoas. Um dos integrantes do grupo, o matemático alagoano Krerley Irraciel Martins Oliveira, de 40 anos, revela que o trabalho resultou na criação de um software para gestão hospitalar.

O software criado pela equipe de cientistas é capaz de condensar e organizar as informações de todo o sistema de saúde alagoano. Isso permitiria que elas fossem acessadas de modo simples e rápido pelos funcionários da Secretaria de Saúde – desde os atendentes das unidades de saúde até o secretário, com níveis diferentes de acesso.

É possível monitorar o número de casos através de um mapa de calor de bairros e municípios, que coloca tonalidades mais escuras para lugares com mais casos e mais claras, com menos casos. Também dá para ver o registro de cada paciente cadastrado no sistema com uma ficha médica e dados pessoais. É possível administrar os pedidos feitos pelos gestores das unidades de saúde para troca ou reposição de material – como respiradores, máscaras, luvas e outros.

Outra função do software é mostrar a ocupação de leitos e UTIs no sistema público de saúde. Ele ainda faz uma previsão a curto prazo das necessidades da estrutura hospitalar com base nos dados mais atualizados. A ideia é que ele unifique tanto os dados do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto dos hospitais particulares.

Entretanto, apesar de todos os esforços, a equipe responsável pelo software foi desmobilizada no último dia 7. O projeto já foi finalizado, testado e está pronto para ser utilizado, mas o grupo ainda não recebeu o aval da Secretaria Estadual de Saúde para implementá-lo nos hospitais. Isso significa que o sistema não está em operação. Eles já se reuniram com a pasta para apresentá-lo bem como os relatórios com cenários de contágio e mortes da doença para o estado.

Professor-doutor, Krerley Irraciel Martins Oliveira é pesquisador de alto desempenho da Ufal.
Foto: Internet

“Não sei mais a quem recorrer. Informação não falta, o que falta é credibilidade”, diz o matemático Krerley Oliveira. Alagoas ainda conta com poucos casos confirmados da doença. Até agora são 72 pessoas diagnosticadas com covid-19 e quatro mortes. Destas, 59 ocorreram em Maceió, que também abarca todos os óbitos. Procurada, a Secretaria de Saúde não retornou a pedidos de esclarecimentos feitos via e-mail e telefone.

O trabalho do grupo, que segue estimativas internacionais da doença, aponta que, só em Alagoas, o número de mortos pela covid-19 pode chegar a mais de 9 mil, mesmo com estratégias de contenção. Para chegar a essa estimativa, os estudiosos consideram os casos registrados até agora, a evolução da epidemia e o total de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) existentes no estado.

No trabalho os especialistas aplicaram as estimativas feitas pelo Imperial College London para o Brasil com distanciamento da população em geral de 42%. Esse cenário é semelhante ao que já existe no estado. Dados de geolocalização de dispositivos móveis disponibilizados pela Inloco indicam que, em 11 de abril, havia uma redução de cerca de 50% da circulação normal de pessoas em Alagoas. Num cenário sem qualquer medida de distanciamento social, o número de óbitos poderia chegar a 17 mil.

A segunda frente de atuação do grupo de cientistas é a impressão em 3D. Das impressoras saem protetores do tipo face shields, utilizados como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) por profissionais que atuam na linha de frente de combate ao novo coronavírus, principalmente médicos e integrantes do Corpo de Bombeiros.

Os face shields são montados com um arco de plástico também produzido na impressora onde, depois, uma folha de plástico resistente é encaixada. A máscara protege todo o rosto e parte do pescoço. Para fazer isso, Oliveira mobilizou alunos do ensino médio de uma escola particular de Maceió e da Ufal.

O processo é caseiro e eles estavam utilizando duas impressoras. Uma delas Oliveira já tinha, e a outra, conseguiu para o projeto. No início da semana passada, no entanto, o grupo obteve a autorização da Secretaria de Estado da Educação para utilizar outras seis impressoras, o que aumenta o número de EPIs que eles conseguem fabricar. Mas a produção precisou ser paralisada temporariamente por falta de filamento – que seria o correspondente da tinta nas impressoras comuns.

Até o momento, o grupo de voluntários conseguiu fazer cerca de 100 equipamentos. “Todos que recebem começam a usar na mesma hora. Eles estão desesperados, indo para uma guerra sem armas”, alerta Oliveira, mostrando mensagens de profissionais pedindo mais informações de como conseguir os equipamentos.

No final da semana passada, outro braço desse grupo de voluntários começou a se formar. Com a nova recomendação do Ministério da Saúde de que máscaras caseiras podem contribuir para diminuir a disseminação do vírus, Oliveira decidiu mobilizar mais pessoas para que pudessem confeccionar proteções de pano e distribuir para a população. O objetivo dele é deixar aberto o espaço para a realização da troca de uma máscara caseira por outra descartável que a pessoa tenha em casa. A ideia é reunir as máscaras descartáveis e distribuir nos hospitais da região.

Todo o trabalho tem sido feito com doações ou recursos financeiros dos próprios voluntários. Para a confecção das máscaras de pano, Oliveira mobilizou cerca de quinze costureiros, que trabalham de casa. Até agora, a equipe conseguiu finalizar cerca de setecentas proteções, mas há material suficiente para chegar a seis mil unidades. O aporte financeiro, no entanto, não é uma dor de cabeça para Oliveira. “O problema hoje não é dinheiro, até porque é tudo voluntário. O problema é a agilidade nas coisas, porque o vírus não espera. A gente tem até o fim do mês para o caos chegar”, diz ele.

Da revista Piauí

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