Por G1 AL


Físico da Ufal, Askery Canabarro, participou do grupo de estudo que projeta avanço do coronavírus no Brasil — Foto: Ascom - Ufal

Um grupo de pesquisadores formado por médicos da Santa Casa de Maceió, professores das Universidades Federais de Alagoas (UFAL) e do Rio Grande do Nortes (UFRN), além de profissionais do Centro de Teste e Aconselhamento de HIV/Aids da Bahia e da Escola Superior de Ciências da Saúde do DF, fizeram um estudo para calcular a propagação da Covid-19 no Brasil.

Eles criaram um modelo matemático que aponta que o Brasil precisa adotar medidas mais rigorosas para o distanciamento social e que, segundo eles, devem ser colocadas em prática com urgência.

Um dos pesquisadores que participou do estudo foi o professor Askery Canabarro, do curso de Física da Ufal em Arapiraca. Ele explicou que o cálculo foi baseado no número de pessoas suscetíveis à doença, nas que são infectadas, nas que morrem e naquelas que se recuperam e se tornam imunes além do número de leitos necessários em função do tempo.

“O principal elemento do modelo é justamente a modelagem da necessidade de leitos de UTI ao longo dos dias, de modo que é possível analisar uma falência do sistema de saúde caso o Brasil adote medidas que resultem em um baixo nível de isolamento”, afirmou.

A análise feita pelo grupo aponta que o pico de casos simultâneos deve ocorrer por volta do dia 15 de maio. Com base nessa informação, o percentual de taxa de isolamento que os físicos e médicos apontam como ideal a partir do início da segunda quinzena de abril, é de 75%.

“A gente precisa chegar a algo em torno dos 75% de isolamento para proteger o nosso sistema de saúde, evitando o colapso do sistema com certa folga e ter um número menor de mortes,”, alerta o pesquisador.

Curva preta mostra que 30 milhões de pessoas podem ser infectadas no Brasil caso não haja rigor no isolamento social — Foto: Reprodução/Ufal

A pesquisa aponta que, no mundo, 70% da população deve manter o distanciamento social para o controle da pandemia e 30% ficam expostas com a manutenção dos serviços essenciais. No Brasil, a realidade é outra, segundo os estudiosos. Por isso, eles apontam a urgência na conscientização e nas medidas de prevenção para atingir o percentual apontado pelo trabalho. Isso pode definir se o Brasil terá ou não, números catastróficos de mortes por coronavírus, principalmente nas regiões onde o sistema de saúde é mais vulnerável.

“O cenário com centenas de milhares de mortes no país foi modelado com a suposição de 50% de isolamento social, o que parece ser ainda o caso que ocorre no Brasil, conforme, por exemplo, a ferramenta de mobilidade urbana do Google”, explica o físico sobre a ferramenta utilizada pelo grupo.

“Se a quarentena começasse intensa, rapidamente essa curva muda de tendência e protegeria com folga o sistema de saúde. Se relaxar as medidas de segurança, até o dia 21 de abril terá passado o número de quatro mil mortes no Brasil, fazendo com que a curva suba ainda mais rápido”, alerta.

O modelo foi elaborado com base nos dados disponíveis no dia 2 de abril, mas como o número de mortes se manteve constante, Askery ressalta que é possível que o sistema de saúde já tenha sido colocado em perigo.

“Cada Estado tem sua própria dinâmica populacional, o que implica em um número médio de novas infecções causadas por um único indivíduo distinto. Quanto maior o isolamento, menor esse número médio e mais rápida a doença é controlada. Caso se obtenha os dados demográficos de determinado Estado, uma modelagem específica pode ser feita”, explica Canabarro sobre a aplicação do modelo criado para outros países, regiões ou subrregiões.

O modelo foi feito por meio de colaboração remota pelos físicos da Ufal e da UFRN Askery Canabarro, Samuraí Brito e Rafael Chaves, pela médica da Santa Casa de Misericórdia de Maceió Elayne Tenório, pelo médico do Centro de Teste e Aconselhamento de HIV/Aids da Bahia Renato Martins, e pela médica da Escola Superior de Ciências da Saúde do DF Laís Martins.

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