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Política

ALAGOAS PERDE O PROFESSOR CARLOS MENDONÇA AOS 82 ANOS

Presidente do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello, ele estava internado na UTI da Santa Casa lutando contra o novo coronavírus

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 14/05/2020

Matéria atualizada em 14/05/2020 às 06h33

‘Dr. Carlos’, como ele era mais conhecido, foi idealizador de inúmeros projetos editoriais na OAM
‘Dr. Carlos’, como ele era mais conhecido, foi idealizador de inúmeros projetos editoriais na OAM | ARQUIVO GA

O rastro de tristeza deixado pelo Covid-19 em Alagoas, que tem abalado centenas de famílias no Estado, abriu uma perda no comando da Organização Arnon de Mello (OAM). No início da tarde de ontem, Carlos Alberto Pinheiro de Mendonça, 82 anos, faleceu após travar uma luta pela vida na UTI da Santa Casa de Maceió, onde havia sido internado há duas semanas. Presidente do Conselho Estratégico da OAM e do Instituto Arnon de Mello (IAM), Carlos Mendonça foi idealizador de grandes projetos editoriais e apoiou com vibração o nascimento da Gazetaweb e as reformas gráficas do jornal Gazeta de Alagoas. Entusiasta das letras, “Dr. Carlos” - como todos os chamavam carinhosamente - era figura presente no dia a dia da OAM até dois anos atrás, quando precisou se afastar do trabalho por problemas de saúde. Simpático, educado e de uma gentileza marcante, cumprimentava a todos os funcionários independente da função, como se estivesse abençoando o dia de trabalho de cada um. Dono de uma fala mansa e com um vocabulário rico, não foram poucas às vezes que elogiava repórteres pela construção de textos diários, em matérias especiais e, principalmente, pelos vários prêmios conquistados pelos jornalistas ao longo dos anos. O envolvimento com a literatura lhe rendeu, desde cedo, o reconhecimento estadual. Tanto que foi indicado para a Academia Alagoana de Letras, em 2013, por conta de sua contribuição na área jurídica, com a publicação de livros sobre o tema, e envolvimento com projetos históricos que resgatavam a memória de Alagoas. Ele ocupava a cadeira de número 19 da Academia Alagoana de Letras. Ex-professor da disciplina de Finanças Públicas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), também teve atuação na área pública, tendo sido secretário estadual do Gabinete Civil. Pernambucano de nascimento, Carlos Mendonça despontou para a vida profissional em Alagoas. Filho do emérito desembargador Alfredo Gaspar de Mendonça, o homenageou batizando seu primogênito, o ex-procurador-geral de Justiça Alfredo Gaspar, que assim como o pai encontra-se internado acometido pela Covid-19. Alfredo, por sua vez, lhe retribuiu a homenagem batizando o filho de Carlos Mendonça Neto.

Ontem, ao tomar conhecimento da trágica notícia, Carlos Mendonça Neto escreveu numa rede social: “Não tenho palavras para descrever o que estou sentindo. Meu avô amado, só posso dizer ao Sr. que, enquanto respirar, acordarei todos os dias para honrar o teu nome, que tive o privilégio de herdar. Descanse em paz, com a certeza de que nos encontraremos novamente um dia. De Carlos Neto para Carlos avô”, redigiu emocionado. Contemporâneo do fundador do jornal Gazeta de Alagoas, Arnon de Mello, que posteriormente deu origem ao maior complexo de comunicação do Estado, Carlos Mendonça era um entusiasta do papel da comunicação. Entendia como ninguém que, em nosso dia a dia, os jornalistas faziam história. Aliás, foi por isso que se empenhou em produzir vários produtos editoriais que zelavam pela memória política e cultural de Alagoas.

Entre os projetos encabeçados por ele, ainda nos anos 1990, destacam-se a Enciclopédia dos Municípios Alagoanos, que ganhou cinco edições anuais, Atlas Geográfico Mundial, Memórias Legislativas de Alagoas, Mulheres Alagoanas e Memória Cultural de Alagoas. Já neste início de século, o compromisso com o resgate histórico continuou com as publicações Alagoas Memorável, Patrimônio Arquitetônico, Mestres Artesãos, Alagoas Popular, Folguedos e Danças, além de seu último grande projeto, Alagoas 200 anos. Tanto envolvimento e compromisso com o estado e a OAM sempre contaram com o apoio da Diretoria Executiva da organização, nos últimos anos comandada por Luiz Amorim. Ao tomar conhecimento do falecimento do amigo e companheiro de tantas jornadas, Amorim lembrou a generosidade de Carlos Mendonça e não escondeu a consternação com sua partida. “Dr. Carlos era um grande amigo, um homem que assumiu muitas funções de relevo no Estado, e tinha uma veneração pela Gazeta e pelos seus colaboradores. E foi durante sua gestão na presidência do conselho estratégico da OAM e do Instituto Arnon de Mello, que fez uma legião de admiradores, tanto pela inteligência como pela fidalguia com que tratava a todos, indistintamente. Um gentleman! Parte para outro plano, mas deixará eternizada a nossa grande amizade e de cuidados próprios de um pai e filho, pois haveremos de herdar seu legado, cultivar seus ensinamentos e lembranças que marcaram nossas vidas”, afirma. O médico pediatra Milton Hênio, membro do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello, também ficou profundamente sentido com a morte do “amigo-irmão”. “Meu estimado amigo-irmão deixou nesta passagem pela terra um pouco de sua alma, na alma das coisas. Convivi com ele desde a minha adolescência e assim firmamos um pacto de amizade profundo durante os 40 anos de convivência na nossa querida Gazeta de Alagoas, empresa pela qual tinha profunda admiração. Era presidente do Instituto Arnon de Melo e do Conselho Administrativo da mesma Organização, a qual pertenço. Também foi meu companheiro durante muitos anos e participava com muita dedicação da Academia Alagoana de Letras”, conta o pediatra. “Escreveu um dos nossos escritores do passado que há vidas que só merecem o apreço dos homens mesmo depois de cortadas pelo fio da morte. Carlos Mendonça não precisou ausentar-se para ter a certeza do quanto era querido e admirado em nossa terra alagoana, pelo que já foi e pelo que já fez. Sua esposa Felina e seus três filhos Alfredo, Rosa e Vera foram a sua vida e a sua inspiração. Hoje, sua ausência é profundamente sentida, meu caríssimo amigo-irmão Carlos Mendonça. Porém, jamais faltarão o apreço, a saudade e o carinho de todos àqueles que, como eu, lhe devotaram uma grande amizade. Descanse em paz”, diz.

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