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Especialistas estudam causas das mortes de peixes meros no litoral de Alagoas

Nos últimos três meses, pelo menos três grandes meros, Epinephelus itajara, foram encontrados encalhados no litoral alagoano

Por Claudio Sampaio - Especialista 14/12/2021 07h11
Especialistas estudam causas das mortes de peixes meros no litoral de Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Nos últimos três meses, pelo menos três grandes meros, Epinephelus itajara, foram encontrados encalhados no litoral alagoano (um vivo na praia do Trapiche e dois mortos, um na Pajuçara e outro hoje, na Praia do Francês). Mas o que poderia estar causando os encalhes de uma espécie ameaçada de extinção? Infelizmente quando esses peixes encalham estão, geralmente, em avançado estado de decomposição, impossibilitando um adequado exame e consequentemente a determinação do motivo de sua morte. No caso do mero que encalhou ainda vivo, na praia do Trapiche, quando a equipe do Projeto Meros do Brasil chegou ao local, horas depois do encalhe, o peixe já estava morto e havia sido distribuído entre pessoas que estavam ali. Não havia sequer escamas na praia. Destacamos que pescar, transportar, cortar em postas, fazer filé ou qualquer outro modo de beneficiamento é crime previsto em lei federal. Além disso, alguns estudos realizados com meros indicam que esses peixes possuem níveis elevados de substâncias nocivas, como metais pesados, e seu consumo não é indicado. [caption id="attachment_486157" align="aligncenter" width="800"] Foto: Andrea Paiva[/caption] Os meros são peixes dóceis, curiosos, muitas vezes solitários e que vivem por mais de 40 anos, começam a reproduzir com aproximadamente 7 anos, quando ultrapassam os 1 metro de comprimento. São considerados um dos maiores peixes dos recifes de coral do Oceano Atlântico, podendo ultrapassar os 2 metros de comprimento e 400 quilos de peso total. Apesar desse grande porte, são muitas vezes curiosos, se aproximando de mergulhadores. O mero encontra no litoral alagoano todos os ambientes necessários para seu ciclo de vida. Quando jovens, buscam a proteção e a fartura de alimentos nos estuários, lagoas e manguezais, os chamados “berçários” da vida marinha. Com seu crescimento (quando são “adolescentes”), buscam os recifes costeiros, aqueles que formam as famosas piscinas naturais. Uma vez adultos, buscam os recifes mais profundos e até mesmo naufrágios. Esse comportamento dócil e curioso, além do fato de estarem ameaçados de extinção, faz com que esses peixes sejam verdadeiras atrações turísticas, atraindo mergulhadores, fazendo com que sejam mais valiosos vivos que mortos. Ao pescar um mero, o pescador além de praticar um crime e correr os riscos das penalidades, só tem retorno financeiro uma única vez com a venda da carne do peixe, enquanto um mero vivo pode gerar renda, por décadas, para o pescador ou empresa de mergulho que leva turistas para observá-lo nos recifes. E assim, a pousada que hospeda turistas, os restaurantes, as lojas de artesanato e muitos outros segmentos são favorecidos economicamente com o mero vivo. Esse fato já acontece com os peixes boi na APA Costa dos Corais. Os encalhes no litoral alagoano ainda são motivo de estudos, mas notamos que durante os meses de verão esses peixes são mais observados, seja durante mergulhos ou mesmo mortos nas praias, assim como as denúncias da pesca ilegal aumentam. Isso pode estar relacionado com melhores condições do mergulho nas águas mais claras do verão ou com um possível comportamento reprodutivo. Com o aumento da temperatura, os meros se reúnem em grandes cardumes para desovar e consequentemente ficam mais expostos às capturas acidentais ou mesmo intencionais. Os meros que examinamos, que encalharam mortos, não possuíam nenhum alimento no estômago, sugerindo que passaram um tempo sem comer antes de morrer. O exemplar que foi encontrado morto na Praia do Francês tinha 1,4 metros de comprimento e cortes característicos de faca, Se você pescar acidentalmente um mero, faça fotos e solte imediatamente; se encontrar algum mergulhando e puder fazer fotos, não perca a oportunidade, pois como são ameaçados de extinção, grandes meros são raros. Já animais mortos, mesmo podres e mau cheirosos, são valiosos para estudos. Fotos, registros e qualquer dúvida devem ser enviados ao Projeto Meros do Brasil através das redes sociais ou via WhatsApp pelo Fale Mero 0XX48 99940-2109. A equipe do Projeto Meros do Brasil conta o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Em Alagoas o Projeto é desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Alagoas e realiza ações de pesquisas e atividades de educação ambiental no estado há mais de dez anos.