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Por Bruno Alfano — Rio

Ossos de 12 humanos de 1,6 mil anos foram encontrados em Pocinhos, na Paraíba. O responsável pelas esavações foi o professor Flávio Moraes, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em parceria com o arqueólogo Plínio Araújo Víctor.

De acordo com Moraes, povos indígenas do passado utilizavam afloramentos rochosos da região para sepultar seus mortos. O mais surpreendente nesta descoberta, diz o professor da Ufal, são as marcas de cortes nas extremidades dos ossos.

— É como se os ossos fossem cortados para desmembrar os indivíduos e eles pudessem caber dentro do mesmo espaço — diz Moraes. — Essa é uma evidência raríssima. No Nordeste, são encontradas variedades enorme de formas dos antepassados de sepultar seus mortos, mas só uma delas apresentam marcas como essa e nunca tão evidente como agora.

Entre a ossada, há 12 pessoas, sendo três adultos. Os ossos de indivíduos não adultos, inclusive bebês de 3 e 6 meses e crianças de 1, 2 e 6 anos, também apresentam marcas de corte de desmembramento, especialmente, nos ossos longos.

Como é possível saber que esse desmembramento foi feito pós-morte?

A gente já conhece o padrão de sepultamento dos povos pré-históricos. Os estudos que já ocorreram no mesmo contexto apresentam evidências parecidas, em locais similares. Certa vez, foi perguntado a um grupo indígena do Nordeste, os Xucurus, o porquê desse tipo de sepultamento em abrigo sob rocha. Isso detona um cuidado com os mortos. Segundo eles, é como se fosse um ventre materno. Na cosmologia deles, essas pessoas que se foram não morrem, mas nascem para uma nova vida. Nada mais natural colocá-los num ambiente com uma representação do ventre materno. Em outros sítios, a gente encontra indivíduos em posição fetal.

Como era a vida na Paraíba há 1,6 mil anos?

Esse é um tempo pré-histórico, quando havia muitos povos caçadores e coletores. Existia uma diversidade de povos gigante, de culturas distintas. O meu trabalho é com sítios funerários e nenhum é igual ao outro. Cada grupo tinha uma ritualidade específica. Era um momento em que cada grupo construía essa relação com o universo transcendental.

É possível saber a que povo pertencia o grupo encontrado nesta pesquisa?

É difícil. Usamos como parâmetro, além de outros estudos arqueológicos, o que os cronistas portugueses e holandeses registraram de suas viagens nessas áreas. Mas isso foi no século XVII, mais de 1,3 mil anos depois do que essas pessoas viveram. De acordo com esses registros, podemos trabalhar com eliminação.

Naquela região, existiam os Tarairiús e os Cariris. Os Tarairiús tinham a prática de endofagia. Ou seja, eles se alimentavam dos entes que morriam para demonstrar amor por eles. Já os Cariris tinham práticas de sepultamento dos mortos. Por isso, a gente supõe que trata-se de povos Cariri. Mas é dentro desse universo interpretativo. A cultura material desses grupos é muito restrita. Seria um elemento informativo interessante, mas não tem nada neste caso.

Como vocês escolheram esse local para a procura?

O meu parceiro, o Plínio Araújo Víctor, que mora em Olinda, mas é de Pocinhos e tem uma relação afetiva com a cidade. Numa conversa, ele lembrou-se que subia nesse ponto e junto com os colegas encontravam cabeças humanas e jogavam lá de cima. E elas iam rolando. Hoje ele é arqueólogo e decidimos fazer a pesquisa. Chegando lá, tinham vértebras, costelas e falanges. Foi aí que deu início ao processo da pesquisa.

É comum encontrar material de 1,6 mil anos no Nordeste?

Sim, é comum. Tem outros sítios com datações até mais recuadas. No Rio Grande do Norte, no Seridó, tem o sítio Pedra do Alexandre que tem até 10 mil anos. O que nos chamou muita atenção mesmo são as marcas de cortes muito evidentes do ritual de sepultamento com prática para caberem naquele espaço.

Quando foi feita a descoberta?

Foi de 2017 para 2018. Nós só estamos divulgando agora porque é preciso passar por uma série de análises. É muito tempo de laboratório.

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