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Pandemia

SEM TRATAR COMORBIDADES, POBRES DESENVOLVEM FORMA GRAVE DE COVID-19

Parte dos moradores em maior vulnerabilidade social da capital alagoana está localizada no segundo Distrito Sanitário, diz Sesau

Por Regina Carvalho | Edição do dia 13/08/2022

Matéria atualizada em 13/08/2022 às 04h00

Luciana Santana: “Até hoje a gente não tem uma política de conscientização, de vigilância”
Luciana Santana: “Até hoje a gente não tem uma política de conscientização, de vigilância” | Cortesia

Um estudo publicado na revista Nature Reviews Disease Primers mostrou que a presença de comorbidades está relacionada às condições socioeconômicas. Como as doenças preexistentes têm relação direta com a evolução da Covid-19 entre os infectados, os mais pobres constituem os mais afetados pela pandemia. Os boletins epidemiológicos da Secretaria de Saúde de Maceió confirmam que sete bairros, que compõem o 2º Distrito Sanitário, concentram a maior taxa de letalidade para a Covid-19 da capital, de 3,31%, que indica a gravidade da doença: Vergel, Ponta Grossa, Levada, Centro, Trapiche da Barra, Pontal da Barra e Prado. É justamente nessas localidades que vive parte dos moradores em maior vulnerabilidade social da capital alagoana. A pesquisa publicada na Nature reforça que a pandemia de Covid-19 agravou a situação das pessoas que têm comorbidades, uma vez que elas apresentam mais riscos de contrair a doença.

“A gente tem várias evidências de que as populações mais pobres, as populações mais vulneráveis, foram as mais afetadas e as que realmente a longo prazo vão ter maiores demandas nos cuidados da saúde. A gente sabe também que a Covid deixa muitas sequelas e as populações mais vulneráveis acabam tendo menos assistência do que outros grupos sociais”, explica a diretora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e cientista política Luciana Santana.

Ainda de acordo com Luciana Santana, “isso faz com que você tenha aí a longo prazo uma demanda maior, inclusive do sistema de saúde, primeiro para identificar essas sequelas e segundo tratá-las adequadamente dentro do que se espera de um sistema de saúde. Os governos poderiam sim adotar medidas preventivas lá no início da pandemia, conscientizar a população em relação as formas de contaminação, sobre os impactos, então acho que teria sim como poder propor medidas importantes”, acrescenta. A professora avalia que era preciso conscientizar a população sobre a importância dos cuidados para evitar a infecção pelo coronavírus - tanto na fase inicial da pandemia e, especialmente, depois que vários estudos já apontavam sobre as sequelas da doença. “Até hoje a gente não tem uma política de conscientização, de vigilância. Então acho que faltou isso e continua faltando, que os governos atuassem de forma mais efetiva protegendo essas populações, dando assistência necessária e isso tem sido demandado bastante que a gente não vê nenhuma medida efetiva. Isso acaba acarretando numa sobrecarga no sistema de saúde e as populações acabam não sendo atendidas satisfatoriamente como deveriam para poder minimizar essa situação”, finaliza.

VULNERABILIDADE SOCIAL

“Todas essas doenças endêmicas, transmissíveis, tanto de transmissão respiratória e tanto as ligadas à pobreza, de veiculação hídrica, as que tem relação com a falta de saneamento e de más condições de moradia naturalmente vão afetar as populações mais vulneráveis”, avalia o médico infectologista Fernando Maia.

O médico acrescenta que “uma doença como a Covid-19 é extremamente democrática até porque é de transmissão respiratória, como a gente viu agora nessa pandemia. Atingiu pessoas de todos os níveis, de todos os locais e deixou todo mundo sujeito a situação, mas as pessoas mais pobres sempre são mais afetadas”, acrescenta. Maia lembra que os mais pobres frequentemente apresentam mais doenças crônicas, têm maior índice de desnutrição, tem menos acesso à água encanada e ao saneamento e menos acesso aos serviços de saúde. “Por isso acabam tendo mais dificuldade e não conseguem ter acesso à medicação específica necessária. Não têm dinheiro para comprar e muitas vezes o poder público não fornece, e essas pessoas acabam se prejudicando e às vezes acabam morrendo mais do que as populações de maior poder aquisitivo”, finaliza o infectologista.

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