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Respeito à ancestralidade, homenagem e luta por direitos marcam a festa do Meado de Agosto em 2022

Festa acontece dia 15 de Agosto e a pesquisa do Projeto Consciência Lunga aconteceu entre os dias 11,13 e 14

Por Assessoria 14/08/2022 13h50
Respeito à ancestralidade, homenagem e luta por direitos marcam a festa do Meado de Agosto em 2022
Procissão - Foto: Assessoria

A festa acontece dia 15 de agosto e a pesquisa do Projeto Consciência Lunga aconteceu entre os dias 11,13 e 14. Em 2022 o evento tradicional está homenageando 4 grandes lideranças na luta contra o racismo no estado. Os professores Toni Edson e Jorge Riscado da Ufal estão entre os homenageados e os Quilombolas Basto Pedro e Mareval Ricardo. 3º Momento acontece de forma virtual com Agerrp Ufal final de agosto.

Não é tão fácil assim encontrar um evento que conte com mais de 200 anos de realizações. Não é fácil, mas também não é impossível, já que no agreste alagoano, na cidade de Taquarana, todo mês de agosto acontece a “Festa do Meado de Agosto”, no Quilombo Lunga, localizado no território quilombola do município. A comemoração deste ano vai acontecer entre os dias 11 e 15, com uma programação diversa que tem 3º Momento acontece de forma virtual com Agerrp Ufal no fim de agosto.

O tema da edição deste ano é “Em Memoria dos que viveram e lutaram pelo Povo Negro - Nenhum Quilombo a Menos", e a programação será um pouco menor que as edições anteriores, sendo mantidos os tradicionais: Ritual do Palácio de Ogum Rio Lunga, sarau e rodas Griô para contação de histórias.

A festa vai homenagear quatro grandes lideranças na luta em favor da população negra que faleceram em 2021. Os professores da Ufal Toni Edson da Escola Técnica de Artes (ETA) e o professor Jorge Riscado da Faculdade de Medicina (FAMED), além do quilombola, remanescente de Mestra Firmina, Basto Pedro Mestre Griô e o líder comunitário Mareval Ricardo, do Quilombo Lagoa das Pedras do município de Água Branca.

Festa Meado de Agosto (Imagem: Divulgação)

O professor Toni Edson, Griô, contador de histórias, foi militante contra o racismo, que desenvolveu uma pesquisa relacionando os quilombos de Burkina Faso na África, com os quilombos do Brasil, além de ter participado de outras edições da Festa do Meado de Agosto, na escola Técnica de Artes da Ufal foi o primeiro da fazer Teatro de Rua e sempre esteve em comunidade com as comunidades.

O professor Jorge Riscado foi responsável pela disciplina eletiva de Saúde da População Negra, implantada em 2007 e ofertada a cursos de graduação. Dentre os projetos que desenvolveu estava o “Afro- Atitude e Ações Afirmativas da população negra: Acolhimento, Integração e fortalecimento.” que tratava da saúde da população negra.

Basto Pedro Mestre Griô do Quilombo Lunga, foi muito próximo da mestra Firmina Mercê de Jesus, a primeira educadora popular do Quilombo Lunga que se foi no ano de 1980. Mareval Ricardo do Quilombo Lagoa das Pedras do município de Água Branca foi ativista da comunidade que fazia parte da Coordenação Estadual das comunidades remanescentes dos quilombos Ganga Zumba e coordenava a Associação quilombola de Lagoa das Pedras.

Dona Antônia do Espírito Santo ou “Tonha” acompanha e participa da produção da festa desde os seis anos de idade e relembra a trajetória desses anos e da dificuldade que foi a pandemia. “Aprendi a tradição muito pequena quando ainda ‘não sabia de nada’, vendo minha bisavó e minha mãe que cozinhavam para as pessoas que vinham de fora participar da festa e vivemos nessa tradição até hoje. Essa pandemia foi terrível, porque diversas famílias da comunidade vizinha perderam muitas coisas e isso nos abala também. Mas ela também veio para mostrar que apesar disso, nós não podemos deixar de realizar a nossa festa e continuamos com a nossa tradição”, conta a neta de Firmina Mercê de Jesus.

Tonha, que também é líder da comunidade, conta que a ideia da festa é comemorar uma colheita farta, o que não aconteceu esse ano, mas que isso não é motivo de deixar a tradição de lado, é momento de agradecer por aquilo que tem e manter todos os rituais que são tradicionais da festa, como a novena que não deixará de acontecer. Sendo assim ela se sente realizada por mais uma edição da festa e mostrar para a comunidade que a tradição não pode e nem vai morrer.

Gilvanio Araujo, contra mestre de capoeira do instituto Bico de Fulô e grupo de capoeira Arte Brasil teve seu primeiro contato com a festa em 2009 através da Secretaria de Assistência Social, que o convidou a fazer um trabalho de capoeira na comunidade do Quilombo Lunga e na festa. E sobre a importância dessa comemoração ele enfatiza: "Eu fico muito feliz com as pesquisas veem sendo feitas, assim como o documentário porque vai contribuir muito para as próximas gerações que vão poder conhecer um pouco mais sobre a cultura quilombola e também vai enriquecer muito nosso acervo cultural, que apesar de termos muita coisa, esse documentário vem para reforçar toda essa história e esse legado", destaca o capoeirista.

Keka Rabelo, produtora cultural, destaca como a Festa do Meado de Agosto deixou de ser apenas uma festa. “A partir de um bem cultural que é uma festa bicentenária como a Festa do Meado de Agosto, e os fortalecimentos dos fazeres tradicionais dos mestres Criôs da comunidade do Quilombo Lunga, nos mostra o êxito de uma comunidade que está em constante organização de suas cadeias produtivas, porque hoje já possui uma cozinha semi-industrial, trabalha oficinas sobre a cultura tradicional, tem parceria com a EJA e as secretarias de educação, aprova projetos com total autonomia, pois as pessoas envolvidas estão no processo desde a elaboração até a prestação de contas. Então, o futuro é investir em núcleos de cultura, fortalecer as cadeias produtivas, assim como os bens culturais únicos”, conta Keka.

Mestra Firmina Mercê de Jesus

Mestra Firmina foi a quilombola mais antiga da comunidade do Quilombo Lunga, foi a primeira educadora popular e importante engrenagem para realização da comemoração da festa. Nunca se casou, não teve filhos mas tinha um laço mais forte que o sanguíneo, cuidou da avó de dona Tonha, dos filhos e netos que vieram depois. Junto de sua família tomava para si a obrigação de alimentar as pessoas que vinham de fora das comunidades do entorno para participar da festa, já que ela se preocupava com “todo esse povo que vinha de fora” e que saia de casa muito cedo. A mestra faleceu no ano de 1980, mas seu legado continua intacto e reverbera e vai reverberar.

A entrada para a festa é gratuita. Confira a programação completa abaixo:

▪11/ 08 - 14:00 Pesquisa Prof Dr. Magali Kleber e Luiz Kbca Antropólogo no Sitio Cruzeiro Verde

▪13/08 - 09:00 Atividades com pesquisadores no Instituto Bico de Fulo - Sitio Salgado

▪14/08 - 08 :00 Encontro com Mestra Tonha das Ervas e Pesquisadores Quilombo Lunga

14:00 Atividades no Palácio de Ogum no Quilombo Lunga com pesquisadores.

▪15/08 - Festa do Meado de Agosto 2022 - Quilombos Lunga Taquarana

06:00 Ritual do Palácio de Ogum Rio Lunga

10:00 Agricultoras Rurais Quilombolas: Direitos e organização social: Coordenação Feminina Dandaras, MNU, CUT, Conepir, Iteral, Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos,

12:00 Novena de Nossa Senhora do Perpetuo Socorro

13:00 Procissão e Apresentação do Coral do EJA

16:00 Sarau Musical Capoeira Arte Brasil e Jonathan Silva

17:00 Roda Griôs com Mestres do Quilombo Lunga sobre a Festa do Meado - Mestra Tonha, Mestre Ministro, Mestra Luza, Mestra Leticia, Mestra Benedita, Mestra Maria Teca, Mestra Quiteria do Paulo Romão

FINAL DE AGOSTO

▪Terceiro Momento on-line será divulgado em breve

atividade 1 Webnário com Projeto Bureau de Comunicação Comunitária Memoria e Politicas publicas das comunidades Tradicionais

Atividade 2 Webnario com pesquisadores sobre Quilombo Memoria de Território comunidade e universidade