Por Amorim Neto, TV Gazeta


Mudanças na vazão a partir da Hidrelétrica de Xingó afeta quem depende do Velho Chico

Mudanças na vazão a partir da Hidrelétrica de Xingó afeta quem depende do Velho Chico

As mudanças constantes na vazão do Rio São Francisco, causadas pela captação da água pela Hidrelétrica de Xingó, que fica entre Alagoas e Sergipe, têm provocado efeitos negativos para quem depende da pesca e do comércio nos municípios ribeirinhos, além de impactar na biodiversidade do rio.

Com a vazão alta, o rio fica ideal para o trabalho dos pescadores, mas com a vazão baixa, o rio seca e eles não conseguem navegar devido às pedras. Além disso, as mudanças na quantidade de água liberada da hidrelétrica modificam o curso dos peixes do rio.

“Quando ele [o rio] está baixando, o peixe está em um local, quando a gente começa enchendo o rio, o peixe já se muda. Todos os pescadores aqui estão tendo esse prejuízo com essa vazão subindo e descendo”, disse o pescador Josevaldo da Silva Gomes, que vive na cidade alagoana de Piranhas, primeiro município alagoano a receber o volume de água liberado da hiderelétrica.

A vazão da Hidrelétrica de Xingó é controlada pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), que explicou, por nota, que a operação dos seus reservatórios envolve o envio de comunicados às entidades e órgãos atuantes na Bacia do São Francisco seguindo programação de forma antecipada, com base na avaliação do volume de água nos reservatórios e a necessidade de mais geração de energia, de acordo com o consumo do país (leia na íntegra ao final do texto).

Contudo, segundo os ribeirinhos, a antecedência é de um dia e isso não é suficiente para quem depende do rio para sobreviver. A grande dificuldade da população, principalmente dos pescadores, é para se adequar a essas mudanças em tão pouco tempo.

Jairo Oliveira, que é turismólogo explica que sem uma antecedência maior das vazões, os estabelecimentos não conseguem se preparar para manter suas atividades.

“Não tem essa antecedência que poderia ter para que os empreendedores turístico, tanto bares, restaurantes, principalmente do setor náutico, pudessem se planejar para trabalhar em uma vazão maior ou menor”, disse Oliveira.

Foto de janeiro de 2022 mostra nível do Rio São Francisco alto, chegando a encobrir barracas em Pão de Açúcar, Alagoas — Foto: Alex Alves/TV Gazeta

Além das questões econômicas da região, as alterações causam problemas ambientais. Para os pesquisadores, essas mudanças com intervalos muito curtos causam o que eles chamam de estresse hídrico.

O engenheiro de pesca e pesquisador da Ufal, Emerson Soares, diz que as espécies do rio se programam para um volume de água e quando o volume sobe ou diminui rapidamente, os peixes sentem o impacto.

"Quando essas mudanças acontecem de mais de 500 m³ por segundo em um espaço de 24 horas, isso mexe com a fisiologia do animal, ele fica sem perceber o que está acontecendo. É um efeito muito estressante para esse animal e principalmente para as espécies nativas, que precisam migrar com efeito reprodutivo”, explicou o pesquisador.

Para aumentar ou reduzir a vazão na hidrelétrica, a Chesf depende de autrização do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que esclsareeu, também por nota, que é sensível às necessidades da população e segue todos os requisitos legais relacionados aos usos múltiplos das águas e ambientais vigentes, estabelecidos em regulamentações ou declarados pelo agente de geração dessa usina nos seus processos de planejamento, programação e operação.

O ONS informou ainda que "são consideradas taxas máximas de variação diária e horária" com o objetivo de reduzir os impactos no rio e que "costuma calibrar o uso dos recursos energéticos existentes de maneira a manter o equilíbrio do Sistema Interligado Nacional (SIN) e usar de forma otimizada a energia gerada".

Ressalta que, em julho de 2022, especificamente, "houve a necessidade de aumentar a produção na UHE Xingó porque foi identificada "uma maior demanda de energia elétrica em alguns horários específicos e esta necessidade precisou ser incorporada na estratégia de operação".

Usina Hidrelétrica de Xingó fica localizada entre os municípios de Alagoas e Sergipe — Foto: Alex Alves/TV Gazeta

Leia a nota da Chesf na íntegra:

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) esclarece que a divulgação de informações quanto à operação dos seus reservatórios envolve o envio de comunicados às entidades e órgãos atuantes na Bacia do São Francisco. A situação hidrológica vigente e a programação de vazões são feitas de forma antecipada, viabilizando a adoção de medidas pertinentes pelas entidades competentes e pelos demais usuários do rio. A Chesf informa ainda que, mensalmente, são enviadas Cartas Circulares (disponibilizadas também no site da Empresa), contendo as perspectivas de vazões dos reservatórios para o mês em questão. Essa divulgação acontece após Reunião de Acompanhamento das Condições de Operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco, coordenada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), onde o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresenta as perspectivas para a operação dos reservatórios da Bacia do Rio São Francisco e que conta com ampla participação das entidades e usuários, em especial, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).

Em paralelo, semanalmente, a Chesf encaminha para o público usuário informações dos reservatórios contendo valores das vazões a serem praticadas, bem como a evolução prevista de níveis e armazenamento no curto prazo. Também são enviados comunicados via SMS (27569), quando ocorrem mudanças em função da dinamicidade do processo de otimização energética, coordenado pelo ONS, envolvendo as diversas regiões do País. Nesse sentido, o Reservatório de Xingó atende às possíveis necessidades de variação de vazão, em atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Ressalta-se, entretanto, que a programação de vazões obedece às regras e restrições estabelecidas. No dia 2 de agosto, a Chesf emitiu Carta Circular com a diretriz de operação para o mês vigente, indicando previsão de que em Sobradinho permanece a prática de vazão média diária de 2.400 metros cúbicos por segundo (m³/s), e em Xingó, a vazão média diária poderá variar entre os valores de 2.000 a 2.500 m³/s.

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