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Nº 5695
Guardiões da memória

MUSEÓLOGA AFIRMA QUE JUVENTUDE PRECISA DE UM REENCONTRO COM MUSEUS

Primeira museóloga de Alagoas, Carmem Lúcia Dantas também defende mais investimentos em equipamentos culturais

Por Thauane Rodrigues* ESTAGIÁRIA | Edição do dia 20/12/2022

Matéria atualizada em 20/12/2022 às 15h04

Salvaguardando a historicidade e a memória dos mais diversos povos e tradições, os museus alagoanos carregam consigo a responsabilidade de manter vivo o legado da ancestralidade. Espalhados pelas regiões de Alagoas, os equipamentos e seus profissionais se reinventam para manter a interação da história com a sociedade.


São os museólogos, profissionais que vivem a rotina dos equipamentos culturais, que atuam como guardiões da memória. Eles lidam com pouco espaço no mercado de trabalho local e com o desafio de dinamizar os museus. Em 18 de dezembro, é celebrado o Dia do Museólogo.


Apaixonada pelos patrimônios históricos do Estado, a museóloga Carmen Lúcia Dantas é uma das profissionais que fazem o possível para preservar a memória local e afirma que o gosto pela museologia surgiu na infância. Ela nasceu em Penedo e conta que, ao abrir os olhos para o mundo, a primeira coisa que percebeu foi o cenário de história e arte emoldurado pelo rio São Francisco. Não teve jeito, se apaixonou.


“A minha mãe era professora, então me despertou também para o valor da arte, o respeito que devemos ter pela cultura. Isso ficou em mim e está até hoje. E ter nascido em Penedo é um motivo de muito orgulho, o cenário de Penedo ficou em mim”.


A penedense revela que quando foi para o Rio de Janeiro fazer vestibular, a decisão pela museologia foi tomada sem nem pensar muito, pois desejava voltar um dia para sua terra natal e ser útil na preservação de todo o patrimônio de Alagoas.


PIONEIRA


Assim ela se tornou a primeira museóloga alagoana. Carmen Lúcia Dantas afirma que se encontrou na área e é fascinada pelas ligações entre história, arte e as propostas museográficas contemporâneas. Ao voltar para Alagoas, Carmen temeu não encontrar um mercado de trabalho, pois, até então, os museus eram apenas administrados por intelectuais, amadores que se interessavam pela preservação dos patrimônios.


“Me surpreendi, pois num instante consegui trabalhar. Doutor Théo Brandão, quando soube que tinha uma museóloga aqui em Alagoas, me encaminhou para a Universidade e depois eu fiz um concurso. Regularizei minha vida na Universidade como professora, porque não tinha concurso para museólogo, e fiquei à disposição do Théo Brandão. Hoje, fico feliz em ver que a Universidade de Alagoas já tem 4 ou 5 museólogas, todas elas aprovadas em concursos para a museologia, já que na minha época tive que fazer concurso para História”, relembrou.


De acordo com Carmen Lúcia, em todo Brasil o mercado da museologia é muito estreito. Em contrapartida, a formação de museologia permite que o profissional trabalhe em outras áreas culturais, graças ao universo largo de disciplinas oferecido pelo curso.


Ainda assim, é de suma importância a presença de um museólogo dentro dos equipamentos culturais, pois é esse profissional que irá conduzir tecnicamente a instituição. “Toda área cultural que diz respeito a um estado, ou a um país, deve ser preservado, registrado através dos seus espaços museológicos. E esses espaços devem estar preparados para expor esse acervo da melhor forma possível, de forma didática, planejada e executada pelo museólogo”.


SE REINVENTANDO


Com a modernidade e o mundo digital, para muitos, idas ao museu nem sempre são tão atrativas, fato que termina distanciando o público dos equipamentos. Em Alagoas, alguns museus têm optado por proporcionar à sociedade programações diversas, para, dessa forma, reaproximar os cidadãos dos espaços que preservam a memória.


O Museu de História Natural da Ufal é um dos equipamentos que têm buscado novas formas de se reinventar. Para Klinger da Silva, agente cultural e mestre em Patrimônio Cultural do MHN, é preciso que o poder público adote políticas culturais que atendam às demandas do setor museológico, além da inclusão dos museus no planejamento relativo às atividades turísticas e o apoio de iniciativas privadas.


“Acredito que o museu deve ser um organismo social vivo. Trazer escolas e realizar atividades lúdicas contemporâneas em sintonia com a juventude. Shows, poesia, arte periférica, etc. Mostrar ao jovem que o Museu não é coisa antiquada e fora do seu tempo, da sua vida. Abrir as portas para o novo. Os museus devem estar atualizados com o mundo de hoje, com a sociedade contemporânea”, defende Klinger.


Foi pensando nisso que o Museu de História Natural da Ufal e o Museu Théo Brandão estão dando vida ao projeto Museu Musical, que proporciona para o público momentos de muita arte e história. Em duas edições, cerca de 900 pessoas estiveram presentes, vivenciando o melhor da música universal e interagindo com renomados artistas alagoanos.


“Eu e o trombonista Rony Ferreira criamos este e o executamos em parceria com os museus. Em janeiro do próximo ano iremos para a terceira edição. Comemoraremos o aniversário do gênio da música alagoana e universal, nosso querido Djavan. Esperamos uma grande audiência neste evento. E uma maior empatia e integração entre, no caso específico, o nosso Museu de História Natural-MHN-UFAL e sociedade. Será uma noite maravilhosa”, diz.


Carmen Lúcia, no entanto, alerta que os museus não vivem um bom momento. De acordo com ela, museus importantes estão fechados e os que permanecem abertos caminham com muita dificuldade, sendo impedidos de transmitir ao visitante a sua mensagem cultural.


“É um dos piores momentos. Eu sou museóloga aqui em Alagoas desde a década de 1970 e sem dúvida esse é um dos piores momentos. Os gestores culturais precisam se encontrar e dar as mãos e pensar com responsabilidade, o que se pode fazer nessa área. O nosso acervo está ameaçado! Espero que possamos dar uma guinada e que os museus venham a ser respeitados como merece ser respeitada a nossa história alagoana e brasileira”, finaliza a museóloga.


*Sob supervisão da editoria de Cultura

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