Política

Ufal vem sofrendo derrocadas orçamentárias há seis anos

Com baixa de recursos, compromissos mensais são prejudicados e a redução de recursos foi de 44%

Por Texto: Thayanne Magalhães com Tribuna Independente 26/02/2022 10h16
Ufal vem sofrendo derrocadas orçamentárias há seis anos
Josealdo Tonholo informou que a Ufal teve orçamento de R$ 126 milhões em 2015 e em 2021, o recurso foi R$ 70 milhões, uma baixa de 44%, segundo o Portal do Ministério da Educação - Foto: Edilson Omena

O reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Josealdo Tonholo, fez um apelo em dezembro de 2021 à bancada federal para atuar junto à Comissão Mista de Orçamento no sentido de vetar os cortes impostos pela relatoria. Em entrevista à Tribuna Independente, ele afirmou que o apelo surtiu efeito e cortes no orçamento da universidade foram cancelados.

“Para nossa felicidade, a bancada federal conseguiu suprimir o corte de mais de R$ 5 milhões que estava previsto. O orçamento para 2022 estava muito parecido com o de 2021, quando houve corte de R$ 40 milhões com relação à 2020 e R$ 60 milhões com relação ao orçamento de 2019”, explica o reitor.

Tonholo ressalta que o orçamento da Ufal não acompanha a taxa de inflação do país. “Um orçamento menor causa impacto nas contas de água, de luz, internet, trabalhadores terceirizados e nas obras que estão em andamento. A construção civil teve um aumento grande com relação aos materiais”, exemplificou.

Ele afirma que a Universidade seguirá com suas atividades, apesar da baixa no orçamento. “A sustentação financeira da Ufal tem sido um processo muito conturbado, particularmente nos últimos anos, face ao arrocho orçamentário. Em 2015, recebemos R$ 126,24 milhões de orçamento discricionário e, seis anos depois, em 2021, tivemos que amargar um orçamento aprovado no valor de R$ 70,74 milhões. Ou seja, redução progressiva de aproximadamente 44%, de acordo com os dados obtidos no Portal Oficial do MEC, Painel 360 Universidades”, lamentou Tonholo.

FOMENTO DA ECONOMIA

O reitor destaca que a Ufal recebe o maior investimento federal em Alagoas e tem importância estratégica no ponto de vista da transferência de recursos que ajudam a sustentar o estado.

“A universidade, além da questão de formar pessoas capacitadas com excelência, tem o papel de regionalização. Estamos em oito municípios alagoanos e o nosso orçamento se espalha por todo o estado. Esse dinheiro vai parar no mercadinho onde o professor faz suas compras, por exemplo. Quando a Ufal sofre corte, toda Alagoas sofre junto”, explicou.

As aulas presenciais devem ser retomadas após o Carnaval e Tonholo reforça que a universidade não irá parar as atividades. “Está previsto para 21 de março o retorno das aulas presenciais. Será um ano muito difícil, mas vamos continuar funcionando, como aconteceu em formato remoto desde 2020 e as atividades administrativas funcionaram regularmente. Também não paramos com as atividades de pós-graduação e realizamos várias atividades de extensão”, opinou.

“A produção científica foi extraordinária nesse período e tivemos um salto incrível de qualidade. A tentativa de desmonte das universidades é evidente e o governo federal pega no nosso ponto mais fraco que é o orçamento”, continuou.

O reitor ressalta que a educação é a transformadora da realidade. “Alagoas evoluiu muito nos últimos trinta anos com as instituições federais espalhadas em todo o estado. Formamos profissionais de qualidade, que fazem toda a diferença na medicina, na engenharia, na gestão e nas diversas áreas oferecidas pela Ufal. Temos muito ainda o que avançar e contamos com a retomada da reposição orçamentária em 2023, que nos permita retomar novos planejamentos de extensão”, concluiu.

INIMIGO DAS UNIVERSIDADES

O deputado federal Paulão (PT) disse que sempre foi parceiro da Ufal e é o parlamentar que mais alocou recursos para a universidade e para os institutos federais do estado.

“Nós estamos vivenciando um momento crítico com relação ao governo federal. Por mais que a bancada federal ajude, não conseguimos resolver a questão do orçamento. Ocorre que Bolsonaro elegeu as universidades como inimigas, fazendo rotulações pejorativas e desidrata seu orçamento como forma de acabar com suas atividades”, opinou.

Para Paulão, o intuito de Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, é privatizar as universidades públicas. “Paulo Guedes tem uma vinculação histórica com a iniciativa privada e sua irmã é presidente da Associação Brasileira das Faculdades Privadas. Se dependesse do ministro, todas as universidades seriam privatizadas, mas como ele não pode, vai tirando o oxigênio, não alocando recursos para o custeio do cotidiano dessas instituições, como serviços prestados, energia e manutenção de qualquer entidade”, reforçou.

O parlamentar reforça que é preciso que haja mobilização popular para que a situação se reverta. “Não depende somente da bancada federal. Não serão nossas emendas que darão respostas. Tem que haver mobilização da reitoria, movimentação dos alunos, dos profissionais da educação, do administrativo e de toda sociedade em defesa das universidades. Não só em Alagoas, mas em todo o país”, concluiu.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas) disse à Tribuna Independente que vai acionar o Ministério da Economia para cobrar soluções.

“Eu vou acionar o Ministério da Economia em favor da liberação de orçamento para contratar o pessoal necessário e estou me aprofundando sobre as demandas urgentes da Universidade”, resumiu.

Situação é delicada, mas a universidade não parou, diz professora


A professora universitária e cientista política Luciana Santana reforça que a Universidade Federal de Alagoas deve passar por dificuldades por conta do corte de recursos. “Houve um corte de recursos de uma porcentagem muito grande e a universidade vive um grande dilema. Existe a necessidade da funcionalidade da universidade independente de ser no sistema remoto ou presencial, com assistência para as extensões, pesquisas e todas as atividades que não deixaram de ser feitas em nenhum momento durante a pandemia”, destaca.

Luciana relata que a universidade teve que se desdobrar para continuar prestando serviços e cumprir seu papel na área educacional.

“O problema se intensifica com a volta das aulas presenciais e com a necessidade de outras estruturas, investimentos, que hoje esses cortes inviabilizam. Foram dois anos com acúmulo de problemas de manutenção, de equipamentos que precisam de reparos, salas de aulas, laboratórios com problemas que precisam ser resolvidos para garantir efetivamente as exigências distintas de biossegurança para evitar contágios da Covid”, explicou a professora em contato com a reportagem da Tribuna Independente.

Para a professora, a Ufal passa por uma situação delicada. “A expectativa é que a gente possa de alguma maneira contar com a sensibilidade do Estado, do Poder Executivo e do Legislativo, com uma articulação com a bancada alagoana para que essa situação seja amenizada, com medidas que possam minimizar esses cortes de recursos. É importante hoje que a sociedade esteja atenta e saiba que esses cortes de recursos acontecem e que a universidade não parou um minuto sequer”, reforçou.