Entre as principais evidências apresentadas pelo trabalho em relação ao impacto da pandemia e ao uso de medicamentos por pacientes com lúpus, Emmanuele relata que “foi encontrada associação entre adesão ao tratamento medicamentoso e prática de exercício físico com identificação de dificuldades no tratamento”. A fisioterapeuta conta que “os participantes que não praticavam exercício físico tiveram 3,71 vezes mais chances de não aderir ao tratamento. Já os indivíduos que citaram dificuldades tiveram 3,43 vezes mais chances de não seguir o tratamento”. Ela “acredita que a pandemia pode ter influenciado esse resultado”.
O trabalho contou com a orientação do médico reumatologista, Thiago Fragoso, que é docente da Faculdade de Medicina (Famed) e chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário da Ufal. Ele desenvolve estudos na linha de pesquisa em doenças autoimunes. Fragoso destaca que “o ambulatório do HU é o único do estado voltado para assistência em alta complexidade de pacientes com essa enfermidade”. O médico ressalta que esse “foi o primeiro estudo no mundo a fazer essa avaliação durante a pandemia e avaliar esse impacto em pacientes com lúpus”.
“O trabalho foi realizado para avaliar o impacto da pandemia na adesão ao tratamento medicamentoso em pacientes com a doença. Foi verificada uma adesão de 55%. Concluímos que a pandemia de covid, provavelmente, interferiu na adesão ao tratamento”, explica o docente ao citar dados do estudo. E complementa: “Sugerimos que a Organização Mundial de Saúde deva considerar a pandemia de covid-19 como fator preditor individual na adesão ao tratamento de pacientes com essa doença”.
Os dados da pesquisa resultaram na dissertação de Emmanuele, que é mestra em Ciências Médicas pela Famed da Ufal. A pesquisa também deu origem ao artigo Adesão ao tratamento medicamentoso no Lúpus Eritemoso Sistêmico durante a pandemia da COVID-19 no Brasil (Medication adherence in systemic lupus erythematosus during Brazilian COVID-19 pandemic) e foi publicada na revista Lupus Journal. “É um renomado periódico internacional, com qualis B1 na área de Medicina I, contando com um fator de impacto de 2,911”, destaca a autora. E acrescenta: “É a única revista internacional, totalmente revisada por pares, dedicada exclusivamente à pesquisa de lúpus e doenças relacionadas. Inclui novos estudos clínicos e laboratoriais mais promissores dos principais especialistas em todas as disciplinas relacionadas a essa doença”.
O artigo pode ser acessado neste link.
Sobre o lúpus
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), mais conhecido apenas por lúpus, “é uma doença inflamatória crônica, de origem autoimune, cujos sintomas podem surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva (em meses) ou mais rapidamente (em semanas)”.
Conforme informações da SBR, “são reconhecidos dois tipos principais de lúpus: o cutâneo, que se manifesta apenas com manchas na pele; e o sistêmico, no qual um ou mais órgãos internos são acometidos”. No Brasil, ainda segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, “as estimativas indicam que existam cerca de 65.000 pessoas com lúpus, sendo a maioria mulheres”.