Cidades

Lobão cobra inclusão de marisqueiros no programa contra fome

Cobrança ocorre após reportagem da Tribuna sobre escassez do molusco e surgimento de “sururu branco” devido à poluição

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 01/07/2022 06h58 - Atualizado em 01/07/2022 14h06
Lobão cobra inclusão de marisqueiros no programa contra fome
Deputado Lobão utilizou informações de reportagem da Tribuna para justificar pedido de esclarecimentos - Foto: Ascom ALE

Após reportagem publicada na edição desta quibta-feira (30) da Tribuna Independente, que denuncia a situação do sururu na Lagoa Mundaú, o deputado estadual Anivaldo Luiz da Silva, o Lobão (MDB) solicitou - em caráter de urgência -, a adoção de providências para auxiliar os marisqueiros que vem enfrentando a escassez do molusco. O surgimento do “sururu branco” devido aos altos níveis de poluição também são alvo de preocupação.

Além do requerimento, o deputado utilizou a palavra na sessão de ontem para comentar o assunto. Ele destacou a necessidade de ação por parte dos poderes públicos tendo em vista a criticidade da situação do molusco que é considerado patrimônio imaterial de Alagoas desde 2014.

“Há alguns meses houve o surgimento do sururu branco, que se despedaça ao ser cozido, o que piorou com as chuvas (...) Apelo para que o governador Paulo Dantas insira os marisqueiros da Lagoa Mundaú no programa de combate à fome”, cobrou o deputado em plenário.

Lobão utilizou as informações publicadas pela reportagem da Tribuna Independente para justificar o pedido de esclarecimentos. No documento, o deputado pede ainda que a Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) cobre esclarecimentos do poder executivo.

“Determine que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) realize uma célere e rigorosa apuração sobre as causas da ‘morte’ do nosso patrimônio imaterial: o sururu”, pontuou.

De acordo com informações da ALE, a indicação será votada após o recesso legislativo, mais precisamente, em agosto. Se aprovada, a apuração sobre o caso segue e os órgãos envolvidos deverão ser comunicados para prestar os esclarecimentos.

“O problema do Sururu na lagoa é diminuição da salinidade, aumento de sedimento, com aumento da velocidade da água, diminuição de fitoplâncton, devido à diminuição da penetração de luz na coluna da água, que faz com que diminua a produtividade primária, aumento da carga orgânica e poluentes que faz com que diminua a oxigenação e problemas com deficiências de alguns nutrientes para o Sururu”, pontua Emerson, que é Doutor em Ciências Aquáticas e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Coleta do sururu na Lagoa Mundaú fica inviável por conta da escassez

Marisqueiros que tiram da Lagoa Mundaú o sustento vem enfrentando uma crise que se agravou após o período de chuvas. Segundo informações apuradas pela reportagem, o sururu vem desaparecendo gradativamente e, este ano, a coleta vem sendo inviabilizada. Os profissionais estão precisando migrar para outras atividades fora da pesca para a sobrevivência.

Bruno Alves atua na coleta do sururu há 19 anos e conta que nunca viu nada parecido. A escassez do molusco tem se acentuado nos últimos meses. Ele afirma que os marisqueiros estão com as atividades paralisadas, “passando sufoco”.

“Eu trabalho desde os meus 8 anos e nunca vi nada igual. Não estamos encontrando sururu em lugar nenhum, está tudo morto. Quem tem uma condição melhor, paga frete e leva o barco até Roteiro para ver se consegue pescar alguma coisa. Quem não tem como fazer isso está passando sufoco, porque não tem sururu na Lagoa Mundaú”, conta.

Além da escassez do molusco, um outro problema grave surgiu: a presença do sururu branco, uma variação gelatinosa, sem cor, que não tem condições adequadas para consumo.

“É um sururu esbranquiçado que quando a gente cozinha se esfarela todinho. Nunca vi uma coisa dessas. Acho que ele fica sem oxigênio, não sei o que causa isso. Mas é ruim. Depois desse problema com a Braskem, a lagoa está mudando muito, as coisas estão ficando muito difíceis e não temos apoio de ninguém. A gente paga colônia de pescadores, mas não temos suporte e ficamos parados sem condições de trabalhar. Nenhum órgão ajuda e a gente não sabe o que fazer”, diz o pescador.

A explicação para os fenômenos, segundo o pesquisador Emerson Soares, está ligada aos altos níveis de poluição que comprometem a qualidade da água, níveis de oxigênio e presença de metais pesados. Esse conjunto de agravantes deu origem à situação que vem sendo observada no sururu, que modificou a quantidade, cor e o aspecto do molusco.