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Chuvas acima da média são esperadas até fim do inverno em Alagoas

Combinação de fatores climáticos, oceânicos e aumento da temperatura favorecem grandes volumes pluviométricos

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 07/07/2022 06h47 - Atualizado em 07/07/2022 15h09
Chuvas acima da média são esperadas até fim do inverno em Alagoas
Segundo especialistas, média de chuvas esperada para meses de julho, agosto e setembro pode ser ultrapassada - Foto: Edilson Omena

Alagoas deve continuar com chuvas acima da média até o fim do inverno, ou pelo menos até o início de setembro. É o que detalha o professor e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Humberto Barbosa. Segundo ele, tem havido uma combinação de fatores que contribuem para o intenso volume de precipitações além do padrão para os meses. Entretanto, as mudanças climáticas também exercem uma importante influência e contribuem para a ocorrência de eventos extremos.

“A gente tem a temperatura dos oceanos que estão favoráveis, que é o resfriamento do Pacífico com o fenômeno La Nina, Oceano Atlântico que está mais aquecido, e a umidade das frentes frias que vêm sendo transportadas, e também perturbações típicas na África que tem transportado mais umidade. Porém tem um outro fato que não está sendo considerado, que é a temperatura do ar mais quente devido as mudanças climáticas, são excessos de eventos extremos que estão muito ligados com a mudança climática. As temperaturas no Nordeste estão mais quentes. E, quando a gente tem essa combinação, é uma condição perfeita para que tenhamos esse excesso de chuvas”, pontua.

Isto significa que deve chover além do esperado para os próximos meses. Ou seja, a média de chuva do que já é esperado para os meses de julho, agosto e setembro pode ser ultrapassado, mas não significa que os volumes serão iguais aos meses anteriores.

“É muito provável que a gente ainda tenha incidência desses fatores ajudando e intensificando esse problema de chuvas em excesso. No nosso caso a gente tem uma previsão ainda favorável, de julho, agosto e início de setembro, com chuvas acima da média para esses períodos. A previsão que a gente tem em agosto é que há uma mancha sobre a costa que pelo menos Maceió tem uma previsão de chuvas acima da média, mesmo que seja um padrão menor, e uma média não tão alta. Mas dada a situação isso coloca em condição de risco mesmo que as chuvas não sejam intensas. Mas ainda existe risco e em setembro para se ter ideia, mesmo sendo no fim do período de inverno, ainda há chance de receber um pouco mais de chuvas acima da média. Mas considerando o histórico desses meses também chama atenção que possa vir receber chuvas e aumentar o risco em áreas de vulnerabilidade de solo úmido”, diz o pesquisador.

La Niña e temperatura do Oceano Atlântico influenciam aumento das chuvas no Nordeste

O meteorologista da Sala de Alerta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) Vinícius Pinho destaca que as condições têm favorecido a intensidade das chuvas.

“Então, a gente tem dois fatores que têm influenciado bastante nas chuvas aqui na região. Primeiro deles é o La Niña que a gente já sabe que ele favorece a ocorrência de chuvas no Nordeste do Brasil. O La Niña que a gente fala é o resfriamento das águas do Pacífico Equatorial e esse resfriamento altera o regime de ventos da região, mudando a umidade que normalmente vai mais pra Sul do país trazendo mais umidade pra região Nordeste. Isso favorece as chuvas aqui na região, porque tem mais umidade, consequentemente mais chuvas. Mas além disso, nós temos o outro fator que, a meu ver, é preponderante, que é a questão da temperatura do Oceano Atlântico próximo a Costa do Nordeste do Brasil. O oceano Atlântico está bastante aquecido na costa Leste do Nordeste brasileiro. Isso também favorece porque há mais evaporação e mais combustível pra formação de chuva. Então esses dois fatores têm influenciados e vêm influenciando no aumento das chuvas em todo o Nordeste brasileiro. Principalmente no leste do nordeste do Brasil: Pernambuco, Alagoas e Paraíba”, enfatiza.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Humberto Barbosa expõe que as mudanças climáticas têm alterado regimes em todo o mundo, com a ocorrência de eventos cada vez mais extremos. No Brasil, essa tendência é observada em secas intensas na região Centro Oeste, e nas chuvas observadas no Nordeste.

“As mudanças climáticas são uma realidade. As previsões de eventos extremos estão muito acima do esperado pelos especialistas. Eventos extremos de seca foram muito antecipados em relação aos painéis intergovernamentais de mudanças climáticas, o que está acontecendo já era esperado, mas tem ocorrido de uma forma muito maior do que se tinha previsto. Nesse período do ano, quando a gente tem mais umidade, as temperaturas estão acima da média, um grau, dois até três. Com maior temperatura e maior umidade, os eventos de chuva são mais favoráveis. São fatores climáticos, em função das condições oceânicas, mas um importante elemento é que esses fatores acabam ficando mais intensos, cada vez mais intensos e potencializados, aumentando a capacidade dessas chuvas. Como na região central do Brasil, onde as maiores temperaturas e falta de umidade têm provocado situações de secas extremas, são eventos de seca em função dessas condições, mas também provocadas pelas mudanças climáticas. As altas temperaturas são um parâmetro muito direto”, pontua.