Cidades

Estudo avalia percepções de pessoas afetadas pelo afundamento de solo

De acordo com pesquisadora da Ufal, após coleta de dados, serão iniciadas avaliações nas áreas do entorno do mapa

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 11/03/2022 06h35 - Atualizado em 11/03/2022 14h08
Estudo avalia percepções de pessoas afetadas pelo afundamento de solo
Levino: próxima etapa é mapear empresas e entender como problema influenciou na tomada de decisão financeira - Foto: Arquivo pessoal

Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) mapeia as percepções e desdobramentos do processo de indenização de moradores e empresários dos bairros atingidos pela mineração. A Tribuna Independente conversou com a professora e pesquisadora Natallya Levino, responsável pela condução da pesquisa. Segundo ela, um dos objetivos é traçar um perfil da percepção das pessoas afetadas. A próxima etapa é mapear as empresas das áreas no entorno dos bairros realocados e entender de que forma o problema tem influenciado inclusive na tomada de decisões financeiras dessas empresas.

Tribuna Independente - Como e quando surgiu a ideia da pesquisa?

Natallya Levino - O projeto começou a ser rodado em 2020. A nossa motivação inicial era justamente as incertezas que existiam logo de início sobre esse incidente. Sobre como era que a comunidade ia ficar, como era que a própria região ia se desenvolver. Com a quantidade de pessoas atingidas, como é que elas estavam visualizando o que estava acontecendo. Então era uma diversidade de incertezas por trás desse processo que motivou a gente como pesquisador a tentar identificar, a tentar reconhecer o problema, a tentar começar a pensar em possibilidades de auxiliar as pessoas que já estavam passando por essas dificuldades. Então a nossa motivação inicial foi essa, essas incertezas inerentes ao processo, mas que de fato a magnitude dele desse problema era gigantesca.

Tribuna Independente – Quais foram os principais desafios enfrentados nesses quase dois anos de pesquisa?

Natallya Levino – Logo no início do projeto, em 2020, tivemos o problema com a pandemia. Né? Como tudo parou, a gente teve muito problema de alcançar as pessoas que estavam inseridas. A gente também estava com receio de como é que a gente ia fazer esse papel, como que ia realizar as entrevistas, como é que ia ter acesso à comunidade. Outro empecilho também que a gente tinha é que essa comunidade já não estava mais lá. Não estava mais inserida, muitas pessoas estavam desocupando aquele ambiente. Então pra gente ter acesso a esse pessoal também ficou limitado logo no início.

Tribuna Independente – Quais resultados foram obtidos até agora?

Natallya Levino
- A gente entrevistou todos os presidentes da Associação dos Moradores e todos ficaram muito insatisfeitos com a forma que foi estabelecido o acordo. Como a forma de negociação foi totalmente unilateral não sendo ouvido as demais lideranças que estavam ali na região que estavam realmente presentes no dia a dia daquela comunidade. As visões são corroboradas quando a gente vai lá entrevistar os moradores, quando a gente entrevista os empresários. Principalmente os empresários que foram colocados no acordo num segundo momento. Principalmente com os danos imateriais. A entrevista, ela chegou num ponto que a gente não tinha necessidade mais de expandir a nossa análise. Mas a maioria dos que a gente conseguiu entrevistar ficaram satisfeito com os danos materiais que foram estabelecidos com a Braskem. Lembrando que a gente começou a fazer essa entrevista entre 2020 e 2021. Podendo ter se alterado um pouco quando teve essa última expansão. Né? Nessa última expansão que foi englobada uma parte do farol, a pesquisa ela já tinha se encerrado.

Tribuna Independente – Existe alguma diferença entre a percepção de quem morava nos bairros e de quem tinha negócio funcionando?

Natallya Levino - Então os moradores que a gente entrevistou ficaram satisfeito com o acordo de danos materiais, mas achavam que também realmente os danos morais poderiam ser feito de uma nova perspectiva. Porque teve muita gente que foi muito fragilizada, pessoas que em cinquenta anos [tinham] uma relação com aquela casa, com aquele ambiente que era diferente de pessoas que estavam recém-chegadas naquela localidade. Já quando a gente examina a ótica dos empresários, realmente é difícil. Quando a gente começou a examinar porque não existia uma metodologia clara. A Braskem não tinha definido uma metodologia clara de proposta de indenização. Inclusive também foi uma perspectiva lá dos que também não conseguiram enxergar como era que a Braskem estabelecia o preço daquela moradia. Qual era o valor que era ponderado.
Os empresários eles estavam muito insatisfeitos. Justamente por não ter uma metodologia clara. Porque a Braskem não apresentava como é que ia englobar os lucros cessantes por ter aquela atividade finalizada. Ela não falava se ela ia pontuar também a perda que eles iam ter por aquele ponto fechado e que eles conquistaram aqueles clientes, como é que isso ia ser pago. Né? Como é que isso ia ser revertido em valores pra eles. Então era uma incerteza tão grande que gerava dúvidas e muita insatisfação. Então os empresários que a gente ouviu, eles tinham recebido uma proposta inicial e eles não tinham aceitado. Então a gente não tinha conversado sobre os próximos passos. Mas a gente também encontrou fragilidades internas das próprias porque as informações contábeis desses empresários encontravam-se desorganizadas. Então tinha essa fragilidade nessa relação, o que fazia com que isso aumentasse o poder de barganha da Braskem no momento de proposta.

Tribuna Independente – Quais as próximas etapas do estudo?

Natallya Levino - Agora a gente está fazendo análise dos dados coletados e estamos analisando a questão do entorno. Desses empresários que ficaram ali sobre como é que eles estão com o esvaziamento dos bairros. Mas isso realmente a gente está em fase preliminar e acredito que até o final do ano a gente tenha maiores evidências pra falar se a economia ao entorno desse problema de fato foi afetado. E como é que eles foram afetados. Só ressaltando que muitos tiveram que sair, se restabelecer em outros lugares ainda sem receber a indenização da Braskem. O que afeta muito o seu fluxo de caixa, isso afeta muito você se estabelecer numa nova localidade sem recursos, sem investimentos iniciais para poder gerenciar a sua empresa. Então quando a gente foi fazendo a pesquisa eles estavam na fase inicial da negociação. Muitos tinham realmente encerrado suas atividades e outros estavam tentando fazer dar certo o seu negócio em outra localidade, mas com recursos próprios visto que naquela época eles ainda não tinham recebido a indenização.