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21/03/2022 às 07h29

Geral

Arquivo Público de Alagoas, 60 anos de guarda e preservação de memórias para todos os alagoanos

Sob a direção da bibliotecária Wilma Nóbrega, instituição arquivística ampliou o acesso ao acervo  e abriu as portas para toda sociedade conhecer e aprender sobre Alagoas

André Palmeira

Por Renata Bertolino

O Arquivo Público de Alagoas (APA) completou, em 30 de dezembro de 2021, 60 anos de fundação. Em seis décadas de preservação documental, a instituição arquivística, que é vinculada ao Gabinete Civil do Estado desde 2007, se tornou referência não apenas como local de guarda, mas também como fonte primária de pesquisas e um ambiente atrativo para a difusão da história de Alagoas.

Após décadas sob administração de historiadores e intelectuais, a exemplo do professor Moacir Medeiros de Sant’ana, que dedicou mais de 40 anos ao APA, Geraldo Silva e Marcos Vasconcelos, em 2015, o Arquivo Público passou a ser gerido por uma "pequena, grande mulher", a bibliotecária Wilma Nóbrega, que consolidou o espaço como "a casa da sua história".

Arapiraquense, quarta filha, dos nove herdeiros do agricultor Valfrido Lima, uma ilustre figura boêmia de Arapiraca, Wilma tem referência histórica até no sangue, afinal, ela é neta da primeira vereadora mulher da cidade, Maria Lima. Wilma Nóbrega sempre teve sua vida ligada aos livros e à Educação. Apesar da deficiência em um olho e toda discriminação que sofreu enquanto criança, nada a impediu de trilhar seu caminho de amor pela leitura. Cursou biblioteconomia na Universidade Federal da Paraíba e, ao voltar a Alagoas, aos poucos foi ocupando lugar de destaque no mercado de trabalho alagoano. 

"Tivemos uma infância difícil, meu pai era agricultor, semianalfabeto, e minha mãe era professora primária, mas ambos priorizavam os estudos dos filhos. Crescemos com os valores de união, isso marcou muito minha infância e eu levei para a vida, assim como minha persistência em ler e es­crever. Apesar das limitações, sempre fui apaixonada por livros, e até ganhei um concurso de redação, durante o colegial. Tive a honra de orgulhar meu pai ainda em vida, ao ser a primeira filha formada, e me sinto realizada profissionalmente por toda experiência que já passei", recordou Wilma Nóbrega. 

Até chegar à Superintendência do Arquivo Público de Alagoas, Wilma lecionou nas primeiras três turmas de Biblioteconomia da Ufal, trabalhou na biblioteca de lá, na Fundação Casa do Penedo, no Instituto Arnon de Mello e na Biblioteca Pública do Estado, onde implantou o Sistema de Bibliotecas em Alagoas e o coordenou por 11 anos. 

Mesmo sendo uma Referência nos trabalhos com memoriais e bibliotecas, assumir o APA foi um grande desafio. A missão de guardar a memória histórica e administrativa do estado seria cumprida com zelo, mas o espírito de dinamizar os espaços que ocupa falou mais alto e se expressou em uma série de projetos, que abriu as portas do APA para toda sociedade. 

"Sempre fui muito dinâmica em tudo que realizei, então, quando me deparei com o Arquivo, logo me veio a preocupação do que eu poderia fazer para movimentar esse espaço. De pronto, disponibilizamos os catálogos do acervo para que os pesquisadores pudessem ter conhecimento dos documentos e livros que tínhamos disponíveis. Depois, motivamos as escolas para levar crianças e adolescentes para conhecer as instalações do APA com o Memória de Gerações. Em seguida, criamos o Chá de Memória, onde reunimos grandes historiadores e pesquisadores para discutir temáticas alagoanas, e o Suquinho de Memória que trabalha Educação Patrimonial para crianças. Esses e outros projetos que realizamos aproximam o acervo da comunidade e fomenta o sentimento de alagoanidade da população", relatou a superintendente.

Essas iniciativas de proximidade ganharam força com os preparativos do Governo para o Bicentenário de Alagoas. De lá para cá, eventos como o Chá de Memória  entraram no cenário cultural do Estado e, a cada evento, novos participantes se tornaram assíduos.

Com a pandemia do coronavírus, o mundo inteiro foi surpreendido com uma devastadora doença que exigiu medidas de isolamento. As determinações sanitárias inviabilizaram as ações culturais presenciais, por quase dois anos, mas já  estão sendo retomadas mensalmente. Com criatividade e a ajuda da tecnologia, o atendimento aos pesquisadores continuou de forma remota, por meio da divulgação do acervo nas redes sociais, contatos telefônicos e e-mail, afi­nal, a busca por conhecimento não pode parar.

Estímulo à Pesquisa e Parcerias

O Concurso de Monografias, lançado durante as comemorações do bicentenário alagoano, em 2017, é outro projeto que valoriza o trabalho do pesquisador, que tem no acervo do Arquivo Público uma fonte para produção científica. Os vencedores da primeira edição, My­llena Karla S. Azevedo e Wellington Gomes, já tiveram suas pesquisas publicadas e comercializadas.

As parcerias conquistadas nos últimos anos também contribuíram significativamente para que o processo de dinamização do APA desse certo. Em 2016, foi uma par­ceria com a Fapeal que possibilitou estruturar o serviço de restauração, catalogação e digitalização do acervo documental. A partir dali, foram implantados procedimentos padrões com técnicas de conservação, que por meio de oficinas, foram difundidas para servidores, colaboradores e bolsistas. Todo o conhecimento adquirido foi ado­tado pela equipe técnica do APA, para atender o pesquisador, garan­tindo a preservação dos documentos e dos livros do acervo.

Em 2019, a proposta foi investir na educação patrimonial. Com apoio do Programa Criança Alagoana (Cria), a parceria com o grupo de estudos Representações do Lugar (Relu), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o Arquivo Público inovou e inspirou pais e professores durante a pandemia. A criação do mascote, Moacirzinho, que homenageia o professor Moacir Medeiros de Sant’ana, que junto à Turma do Guerreirinho, personagens mirins do folclore regional, desenvolvidos por alunos do Relu, ganharam vida com a divulgação do Calendário Cultural 2020 e outras atividades didáticas, como quebra-cabeças e livrinhos para colorir com a temática folclórica, arquitetônica, cuidados com livros e até cartilha de prevenção ao Coronavírus, tudo produzido com uma linguagem voltada para o público infantil. 

Missão de continuação

Na primeira edição da Revista do Arquivo Público, de 1962,  Deraldo Campos, ex-secretário de Educação de Alagoas, afirmou: “o Arquivo Público é um órgão destinado a preservar os documentos de valor legal, administrativo ou histórico, fazê-los conhecidos e ao alcance da administração e dos pesquisadores é um estímulo à condução racional da máquina administrativa, livre da improvisação e da superficialidade”.

Esse trabalho vem sendo desenvolvido desde o dia 30 de dezembro de 1961, quando a Lei 2.428 criou a principal entidade arquivística do Estado. E sob exemplo deixado pelo professor Moacir Medeiros de Sant’Ana, que por mais de 45 anos dirigiu o APA e se dedicou a revelar o tesouro que habitava nas caixas de documentos armazenados nos porões do Museu Palácio Floriano Peixoto, o Arquivo continua aberto para atender o público e divulgar seu acervo para estimular a curiosidade do pesquisador por Alagoas. As redes sociais do Arquivo e o site do APA disponibilizam os catálogos do acervo. Havendo interesse do pesquisador, basta entrar em contato por telefone ou e-mail.

Desde 2010, a Sede do Arquivo Público de Alagoas está abrigada em um antigo Trapiche no histórico bairro de Jaraguá, cedido pelo Instituto do Patri­mônio Histórico Nacional (Iphan), em concessão ao Governo do Estado, que foi reformado e adaptado para receber o acervo. São mais de três milhões de documentos conservados em ambiente climatizado, salas de digitalização, biblioteca de autores alagoanos e sobre Alagoas, auditório, salão de pesquisa com  Wi-Fi e Hall de exposições. 

Atualmente, o sexagenário Arquivo Público de Alagoas recebe o triplo de pesquisadores, em comparação com o que recebia nas décadas anteriores. A superintendente do APA, Wilma Nóbrega, ratificou o compromisso e a dedicação necessária para manter o órgão ativo: “Apesar de pequena, nossa equipe é capaz de um trabalho grandioso, reconhecido pelo público e colaboradores, seja nos eventos ou no atendimento diário. E é fundamental destacar que nada seria possível, eventos, concursos, acessibilidade, dentre outros serviços oferecidos pelo APA, sem o suporte garantido pelo Gabinete Civil, que acredita nas ideias e proporciona a consolidação de cada projeto”.


Fonte: Painel Alagoas

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