Cidades

Comunidade dos Flexais reúne informações para comprovar subsidência

Moradores devem apresentar laudos de especialistas sobre efeitos na região para tentar realocação

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 26/03/2022 09h48 - Atualizado em 26/03/2022 10h11
Comunidade dos Flexais reúne informações para comprovar subsidência
Objetivo dos estudos que moradores vêm reunindo é o de viabilizar a realocação de cerca de 800 imóveis localizados no Flexal de Cima e Flexal de Baixo, que também podem estar sofrendo efeitos da subsi - Foto: Edilson Omena

Moradores dos Flexais têm reunido estudos na tentativa de comprovar que os efeitos do afundamento de solo também afetam a região. Segundo informações das lideranças comunitárias, laudos serão apresentados no próximo mês à comunidade e devem ser encaminhados aos órgãos competentes para providências. O objetivo é viabilizar a realocação de cerca de 800 imóveis.

O líder comunitário, Maurício Sarmento detalha que diversos aspectos estão sendo considerados, desde as rachaduras nas edificações, surgimento de água em pontos mesmo sem chuva, até níveis de poluição da Lagoa Mundaú na tentativa de obter uma resposta positiva do poder público as reivindicações.

“Estaremos apresentando primeiro a comunidade no dia 9 de abril em uma grande coletiva de imprensa, juntamente com um relatório geológico feito pela dra. Regla da Ufal [Universidade Federal de Alagoas], um mapa de afetação das áreas, feito pelo dr. Abel Galindo e os dois laudos de inspeção de engenharia feitos em 67 imóveis da comunidade feitos pelos engenheiros Alec Moura Sampaio, em 2019, e Lucas Mattar Protasio Nunes, em 2022. Além do Laudo da Lagoa Mundaú que será apresentado pelo prof. Emerson da Ufal”, pontua.

A Tribuna Independente teve acesso parcial a um dos documentos: a avaliação de engenharia feita este ano. Nele o responsável classifica a situação dos imóveis como crítica. Os demais estudos estão em fase de elaboração e a reportagem não obteve acesso.

“Depois das análises, há chances que as comunidades Flexal de Cima e Flexal de Baixo sofram com o mesmo problema, até mesmo casas da região foram desocupadas por conta do problema, aumentando ainda mais as probabilidades da área afetada ser maior do que os estudos sugerem. Assim, diante das evidências, classifico a situação das edificações do Flexal de Cima e Flexal de Baixo, em conjunto, como CRÍTICO e recomendo fortemente que as autoridades locais juntamente com a CPRM sejam convocadas para tomar as medidas cabíveis pelo bem da população local”, diz o engenheiro.

Ainda de acordo com Maurício Sarmento há uma expectativa grande por parte da população.

“A comunidade dos Flexais está com a expectativa muito grande nesses estudos. Está sendo super aguardado pela comunidade. Todos os dias eu tenho recebido mensagens da comunidade perguntando sobre quando que será feito a reunião com eles pra apresentação desses estudos”, afirma.


“Indícios é de que são rachaduras que têm como causa a Braskem”



Na avaliação do engenheiro Abel Galindo, há “indícios” de que os problemas enfrentados pelos moradores dos Flexais sejam decorrentes da mineração.

“Três ou quatro semanas atrás eu estive por duas vezes visitando aquelas casas lá do Flexal que estão rachadas. São muitas, né? Pessoas ali com sessenta anos que moram ali e nunca tiveram problema e agora, de três anos pra cá, a casa começou a rachar. Os indícios é de que são rachaduras que têm como causa a Braskem. Está na área, está dentro da chamada área de afetação. Mas a Defesa Civil chega e diz que são casas antigas. Mas eu nunca vi várias casas com sintomas iguais”, argumenta.

Galindo chama a atenção para um outro problema relatado pelos moradores: o surgimento de água nos trilhos dos trens mesmo quando não chove. “Tem lá no meio daquela rua a linha do trem. Ali tem a ocorrência de água. Mesmo no verão, tá lá, então são galerias ou a tubulação da Casal. É um indício do que aconteceu no Pinheiro. Aqueles vazamentos repentinos, aquelas erosões dentro do solo. Ou rompimento de tubulações, rompimento de galerias, tudo por conta da movimentação horizontal do solo. Então têm muitos indícios. Está bem claro ali que muitas e muitas casas que não foram incluídas ainda na área afetada pela Defesa Civil estão comprometidas. Eu estive lá e minha posição é essa: óbvio que as casas estão rachadas e estão rachadas não porque são casas antigas. Esses moradores estão sendo injustiçados”, avalia o especialista.

REALOCAÇÃO

Desde que o bairro de Bebedouro começou a ser realocado ainda em 2019 que os moradores dos Flexais e Marquês de Abrantes lutam pela inclusão no mapa de risco e realocação. Diversos equipamentos públicos e estabelecimentos comerciais deixaram o local e apenas 800 imóveis continuam habitados. Com o passar do tempo, rachaduras e fissuras começaram a surgir nos imóveis e vias da região, mas não há estudo comprobatório sobre a relação com o afundamento de solo.

A comunidade foi reconhecida no ano passado pela Defesa Civil de Maceió como área de ilhamento socioeconômico, entretanto, a condição não é reconhecida pelos órgãos signatários do acordo com a Braskem como suficiente para realocação.