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CONSIDERADO INVASOR, CORAL SOL É OBSERVADO PELA 1ª VEZ EM ALAGOAS

Ufal Penedo e órgãos ambientais colheram colônias da espécie para análise; coral pode causar danos ambientais em espécies nativas

Por IMARLAN GABRIEL - ESTAGIÁRIO | Edição do dia 29/03/2022

Matéria atualizada em 29/03/2022 às 04h00

| : Divulgação

O Coral Sol, considerado espécie invasora, foi registrado pela primeira vez no naufrágio do Itapagé, região de Jequiá da Praia, Litoral Sul de Alagoas, numa ação realizada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – campus Penedo – e órgãos ligados ao meio ambiente. Na ocasião, foram feitos registros, mergulhos e a retirada de amostras do coral invasor para análise.

O professor de Engenharia de Pesca e Biologia da Ufal Penedo e do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos (PPG DIBICT) Cláudio L.S. Sampaio explicou à Gazeta que por ser invasor, o coral pode causar danos ambientais em espécies nativas alagoanas. “O coral sol é invasor, ou seja, além de ter sua origem no oceano Indo-Pacifico, causa prejuízos à fauna e flora nativas. Por crescerem rápido e terem pouquíssimos predadores naturais no Brasil, competem por espaço e alimento com os corais nativos do Brasil, muitos exclusivos daqui, não sendo encontrados em nenhum outro lugar no mundo, além do litoral brasileiro”, disse.

Da espécie T. tagusensis, tendo cor amarelada e pólipos mais projetados e espaçados, o coral foi introduzido na costa brasileira na década de 1980. Registrado primeiramente em plataformas de petróleo e, depois, em costões rochosos no Rio de Janeiro, o Coral Sol vem se expandido para vários estados, chegando, agora, a Alagoas.

CIÊNCIA CIDADÃ

Através da campanha Ciência Cidadã, que vem sendo desenvolvida há mais de 6 anos pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal (@lic.ufal.penedo) e o Projeto Corais do Brasil (@coraisdobrasil.br), os pesquisadores receberam, no último dia 20, imagens do naufrágio do Itapagé, em Jequiá da Praia, Litoral Sul de Alagoas, enviadas por mergulhadores recreativos e pela escola e operadora de mergulho EcoScuba (@ecoscubamaceio), onde colônias do Coral Sol foram observadas.

Prontamente uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Programa de Pós-Graduação Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos da Ufal, Projeto Corais do Brasil e ICMBio/ Reserva Extrativista Marinha da Lagoa de Jequiá se organizou para realizar mergulhos científicos e iniciar ações de remoção de colônias para controle da invasão no naufrágio, na quarta-feira (23).

 

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Durante os mergulhos, a equipe registrou milhares de colônias espalhadas pela estrutura do histórico Itapagé, e, durante 15 minutos, removeu 53 colônias de Coral Sol, totalizando 1.377 pólipos e, aproximadamente, 2,5 kg (a maior colônia possuía 99 pólipos e 11 cm de diâmetro).

“O registro feito pelos mergulhadores e operadora de mergulho EcoScuba foi fundamental, pois o naufrágio do Itapagé é, embora histórico e muito bonito, pouco visitado. Esses registros foram encaminhados através das campanhas de ciência cidadã que estamos realizando, divulgando informações sobre o Coral Sol e da importância do seu registro precoce, para a tomada de medidas de manejo. O mergulho cientifico foi realizado por uma equipe de pesquisadores com grande experiência e além de conseguimos registrar o Coral Sol em algumas partes do naufrágio, fizemos algumas coletas. As análises ainda estão sendo realizadas em laboratórios da Ufal Penedo”, contou o pesquisador.


Análise


Através da análise das colônias de maior diâmetro, foi possível os pesquisadores estimarem a idade das colônias e, consequentemente, o início da invasão no naufrágio, que ocorreu, aproximadamente, no período de 3 anos, indicando a possibilidade de que o Coral Sol já esteja em outros naufrágios, boias e recifes do Litoral Sul alagoano.


De acordo com os pesquisadores, a ocorrência do Coral Sol em Alagoas pode ter sido facilitada pelo retardo e ausência de providências do poder público na aplicação de medidas de prevenção e monitoramento, amplamente discutidas e recomendadas, durante reuniões realizadas no Conselho Estadual de Proteção Ambiental – Cepram –, em Maceió, desde 2017, com a participação de gestores públicos, pesquisadores, operadoras de mergulho, ONGs e outros representantes da sociedade alagoana.


Impactos ambientais


Segundo os pesquisadores, o Coral Sol tem causado impactos ambientais negativos, reduzindo a biodiversidade e deixando os recifes menos coloridos e atraentes. A chegada do coral invasor em Alagoas é extremamente preocupante, porque o Estado possui grandes áreas recifais importantes para a economia, através da pesca e turismo. Inclusive, os recifes brasileiros possuem poucas espécies de corais construtores, mas quase todos são exclusivos, não existindo em nenhuma outra parte do planeta.

Pelo fato de os corais apresentarem altas taxas de crescimento, reprodução e regeneração, além de conseguirem se estabelecer em grandes profundidades, aproximadamente, 60 metros, a diferentes tipos de ambientes marinhos e até estuarinos, as ações de remoção das colônias para controle da bioinvasão são desafiadoras.


Monitoramento


Por conta desses riscos e prejuízos, para o professor Cláudio, é prioritária a implementação e ampliação de alguns programas científicos e ambientais. "Para resolver o problema do coral sol é necessário a implementação urgente de programa de monitoramento e manejo, com capacitação de mergulhadores. A Ciência Cidadã deve ser ampliada, para facilitar o seu registro em outras localidades nas primeiras fases da invasão biológica, quando há poucas colônias de coral sol e ele ainda está limitado a poucas áreas, aumentando as chances de remoção com sucesso", disse ele.

De acordo com os pesquisadores, é necessário, também, o monitoramento dos seus vetores conhecidos, como naufrágios, portos, marinas, cascos de embarcações e plataformas associadas à indústria do petróleo e boias, além de uma ação urgente na costa e ilhas oceânicas brasileiras em parceria com os Estados, municípios, Universidades, Marinha do Brasil, ONGs, mergulhadores e turistas para o manejo do Coral Sol, inclusive para fins de prevenção.

Um artigo científico está sendo redigido para publicação em revista científica internacional, alertando a comunidade acadêmica e os gestores públicos sobre o primeiro registro deste invasor na região e sobre a importância das medidas de prevenção contra espécies invasoras em Alagoas.

Caso tenha observado o Coral Sol em Alagoas, entre em contato pelo WhatsApp 82 99654 5349.


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