Economia

Preço da cenoura nas alturas assusta consumidores

Há lugares em que o valor da cenoura chega a quase R$ 10

Por Ana Paula Omena com Tribuna Independente 03/03/2022 09h28 - Atualizado em 03/03/2022 10h18
Preço da cenoura nas alturas assusta consumidores
Cenoura - Foto: Edilson Omena

Não está fácil para o brasileiro manter os alimentos na mesa. É feijão, óleo, margarina, manteiga, carne, leite, entre outros, que tiveram grande aumento de preço no último ano. Os produtos de hortifruti ainda são os que tiveram os preços equilibrados. Mas de alguns meses para cá, vêm sofrendo altas constantes. Este ano, por exemplo, os produtos de hortifruti tiveram elevação considerável no preço, especialmente a cenoura. Há lugares em que o valor da cenoura chega a quase R$ 10. O produto antes podia ser encontrado por R$ 2, R$ 3 em supermercados, sacolões e feiras livres, a depender do tipo e tamanho.

A confeiteira Débora Carla que compra cenoura para a salada, mas também para fazer bolos, que vende nas redes sociais tomou um susto quando viu o preço do legume. A consumidora lembrou que o preço, em dia promocional, era de apenas R$ 1,70. Fora da promoção, ela encontrava a R$ 2,19.

‘’A cenoura e a batata-doce era uma das verduras mais baratas... Nem acreditei quando vi o valor’’, disse a confeiteira. A cliente já tem em mente o que pode ter causado alta tão intensa no preço.

‘’A qualidade dele está bem ruim, bem fininho dessa vez, acho que é a safra. A gente até que tenta reduzir o valor dos produtos repassados aos clientes, mas com tudo caro é inevitável o reajuste’’, refletiu a empreendedora.

Pelo jeito o bolinho fofinho de cenoura de todos os finais de semana na casa da dona Eliude Maia vai ter que esperar. “O lanche da tarde das visitas está suspenso por enquanto”, brincou. “Vou deixar reduzir o valor para voltar a comprar, até uso no feijão e ralo para colocar no arroz, mas do jeito que está não dá pra comprar”, contou.

Cícero Péricles, professor e pesquisador na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), explicou que existem várias razões para os aumentos dos preços dos produtos agrícolas: a sazonalidade, a variação do volume produzido, os custos variáveis de plantar e colher, como também a conectividade e a integração dos mercados, que permitem aos preços de uma região afetarem os das demais. “Nos aumentos recentes em Alagoas, o principal elemento tem sido a integração dos mercados, aliada à nossa dependência das importações”, frisou.

Conforme Péricles, os dados do Ideral, o Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas mostram, claramente, a dependência do consumo estadual alagoano das importações de produtos agrícolas vindas de Pernambuco, Bahia, Sergipe e Paraíba, como é o caso de hortaliças, a exemplo da cenoura. “Para esse órgão da Secretaria de Agricultura, que faz um levantamento regular de preços, com base na comercialização da Ceasa, nossa dependência vem sendo grande porque a produção estadual é pequena e insuficiente”, observou.

“Pelas informações levantadas, a caixa de cenoura de 20 kg importada, no começo deste mês oscilava entre R$85 e R$90, e agora, no final de fevereiro, custa 150 reais. Evidentemente, na ponta, nos vendedores finais dos mercadinhos, bancas de feiras livres, hortifrutis e sacolões, o preço teria de subir na mesma proporção”, destacou o economista.

Estados do Nordeste foram afetados pelos aumentos dos preços da cenoura


De acordo com o professor da Ufal, Cícero Péricles, como os mercados regionais estão interligados, os estados do Nordeste foram afetados pelos aumentos dos preços da cenoura e de outros produtos agrícolas, provocados pelas chuvas intensas que caíram em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo.

“Os produtores de cenoura e outras hortaliças na região Sudeste perderam parte da produção, a colheita foi menor, diminuindo o abastecimento interno, reduzindo as exportações daqueles estados, ao mesmo tempo, que aumentaram as compras externas, de outras regiões, pressionando e elevando os preços nos estados nordestinos”, ressaltou.

O economista pontuou que no sentido mais amplo, a sazonalidade é uma das características da produção agrícola. Na safra, os produtos perdem preços e, na entressafra, naturalmente, os preços sobem. “As verduras, legumes, cereais e as frutas têm também fases mais ou menos produtivas, decorrentes das condições climáticas. Como é uma produção direcionada ao mercado, existe, também, um redirecionamento de investimentos, capital e terras, que buscam culturas mais rentáveis quando os preços de determinados produtos caem”.

Ele conclui que em 2021, a cenoura perdeu rentabilidade para outros produtos fazendo com que sua área plantada diminuísse, a oferta ficasse menor, explicando, em parte, o aumento de preços. Por outro lado, os custos de produção subiram em decorrência dos preços dos fertilizantes, energia e outros insumos, transformando-se num dos elementos da inflação de alimentos, que está em alta desde o ano passado.

NUTRIÇÃO

A nutricionista Isabela Lins pontuou que é possível substituir a cenoura por qualquer legume e fruta de cor amarelo alaranjadas, já que elas têm a mesma funcionalidade, além de ser ricos em beta caroteno.

“É um análogo da vitamina A, uma vitamina antioxidante, ou seja, previne contra doenças degenerativas, e melhora a imunidade. Além de ser boa na prevenção de doenças oculares, como xeroftalmia e cegueira noturna, bem como serem componentes da pele e cabelo”, completou.