Cidades

Afundamento de bairros afeta saúde mental de moradores em Maceió

Conforme o MUVB, entre problemas mais observados estão depressão, síndrome do pânico e ansiedade

Por Luciana Beder – Colaboradora com Tribuna Independente 11/04/2023 09h45 - Atualizado em 11/04/2023 12h12
Afundamento de bairros afeta saúde mental de moradores em Maceió
Moradores tiveram que deixar as suas casas nos bairros afetados pela mineração da empresa Braskem - Foto: Edilson Omena

Cinco anos após o surgimento de rachaduras e afundamento do solo que atingiram os bairros do Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e parte do Farol, muitos moradores sofrem não só com danos materiais, mas também com o adoecimento mental. Segundo a integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), Neirevane Nunes, o adoecimento dessas pessoas é crescente.

“Depressão, síndrome do pânico e ansiedade são os que mais observamos. Desse universo de atingidos, infelizmente, 12 chegaram ao suicídio. O último caso foi o do policial civil Ronaldo Cavalcante, ex-morador do bairro do Pinheiro, ocorrido justamente no dia 3 de março, quando se completaram cinco anos que o crime da Braskem veio à tona”, afirmou.

Ainda de acordo com Nunes, muitas pessoas também tiveram problemas clínicos agravados pela situação vivida em relação ao crime da Braskem. “Os danos imateriais e, principalmente, os existenciais são praticamente irreparáveis. E a Braskem não tem ressarcido essas pessoas pelos danos à saúde física e mental. Há relatos de pessoas que chegaram a apresentar laudos médicos e que não foram aceitos pela Braskem, o que é um absurdo”, disse.

Ex-morador do Pinheiro, José Rinaldo Januário contou que a situação desencadeou diversos problemas de saúde e emocionais. “Faz três anos que saí de lá. Saí em caráter de urgência por determinação do Ministério Público Federal [MPF]. O imóvel era dos meus pais, construído pelo meu pai, um patrimônio da família conquistado com muito trabalho, que ficou totalmente destruído, a famosa ‘casa rosa’, muito conhecida, que toda mídia visitou”, afirmou.

Rinaldo disse que a mãe dele infartou após, aproximadamente, três meses do abalo sísmico. “Meu pai já havia falecido e minha mãe acabou infartando com toda essa tristeza. Nós adoecemos. Minha mulher passou por sérios problemas de saúde, foi diagnosticada com transtornos psicológicos. Eu fiquei bastante angustiado, mas administrei”, contou.

Pesquisa busca entender adoecimento das vítimas e dar visibilidade

Realizada pela professora Verônica Alves, do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), pela mestranda Priscilla Souza e pelo bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) Matheus Melo quer descobrir o adoecimento mental das pessoas vítimas da instabilidade do solo.

De acordo com a professora Verônica Alves, a pesquisa foi motivada pelas entrevistas, reportagens, manifestações dos populares da região por meio de atos públicos e pelas mensagens que eram deixadas pelos próprios moradores em suas residências, ao terem que abandonar seus lares.

“Percebemos que isso levantava indícios de que esse evento poderia estar afetando a saúde mental desta população. Muito se fala sobre as perdas materiais e financeiras, mas pouco se fala sobre o sofrimento mental causado pela realocação dos moradores”, disse.

Segundo Nunes, apesar de ainda estarem em fase de coleta, dados apontam que os moradores acreditam que houve uma piora na saúde mental, após o afundamento do solo em seus bairros. “Também identificamos que houve um importante aumento do número de indivíduos que passaram a fazer acompanhamento psicológico/psiquiátrico. Outro dado que nos chamou a atenção foi o número de casos de pessoas que alegaram ter apresentado ideação suicida, após a ocorrência desse evento em seus bairros”, afirmou.

A professora Verônica Alves ressaltou que o objetivo com esse estudo é identificar e dar visibilidade a presença de transtornos mentais comuns nos ex-moradores que foram afetados pelo afundamento do solo em seus bairros. “Com isso buscamos subsidiar políticas públicas e intervenções de cuidado que amenizem o sofrimento mental a médio e longo prazo nessa população”, explicou.

Alves disse que a pesquisa ainda está em fase de coleta de dados, precisando realizar a entrevista com 380 ex-moradores. “Assim, aproveitamos o espaço nessa entrevista para convidar aqueles que ainda não participaram do estudo a participarem. A pesquisa está sendo feita através de um questionário on-line e também presencial”, disse. Maiores informações podem ser acessadas no Instagram @vidas_rachadas.