O que define qualquer aliança política, em geral, é sua participação nas gestões. São os cargos que dão peso, visibilidade e consolidam o apoio. Isso não será diferente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas a dinâmica para as nomeações não tem seguido o script de outras eleições, quando os partidos, em especial o seu, já tinham listas prontas desde o Natal do ano anterior. Desta vez o “pandeiro” está com outro toque. E como já disse em diversas oportunidades a cientista política e professora da Ufal Luciana Santana, a grande questão é que o leque de alianças foi maior. “E terá que ser dividido conforme o peso e as necessidades do governo”. E elas são muitas já, que o presidente sabe que a “carta na manga” inclui apoio para aprovar, entre outras, a Reforma Tributária, ainda no primeiro semestre. Para isso, os cargos, bem como os recursos represados do extinto “orçamento secreto” de R$ 19,5, bilhões, somados aos recursos dos ministérios, devem passar dos R$ 46 bilhões. Mas, se o dinheiro é farto, por que os cargos também têm peso? A resposta é simples: poder. E nos Estados com influência nos municípios, leia-se prefeitos, que por sua vez são a base eleitoral para 2026. Uma coisa está atrelada à outra. O leque de alianças de sustentabilidade vai além dos partidos que o elegeram. Lula largou para a corrida eleitoral com a federação formada pelo PT-PV-PCdoB e a outra federação encabeçada pelo PSol-Rede, além do apoio do PSB, Solidariedade, Pros, Avante e Agir. No 2° turno chegaram outros aliados: PDT, Cidadania-PSDB, PCB, PSTU, PCO e Unidade Popular. A exceção do PDT, os demais não têm exigido, ou pelo menos, não o fazem como os que se juntaram após a vitória do petista. Além desses, outras sete legendas liberaram o voto em Lula como: MDB, PSD, União Brasil, Podemos, Novo e DC.
ACORDO
E foi aí que a situação se complicou. Porque o chamado pacto pela democracia, juntamente com a governabilidade de Lula, exigiu fidelidade dois meses antes de sua posse oficial. Isso porque o futuro governo precisou de votos para a PEC da Transição. Foi ela quem garantiu os recursos para o primeiro ano do governo e ajudou a “fechar a conta” do governo anterior. Com a aprovação e a aproximação dos novos aliados, começaram a surgir outras necessidades. Entre elas a execução do programa de governo e o cumprimento das promessas de campanha. O PP do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ficou onde estava. No caso de Alagoas, na Codevasf, com o ex-prefeito Joãozinho Pereira. A permanência mexeu no xadrez político do Estado porque o MDB do senador Renan Calheiros (MDB) queria mais espaço. E, este, em especial, influencia no repasse de recursos para os municípios ribeirinhos do São Francisco e do Parnaíba.
CIUMEIRA
A ciumeira que agita os emedebistas é que Arthur Lira era eleitor de Bolsonaro, oposição ao governador Paulo Dantas (MDB) e, ao mesmo tempo, conseguiu manter Pereira, que, para completar, é seu primo, num cargo de destaque. Os reflexos das disputa entre o grupo de Lira e Calheiros é tanta, que pode até mesmo influenciar as articulações, em Brasília, para a montagem das Comissões Mistas do Congresso Nacional. Segundo revelou Lira, “questiúnculas” de Alagoas estariam interferindo no diálogo com o presidente do Senado Federal, o senador Rodrigo Pacheco (PSD). A influência de Arthur Lira segue de forma hegemônica no Estado. Além da Codevasf, outro cargo sob seu domínio é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), dirigido por outro primo, Wilson César de Lira Santos. A prova de que Arthur não perdeu a linha nem a força no Estado é que até a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), comandada por Carlos Cavalcante, indicado por ele, segue intacta. Esse órgão, inclusive, tem um detalhe curioso. Nos ex-governos de Lula/Dilma sempre passaram pelas mãos de Lira. Foi com influência nessa área, por exemplo, que seu pai, o ex-senador Benedito de Lira, conseguiu trazer para a capital o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Na CBTU, dificilmente PT ou MDB, além de outros aliados, ocupam espaço. Tanto que o PP também tem a Gerência Regional de Engenharia e a Coordenação de Planejamento e Informática do órgão. A influência do presidente da Câmara não é só em terra. No Porto de Maceió, ele também conquistou espaço e tem mantido na função Diogo Holanda Pereira. Por fim, outro órgão que tem gente sua é o Departamento Estadual de Obras contra as Secas (Denocs), ocupado por Arlindo Garrote, filho da ex-deputada Ângela Garrote.
ARTICULAÇÃO
Não só esses cargos que estão disponíveis em Alagoas. Há o comando dos Correios, a Funai, Dnit, os bancos Caixa e Banco do Brasil, Funasa, INSS, DRT, PF, PRF, MEC entre outros. A prioridade deve ser para técnicos, ou funcionários de carreira. Aqui e acolá a regra é quebrada, somando-se aí alguém de longa militância, mas ainda assim com formação específica. Mas, ainda assim, como um sinal de apoio e cooperação política precisam ser negociados com as forças que chegaram ao poder com o retorno de Lula. Como já adiantou o presidente do Diretório Estadual do PT, Ricardo Barbosa, quem será o articulador de todo esse processo é o deputado federal Paulo Fernando dos Santos, o Paulão. Ele terá tarefa difícil, porque sabe da influência de Arthur Lira e ainda assim terá que conversar com os deputados federais Fábio Costa (PP) e Alfredo Gaspar (União Brasil). Ambos, ao contrário de outros quadros de seus partidos, estão dispostos a se manterem longe do governo. A estratégia que defendem é continuarem inflando as bases de direita da capital e do Estado. Não é à toa que têm tomado posições polêmicas e contrárias ao governo. O antagonismo que defendem, no momento, não os coloca no leque de aliados nem para o futuro. Diferentemente de Lira, que sobrevive em qualquer condição de pressão e temperatura política, fato que aprendeu nos últimos 30 anos, os novos federais estarão distantes desse diálogo. Para completar a situação, Paulão terá que matar a “sede política” dos deputados Isnaldo Bulhões, líder do MDB na Câmara, Marx Beltrão (PP), Luciano Amaral (PV), Daniel Barbosa (PP), Rafael Brito (MDB). Ou seja, a julgar pela distribuição das legendas, está cada vez mais difícil encaixar os “companheiros” em funções de destaque. Talvez o Incra, porque, em nível nacional, é o partido quem comanda a pasta. Ricardo Barbosa é um dos nomes que correm para comandar o Porto de Maceió. Como até o momento o martelo não foi batido, talvez num processo de convencimento Paulão sensibilize Lira para não deixá-lo à deriva.