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Maceió,
Nº 5710
Política

DOMÍNIO DO PP DIFICULTA NEGOCIAÇÕES COM ALIADOS PARA CARGOS FEDERAIS

Com leque de alianças maior, coordenação do governo Lula em AL tem dificuldade para contemplar partidos

Por Marcos Rodrigues | Edição do dia 08/04/2023

Matéria atualizada em 08/04/2023 às 04h00

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O que define qualquer aliança política, em geral, é sua participação nas gestões. São os cargos que dão peso, visibilidade e consolidam o apoio. Isso não será diferente no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas a dinâmica para as nomeações não tem seguido o script de outras eleições, quando os partidos, em especial o seu, já tinham listas prontas desde o Natal do ano anterior. Desta vez o “pandeiro” está com outro toque. E como já disse em diversas oportunidades a cientista política e professora da Ufal Luciana Santana, a grande questão é que o leque de alianças foi maior. “E terá que ser dividido conforme o peso e as necessidades do governo”. E elas são muitas já, que o presidente sabe que a “carta na manga” inclui apoio para aprovar, entre outras, a Reforma Tributária, ainda no primeiro semestre. Para isso, os cargos, bem como os recursos represados do extinto “orçamento secreto” de R$ 19,5, bilhões, somados aos recursos dos ministérios, devem passar dos R$ 46 bilhões. Mas, se o dinheiro é farto, por que os cargos também têm peso? A resposta é simples: poder. E nos Estados com influência nos municípios, leia-se prefeitos, que por sua vez são a base eleitoral para 2026. Uma coisa está atrelada à outra. O leque de alianças de sustentabilidade vai além dos partidos que o elegeram. Lula largou para a corrida eleitoral com a federação formada pelo PT-PV-PCdoB e a outra federação encabeçada pelo PSol-Rede, além do apoio do PSB, Solidariedade, Pros, Avante e Agir. No 2° turno chegaram outros aliados: PDT, Cidadania-PSDB, PCB, PSTU, PCO e Unidade Popular. A exceção do PDT, os demais não têm exigido, ou pelo menos, não o fazem como os que se juntaram após a vitória do petista. Além desses, outras sete legendas liberaram o voto em Lula como: MDB, PSD, União Brasil, Podemos, Novo e DC.

ACORDO

E foi aí que a situação se complicou. Porque o chamado pacto pela democracia, juntamente com a governabilidade de Lula, exigiu fidelidade dois meses antes de sua posse oficial. Isso porque o futuro governo precisou de votos para a PEC da Transição. Foi ela quem garantiu os recursos para o primeiro ano do governo e ajudou a “fechar a conta” do governo anterior. Com a aprovação e a aproximação dos novos aliados, começaram a surgir outras necessidades. Entre elas a execução do programa de governo e o cumprimento das promessas de campanha. O PP do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ficou onde estava. No caso de Alagoas, na Codevasf, com o ex-prefeito Joãozinho Pereira. A permanência mexeu no xadrez político do Estado porque o MDB do senador Renan Calheiros (MDB) queria mais espaço. E, este, em especial, influencia no repasse de recursos para os municípios ribeirinhos do São Francisco e do Parnaíba.

CIUMEIRA

A ciumeira que agita os emedebistas é que Arthur Lira era eleitor de Bolsonaro, oposição ao governador Paulo Dantas (MDB) e, ao mesmo tempo, conseguiu manter Pereira, que, para completar, é seu primo, num cargo de destaque. Os reflexos das disputa entre o grupo de Lira e Calheiros é tanta, que pode até mesmo influenciar as articulações, em Brasília, para a montagem das Comissões Mistas do Congresso Nacional. Segundo revelou Lira, “questiúnculas” de Alagoas estariam interferindo no diálogo com o presidente do Senado Federal, o senador Rodrigo Pacheco (PSD). A influência de Arthur Lira segue de forma hegemônica no Estado. Além da Codevasf, outro cargo sob seu domínio é o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), dirigido por outro primo, Wilson César de Lira Santos. A prova de que Arthur não perdeu a linha nem a força no Estado é que até a superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), comandada por Carlos Cavalcante, indicado por ele, segue intacta. Esse órgão, inclusive, tem um detalhe curioso. Nos ex-governos de Lula/Dilma sempre passaram pelas mãos de Lira. Foi com influência nessa área, por exemplo, que seu pai, o ex-senador Benedito de Lira, conseguiu trazer para a capital o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Na CBTU, dificilmente PT ou MDB, além de outros aliados, ocupam espaço. Tanto que o PP também tem a Gerência Regional de Engenharia e a Coordenação de Planejamento e Informática do órgão. A influência do presidente da Câmara não é só em terra. No Porto de Maceió, ele também conquistou espaço e tem mantido na função Diogo Holanda Pereira. Por fim, outro órgão que tem gente sua é o Departamento Estadual de Obras contra as Secas (Denocs), ocupado por Arlindo Garrote, filho da ex-deputada Ângela Garrote.

ARTICULAÇÃO

Não só esses cargos que estão disponíveis em Alagoas. Há o comando dos Correios, a Funai, Dnit, os bancos Caixa e Banco do Brasil, Funasa, INSS, DRT, PF, PRF, MEC entre outros. A prioridade deve ser para técnicos, ou funcionários de carreira. Aqui e acolá a regra é quebrada, somando-se aí alguém de longa militância, mas ainda assim com formação específica. Mas, ainda assim, como um sinal de apoio e cooperação política precisam ser negociados com as forças que chegaram ao poder com o retorno de Lula. Como já adiantou o presidente do Diretório Estadual do PT, Ricardo Barbosa, quem será o articulador de todo esse processo é o deputado federal Paulo Fernando dos Santos, o Paulão. Ele terá tarefa difícil, porque sabe da influência de Arthur Lira e ainda assim terá que conversar com os deputados federais Fábio Costa (PP) e Alfredo Gaspar (União Brasil). Ambos, ao contrário de outros quadros de seus partidos, estão dispostos a se manterem longe do governo. A estratégia que defendem é continuarem inflando as bases de direita da capital e do Estado. Não é à toa que têm tomado posições polêmicas e contrárias ao governo. O antagonismo que defendem, no momento, não os coloca no leque de aliados nem para o futuro. Diferentemente de Lira, que sobrevive em qualquer condição de pressão e temperatura política, fato que aprendeu nos últimos 30 anos, os novos federais estarão distantes desse diálogo. Para completar a situação, Paulão terá que matar a “sede política” dos deputados Isnaldo Bulhões, líder do MDB na Câmara, Marx Beltrão (PP), Luciano Amaral (PV), Daniel Barbosa (PP), Rafael Brito (MDB). Ou seja, a julgar pela distribuição das legendas, está cada vez mais difícil encaixar os “companheiros” em funções de destaque. Talvez o Incra, porque, em nível nacional, é o partido quem comanda a pasta. Ricardo Barbosa é um dos nomes que correm para comandar o Porto de Maceió. Como até o momento o martelo não foi batido, talvez num processo de convencimento Paulão sensibilize Lira para não deixá-lo à deriva.

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