Professores afirmam que rompimento da Mina 18 não impactou a Lagoa Mundaú: “Não tem nada que comprove”

18/12/2023 11:55 - Maceió
Por Laura Albuquerque*
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Em coletiva realizada, na manhã desta segunda-feira (18), na Reitoria, no Campus A.C. Simões, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e o Instituto de Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA-AL) apresentaram os resultados das análises feitas pelas duas instituições, no mês de dezembro, antes e depois do rompimento da Mina 18. De acordo com os pesquisadores, em um primeiro momento, os dados mostram que não houve nenhum impacto na água da Lagoa Mundaú.

Segundo o professor Emerson Soares, do Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática (Laqua), foram feitas coletas no sistema lagunar em fevereiro, junho e setembro deste ano, seguidas de coletas do dia 2 ao dia 11 dezembro também deste ano. Ele afirma que os índices de compostos presentes na água não sofreram alteração.

Professor Emerson Soares. Foto: Laura Albuquerque/ CadaMinuto

“Baseado nesses dados, não tem nada que comprove que a Mina 18, pelo menos nesse momento, teve impacto na água, exceto na quantidade de fluoreto. O fluoreto deu acima do limite, mas ele tem relação com fertilizantes, solos e esgotos”, pontua o professor.

O especialista ressalta que o monitoramento da lagoa continuará, pois existe a possibilidade desses dados se alterarem. “Pode acontecer alguma coisa no futuro? Pode. Nós não sabemos, por isso é importante monitorar”.

Segundo os pesquisadores da Ufal, as coletas realizadas foram tanto superficialmente, quanto com profundidade. Eles explicam que não foi coletado em apenas um ponto da mina, mas em três pontos ao redor da margem.

“O primeiro ponto foi centralizado na Minha 18 e a gente percebeu um rastro, com uma coloração. Aí a gente acabou coletando também. Então, a gente coletou um pouco no centro desse rastro e no final também”.

 

Condições da Lagoa Mundaú

O professor Emerson também falou sobre as condições da lagoa, ressaltando a grande contaminação com compostos altamente tóxicos. Ele explicou que vários desses compostos presentes são cancerígenos e que a situação da Laguna é uma questão de saúde pública.

“Nós encontramos DDT [inseticida], composto proibido no Brasil, assim como Endossulfam [inseticida]. Alguns desses compostos são levados para a laguna através de agroquímicos que são lançados na área marginal e são arrastados para as águas, se acumulando ali”, expõe Emerson.

Segundo a gerente do Laboratório do IMA-AL, Ana Karine Pimentel, a laguna sofre influência de diversos fatores externos, como a urbanização ao seu redor, a ligação direta com o mar e as diversas atividades realizadas no entorno. Ela argumenta que todos esses fatores interferem na qualidade da água.

A gerente do IMA também chama a atenção para as variações de coliformes fecais [bactérias] presentes na lagoa, sobretudo durante os períodos chuvosos. “Aparecem nuances durante todo o ano muito relacionadas ao carregamento de esgoto doméstico que chega na laguna, seja através do extravasamento de fossas, de drenagem ou do carregamento que ocorre a partir das chuvas”.

Conforme informou o IMA, várias empresas que estão no município ao redor já foram autuadas por lançamentos em desconformidade para a laguna.

 

Morte do Sururu

O professor do Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (Linqa), Josué Carinhanha, declarou que os níveis de contaminantes presentes no alimento afetarão a saúde das pessoas dependendo da frequência de consumo. Segundo os cálculos feitos, seria necessário ingerir de 300 a 500 gramas de sururu para causar algum dano.

“Para as pessoas que comem como turistas e de quem esporadicamente faz o consumo, o efeito é mínimo, agora para quem come com frequência, com constância, isso pode efetivamente levar a alguma coisa. Mas também é difícil de dissociar, porque o pescador já vive naquele ambiente, faz uso e tem contato direto com a água. Então não daria para dizer que seria somente o sururu uma causa direta da contaminação da população”, explica o professor.

De acordo com o professor Emerson Soares, são vários os motivos pelo qual o sururu não consegue mais se desenvolver na Lagoa como a quantidade de poluentes e contaminantes; a quantidade de esgoto e matéria orgânica; o soterramento em períodos de chuva; a falta de alimento para o sururu e a competição com o sururu branco, uma espécie exótica.

“Quando o sururu vai morrer, ele não morre assim da noite para o dia. Nós não acreditamos que foi por alguma questão relacionada a Mina 18, porque não encontramos nenhum produto tão agressivo que pudesse matar o sururu naquele momento”, finaliza o professor.

*Estagiária sob supervisão da editoria

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