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Estudante da Ufal denuncia tentativa de homicídio dentro da residência universitária

Everlane Moraes usou suas redes sociais na última semana para denunciar a tentativa de homicídio que sofreu no dia 29/11, dentro da residência universitária da Ufal. Segundo ela, uma aluna branca teria tentado matá-la portando uma faca e ameaçou também a sua filha.

“Começamos a brigar porque ela começou a me gravar e eu não concordei. Depois disso, ela tirou uma faca do bolso calça e tentou me matar. Furou também os pneus da minha bicicleta e após isso foi esconder a faca no quarto. Desde então, ela me ameaça dizendo que isso não vai ficar assim e que se não me pegar, vai pegar minha filha, que também mora comigo na residência”, explica.

A estudante afirma que as confusões começaram há muito tempo dentro da sala de aula, pelo fato de as duas fazerem o mesmo curso no Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte. “Ela já me persegue há um bom tempo, vive me difamando, já me prejudicou em disciplinas anteriores e também já cometeu racismo, chamando outros alunos negros de mocambos e vassalos. Essa menina quer que eu faça algo para ela usar o argumento de legítima defesa. Na hora da confusão, ela não agiu no impulso de se proteger, até porque ela já estava portando a faca na hora exata”, diz ela.

A aluna negra também relata que a Ufal tem acesso às imagens da câmera de segurança da recepção da residência universitária, onde ocorreu a tentativa de homicídio, e nega a legitimidade da sua versão, não se pronunciando ou tomando as medidas cabíveis.

“Se fosse eu que tivesse feito alguma coisa com uma aluna branca, eu já teria sido expulsa da universidade, presa ou morta. Ninguém tomou nenhuma medida, uma vez que tem as imagens da câmera de segurança e estudantes como testemunhas para provar a veracidade dessa história. Eu, Everlane, estou pedindo socorro às autoridades, visto que sou do mesmo curso e ainda continuo morando no mesmo lugar que ela”.

Ainda segundo a estudante, na delegacia foi prestado falso testemunho contra ela. “A pessoa que ela levou para depor na delegacia é o companheiro dela, que não estava presente na hora da tentativa de homicídio”, denuncia.

Por último, Everlane afirma que é a primeira e única mãe solo a morar com a filha na residência universitária e que não tem para onde ir. “Sou filha de uma ex-canavieira, estou aqui quebrando as estatísticas do meu povo e da realidade de miséria que já passei. Sigo resistindo em meio ao caos e tentando não morrer. A Ufal está esperando alguém morrer dentro dessa residência, é um absurdo ainda termos que lidar com racismo e outros tipos de preconceito aqui dentro. Só tem punição para os que não têm privilégios”, finaliza.

A acusada

O Eufêmea entrou em contato com a estudante acusada de racismo e tentativa de homicídio por Everlane e ela preferiu ser identificada apenas por “BSO”, por estar sendo perseguida e sofrendo retaliação dentro da universidade.

BSO afirma, em entrevista, que no dia 29/11 agiu por legítima defesa e que furou os pneus da bicicleta da estudante, porque ela tentou fugir da residência. “Ela colocou três travestis na porta do meu quarto para me ameaçar, no dia em que entramos em luta corporal. Tá tudo gravado, eu agi por legítima defesa. Eu não ataquei ela, eu me defendi. Não tem um ferimento no corpo dela, se eu quisesse ferir, tinha ferido. Sobre os pneus da bicicleta, eu realmente furei, porque ela quis se evadir do local quando a polícia já tinha sido acionada”, alega a estudante.

A acusada ressalta que há oito meses está sendo perseguida e ameaçada, e que agora, está sendo hostilizada, porque foi difamada dentro da residência universitária e junto aos colegas de curso. “Venho sendo hostilizada todos os dias, estou sendo ameaçada e perseguida por essa pessoa que se diz vítima. Ela já me agrediu duas vezes dentro da residência, tenho seis boletins de ocorrência contra ela, por ameaça, calúnia e difamação, e vias de fato, onde ela me desferiu uma cotovelada e um tapa na cara. Tenho corpo de delito e várias testemunhas. Eu não mexo com rede social, eu mexo com o jurídico que é a via legal. Tá tudo documentado na defensoria pública do estado, na esfera criminal e no âmbito federal na Ufal”, afirma a aluna.

BSO relata que a primeira discussão começou em sala de aula, quando ela disse que não se via como uma mulher branca. “Ela não deixou nem eu concluir o raciocínio, disse que se eu falasse isso na UFBA, eu seria expulsa da sala e que apanharia. Minha vida virou um inferno depois disso. Eu sou fruto de um relacionamento birracial, minha mãe é negra e meu pai é branco. Sempre me declarei parda, tenho consciência de raça e classe”, diz ela.

Segundo a aluna, a Ufal propôs reunião de conciliação, mas Everlane não esteve presente. Ela também espera por uma comissão para avaliar o caso. “Eu não me utilizo de pautas para favorecimento próprio. As pautas são de extrema importância e devem ser usadas de forma ética e responsável, não segrega e incrimina pessoas injustamente, como eu que sou aliada à luta”.

Ela ainda finaliza, dizendo que gostaria que a Ufal resolvesse o caso: “Eu gostaria muito que a Ufal tomasse as devidas providências. Se assim tivesse feito, não teria chegado no patamar que chegou. Tá um jogo de empurra, empurra e não querem solucionar”.

O que diz a Ufal

Em nota, enviada ao Eufêmea, a Universidade Federal de Alagoas esclarece que um processo administrativo já tinha sido aberto antes mesmo da tentativa de homicídio do dia 29/11, a fim de apurar os conflitos, iniciados em sala de aula, entre as alunas da residência universitária. Ainda segundo a Ufal, a Pró-reitoria Estudantil também já se reuniu com cada uma das alunas separadamente, orientando para que elas evitassem novos conflitos, e propôs uma audiência de conciliação, que não foi realizada pela recusa da participação de uma delas.

A Pró-reitoria também ofereceu possibilidades de concessão de auxílio moradia e manutenção das refeições no Restaurante Universitário para quem decidir sair da Residência Universitária. “Estamos buscando resolver esse problema da melhor maneira possível e aguardando a constituição de uma comissão de sindicância com a participação de membros do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte, ao qual o curso das estudantes está vinculado”.