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Paratletas driblam fome, vencem São Silvestre e só ganham troféus

Vencedores de várias competições, alagoanos sobrevivem com salário mínimo e almejam conseguir patrocínio

Vencedores da São Silvestre de 2021 e 2022, primeiro e segundo lugares, os atletas paralímpicos Carlos Antônio Guedes do Nascimento, casado, dois filhos, e Givaldo Augusto dos Santos, casado, são dois exemplos de superação. Diariamente eles driblam a fome, lutam contra o preconceito, a falta de patrocínio das empresas e se destacam com vitórias internacionais, nacionais e regionais.

Eles conseguiram colocar Alagoas no pódio mais alto da última prova da São Silvestre, dia 31 de dezembro de 2022, conquistando o 1º e o 2º lugares na categoria deles. Receberam ajuda de custo do governo estadual que bancou as passagens e as estadias. Financeiramente não ganharam nada. Agora, lutam para conseguir um patrocínio regular para ter condições de comprar alimentação destinada a atletas.

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Carlinhos, como é mais conhecido foi o paratleta mais rápido da São Silvestre, com o tempo de 54 minutos num percurso de 15 quilômetros. Em 2021, ficou em segundo lugar na mesma prova de rua de São Paulo, que reúne atletas, paratletas de diversos países e com equipamentos mais modernos. Outro fato que chama a atenção é que, apesar dos “excelentes” desempenhos nas competições internacionais e nacionais, os dois atletas paralímpicos alagoanos não ganham nenhum tostão dos organizadores das provas. “Ganhamos apenas troféus”, dizem.

Eles revelaram que se fossem atletas convencionais, teriam faturado a premiação financeira da São Silvestre. O campeão da elite masculina este ano foi Andreu Kwemoi, de Uganda, que ganhou R$ 54 mil, além de contratos com empresas interessadas em patrociná-lo.

Os atletas paralímpicos lamentam o fato de que, na maioria das competições de Alagoas, praticamente não há participação de paratletas, por falta de interesse dos organizadores. Eles acrescentaram que os organizadores das competições defendem a inclusão social, mas ignoram os atletas portadores de deficiência.

Carlos mora no município de Rio Largo, região metropolitana de Maceió, e o amigo Givaldo, no bairro do Benedito Bentes, periferia da capital alagoana. Entre os troféus conquistados, Carlos venceu a maratona internacional de João Pessoa-PB, conquistou também o primeiro lugar na maratona de 42 quilômetros de Salvador-BA. Na maratona de Sergipe, ganhou R$ 500 como ajuda de custo, por ter vencido a prova. O fato é que os dois alagoanos colecionam dezenas troféus e medalhas.

HISTÓRICO DE SUPERAÇÃO

Vítima de um acidente de trabalho em 2006, Carlinhos achou que a vida teria chegado ao fim para ele. Incentivado por amigos e pela família, em 2007 iniciou no esporte paralímpico na modalidade de basquete com cadeira de rodas. Em 2017, entrou em outra atividade, também vitoriosa: a corrida com cadeira de rodas. Soma mais de dez medalhas e troféus com competições nacionais, internacionais e, nem assim, consegue despertar a atenção de empresas que patrocinam clubes e atletas.

Aposentado, tem como rendimento um salário mínimo de R$ 1.302/mês. Com o dinheiro mantém dois filhos (de 13 e de 6 anos de idade) e paga a prestação de casa própria comprada pelo sistema de financiamento da Caixa Econômica Federal, que atende quem tem rendimento baixo. “Tem mês que a gente tem dificuldades com a alimentação”, admite.

Para poder participar das competições de corrida conseguiu uma cadeira de rodas de alumínio, em 2019. O equipamento custou de R$ 15 mil a R$ 20 mil. Ele conseguiu comprar com ajuda da Secretaria de Estado da Mulher, que tinha um setor que ajudava e assistia socialmente os portadores de deficiência. O equipamento que utiliza pesa mais de 10 quilos e está superado. “Eu participo de competições com outros atletas que competem com cadeira mais leve, de fibra de carbono. Mesmo assim, a gente tem superado essas barreiras e chegado ao pódio”.

Carlinhos revelou, ainda, que, para impedir que os pneus especiais da sua bicicleta furem, ele improvisou uma espécie de capa dura.

TREINAMENTOS NA UFAL

Os treinamentos ocorrem na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) ou nas ruas de Maceió, nos trechos reservados para ciclistas. Sem segurança, os treinos são um desafio superado diariamente. Segundo ele, várias vezes tem conseguido escapar de acidentes com os carros e da violência na periferia.

“Certo dia estava treinando na via próxima à Ufal, quando consegui escapar do ataque de duas pessoas. Se eles tivessem levado a cadeira seria o fim da minha atividade de atleta. Não tenho como comprar outra cadeira como essa. O meu rendimento mensal, mal dá para comer e manter as necessidades da vida de atleta”, destacou Carlos.


				
					Paratletas driblam fome, vencem São Silvestre e só ganham troféus
Paratletas passam dificuldades e desejam conseguir patrocínio. Arnaldo Ferreira

SUPERANDO AS LIMITAÇÕES

Carlos Antônio Guedes ainda defende que o esporte paralímpico deveria ter uma atenção especial. “Hoje, os clubes conseguem patrocínio para atletas convencionais. Penso que está na hora de as empresas, os clubes e os patrocinadores de competições esportivas premiarem financeiramente também os paratletas. Não é fácil participar das competições. Precisamos superar as nossas limitações físicas e a falta de incentivo”, destacou.

“Alimentação balanceada e suplementos específicos para atletas de grande rendimentos, nem pensar”, acrescentou o atleta paralímpico, ao justificar que precisaria, pelo menos, de mais um salário mínimo para custear as despesas com alimentação específica.

Os treinamentos dos atletas são supervisionados pelos profissionais da Associação dos Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal), que não cobram nada. Para participar das competições, o paratleta alagoano é obrigado a fazer peregrinações por empresas e órgãos públicos e revela que tem conseguido apoio do governo estadual.

SUSTENTADO PELA ESPOSA

Vítima de um acidente doméstico em agosto de 2000, depois de cair de uma altura de cinco metros, Givaldo Augusto, o outro alagoano que venceu a São Silvestre, ficou paraplégico. Ele demorou muito a encontrar no esporte um meio de vida capaz de ajudar na superação das dificuldades do cotidiano.

Givaldo revelou à Gazetaweb que recebia a ajuda de um salário mínimo como Benefício de Prestação Continuada da Previdência Social. Disse, no entanto, que perdeu o benefício quando a mulher dele conseguiu um emprego (de R$1,5 mil).

“Cortaram meu benefício. Estou recorrendo. Hoje sou sustentado por minha mulher”, lamentou o atleta paralímpico.

NÃO VÃO DESISTIR!

Os dois paratletas vão tentar se inscrever na Secretaria de Esporte do Estado, com o objetivo de ganhar a bolsa atleta, de um salário. As inscrições não foram abertas ainda. Mas eles vão continuar batendo à porta das empresas e das instituições.

Em maio, haverá a maratona do Chile e eles estão pretendendo disputar. “A gente vai tentar participar desta competição. Estamos treinando duro, mas o problema é o de sempre: a falta de patrocínio”, disseram os dois atletas alagoanos, que não desistem nunca!

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